— Tia Clarke, tia Clarke, faz o meu! — Courtney pulava para cima e para baixo, abanando uma folha branca na frente do meu rosto.
— Você é a próxima — falei. — Deixe eu terminar o do Kevin. — Examinei o rosto gordinho do outro lado da mesa de desenho, tão angelical, mas com um brilho demoníaco nos olhos. A boca não estava certa, o lábio superior ficou torto.
— Tia Clarke, tia Clarke.
Judy colocou a mão no meu ombro.
— Está formando uma fila.
Olhei de lado para Courtney, depois atrás dela, onde havia um monte de crianças pegando folhas brancas de papel, tão rápido quanto a sra. Ruiz conseguia rasgá-las do bloco.
— Está muito bom, Clarke — Judy disse, observando meu desenho. — Não sabia que você era uma artista.
— Nem eu — admiti.
— ‘Xa’ ver. — Kevin puxou a folha, que estava debaixo da ponta do meu lápis, e segurou em frente ao rosto. Abaixou. Os olhos dele ficaram grandes como um par de waffles. — Ah, legal! — Ele gritou. Isso me fez rir. Fez Judy rir também.
— Próxima vítima — chamei.
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Mamãe estava no porão, passando roupas, quando flutuei pelas escadas abaixo. Levantei Madi da cadeira de bebê e brinquei com ela no ar. Ela soltou gritinhos. Mamãe franziu o cenho para mim. Uh-oh.
— Olhe isto — ela rosnou, esticando uma das camisetas pretas da Octavia. DANTE estava inscrito como um brasão entre línguas de fogo. Nas costas, lia-se:
Não existe luz, senão do céu sereno e imperturbável. O resto são trevas ou sombra da carne, ou seu veneno. (Paraíso)
Mamãe perguntou:
— O que isso quer dizer?
— Não faço a menor ideia — falei.
— É obsceno. — Ela fez uma bolinha com a camiseta e jogou-a no lixo. — Queria que você conversasse com ela, Clarke. Diga como fica ridícula. Arranque-a de uma vez dessa onda gótica. Isso não é normal.
— Não posso. Nós não habitamos o mesmo planeta.
Mamãe balançou a cabeça.
— Não consigo nem imaginar o que as pessoas pensam dela. Não fazem pouco dela na escola?
— Na verdade, não. — Porque temos aquelas políticas antibullying que nutrem a paz e o amor em nossos corações.
Mamãe prosseguiu:
— Ela parece uma personagem de filme B com toda aquela maquiagem e aquelas roupas.
Bufei um pouco.
— Não, não parece. Ela só está se expressando. Este é um país livre. — Não me pergunte por que eu estava defendendo Octavia.
— O Kane fica constrangido até de levá-la para visitar os avós. Ele acha que o pai dele vai ter um derrame se vir a Octavia entrando em casa parecendo a morte encarnada.
Já estava na hora de mudar de assunto.
— Posso jogar meu maiô na secadora? — Acomodei Madi na cadeirinha e retirei dois maiôs pegajosos da mochila, com a toalha encharcada que os envolvia. Lancei tudo na máquina, depois levantei a cadeira de bebê e levei-a para o meu quarto.
Mamãe apareceu alguns minutos depois. Ela pousou uma pilha de roupas limpas ao lado da minha cama e falou:
— Tomei a liberdade de responder ao convite para o jantar com o governador.
— Mãe. — Me arrepiei. — Eu ia fazer isso.
— Quando? Uma semana antes do jantar?
Não, na mesma tarde.
— Espero que em março você já saiba em que universidade vai estudar ano que vem. Tenho certeza que o governador vai perguntar.
Ele também? Não havia mesmo escapatória.
Mamãe parou na entrada.
— Acho que eu devo avisar: a Octavia vem hoje à noite e vai passar o resto da semana aqui. A mãe dela precisa viajar a negócios. — Mamãe se demorou, examinando meu quarto. — O Kane e eu estamos pensando em transformar o porão em um escritório durante o verão. Colocar uma mesa com um computador. Precisamos fechar o espaço da Octavia talvez mudar a cama dela pra cá. Ou então trancá-la aqui dentro. — Ela sorriu. — O que você acha?
Fiquei piscando.
— Acho que quando eu estiver de saída é bom não esquecer de bater a porta atrás da minha bunda.
— Ah, Clarke. — Ela riu de mim. — Você leva tudo tão a sério.
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Eu não queria ir sozinha à apresentação da Clarke e não estava a fim de chamar o Finn. Liguei para a Josie.
— Ei, Clarke! — Ela soava animada. — Estou feliz que você ligou. Senti sua falta no almoço.
— É, o Finn e eu estávamos planejando a conferência sobre liderança. — Sobre a qual eu não queria nem pensar. — Como você está?
— Bem — ela falou. — A gente não conseguiu mais conversar. Lembra quando dormíamos uma na casa da outra todos os fins de semana? A gente nunca mais fez isso.
— Eu sei. Deveríamos.
— A Ontari vai vir aqui mais tarde pra eu cortar o cabelo dela. Se você vier também, vocês poderiam passar a noite aqui, já que a gente não tem escola amanhã.
— Não posso. Estou… ocupada. — Droga. Não podia convidar as duas. De qualquer forma, não acho que eu convidaria Ontari. Não era minha pessoa favorita nos últimos tempos. — Só liguei pra dar um oi. Ver como você está. Ops, minha bateria está acabando. Não tô conseguindo te ouvir. Ligo pra você amanhã. — Desliguei. Droga. Agora eu tinha que ir sozinha.
Caí na cama, observando meu guarda-roupas. O que alguém veste para ir a uma performance artística? Ouvi Octavia chegar, a mala dela se arrastando pelo chão. Ela suspirou de desgosto.
— Ei, Octavia. — Levantei em um impulso. — Quer vir a uma apresentação de arte performática comigo esta noite? — Contornei a divisória, entrando no espaço dela. Parecia que ela estava sendo estrangulada por uma sucuri, de tanto que seus olhos saltaram.
— Tá brincando? — A voz dela embotou. — Ou foi sua mãe que obrigou você a isso?
— Não. Ela não sabe disso. Tenho dois convites, então pensei que eu e você podíamos…
— E onde está o Finn? — Ela perguntou.
— Ocupado — menti. — Está todo mundo ocupado. — Fiz parecer que ela era minha última escolha? Fiz. — Tudo bem, é que eu não queria ir sozinha — confessei. — Quero dizer, eu poderia, mas… — Sorri, tímida. — Sou covarde, detesto fazer as coisas sozinha. Se você não quiser ir, tudo bem. — Voltei para o meu espaço rezando, por favor, por favor, diga que vem comigo.
— Tudo bem — ela disse. Refiz o caminho até o espaço dela.
— Você já assistiu a uma apresentação dessas?
— A.P.? — Ela mordeu o dedo mindinho. — Sim, várias vezes. — E cuspiu a cutícula.
— Então, que roupa eu devo vestir?
A expressão dela não mudou.
— Coisas góticas — falou. — Vou te emprestar um crucifixo.
Eu a encarei por um momento, depois caí na gargalhada. Ou ela era a pessoa mais engraçada da face da Terra ou então eu estava descontrolada.
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Continua...
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Não conte nosso segredo
FanficCom o namorado dos sonhos, o cargo de Presidente do Conselho Estudantil e a chance de ir para uma Universidade de Ivy League, a vida não poderia estar mais perfeita para Clarke Griffin. Ao menos, é o que parece. Até que Lexa Woods chega na escola e...