Ela estava encolhida na porta da loja, a lâmpada halógena projetando raios irregulares sobre o rosto dela.
— Desculpa — nós duas dissemos juntas enquanto ela entrava no jipe e trancava a porta. Isso nos fez rir um riso nervoso.
— Do que você está se desculpando? — Ela perguntou.
— Porque atrasei. Eu não esqueci. Eu dormi.
Ela se inclinou por cima do banco e me beijou. Eu a beijei também. Não queria soltá-la.
— Tem um café vinte e quatro horas no final da rua — Lexa falou. — Podemos conversar lá.
Eu a soltei, relutante.
— E por que você se desculpou? — Perguntei, engrenando a marcha a ré e fazendo o caminho reverso no beco.
— Por hoje — ela respondeu. — Não consigo acreditar que tratei você daquele jeito. — Ela alcançou minha mão no meu colo e a segurou. — Me perdoa?
— Claro. — Como não perdoaria?
— Isso vai ser difícil na escola. Vire à esquerda, aqui.
Segui as coordenadas dela até o café, o Blue Onion. Ao chegarmos, desliguei o motor e ficamos ali, no estacionamento. Me detive segurando a mão dela sobre minha perna, sentindo o calor dela irradiar através de mim. Ela levantou minha mão e beijou os nós dos dedos.
— Vem. Vamos conversar. — A porta dela rangeu, abrindo-se.
Apenas uma mesa estava ocupada. Três mulheres com uniformes hospitalares, que pareciam ter acabado de chegar do trabalho, estavam tomando o café da manhã. Lexa perguntou à garçonete se poderíamos ocupar uma cabine nos fundos, e nos sentamos de frente uma para a outra. Ela colocou os cotovelos sobre a mesa e esticou as mãos. Entrelacei meus dedos nos dela. Adorava as mãos dela. Tão fortes e macias. Adorava todos aqueles anéis.
— O que vocês vão querer, garotas? — A garçonete perguntou.
— Café preto — Lexa respondeu, sem desviar os olhos dos meus. — Acho melhor fazer o descafeinado.
— E o meu vai ser chocolate quente. — Sorri para a garçonete.
— Já trago.
Ela saiu e Lexa falou:
— Amo você.
— Mesmo? — Depois de hoje eu não tinha tanta certeza.
— Não. — Ela balançou a cabeça. — Não, eu só levanto todo dia na porra da madrugada pra fingir que estamos tomando café da manhã juntas em frente aos nossos armários. Eu nem sequer tenho aula às sete, desisti no primeiro dia.
— O quê?
— Depois eu tenho que arrastar minha bunda por três lances de escada pra passar por você no corredor entre o terceiro e o quarto períodos. E eu fico parada na frente do banheiro do estúdio de arte pra ver você passar no corredor. Chego atrasada à aula de matemática todo dia. Eu amo o jeito como você se move, aliás. — Ela me olhou de cima a baixo. Depois os olhos dela ficaram mais sombrios e ela acrescentou: — Tentei subornar aquele idiota do Murphy pra mudar de lugar comigo, mas ele é muito a fim de você.
— Você subornou o Murphy? — Deixei escapar uma risada. — Com quanto?
Ela bufou.
— Vinte paus. Eu disse que, se não fosse o bastante, eu fazia sexo com ele. Mas mesmo assim ele não quis sair do lugar.
Caí na gargalhada. Ela soltou nossas mãos para contar nos dedos:
— Vejamos. Eu vou até o Chalé das Crianças depois da aula pra ver se você ainda está lá, se consigo ver você na janela. Passo diante da sua casa quando vou pra escola. Às vezes, da biblioteca, eu vejo você e os outros saírem para o almoço. Umas duas vezes eu até segui você pra descobrir o que você gosta de comer. Só pra saber, se alguma vez, se alguma vez, eu fosse sair com você… — Ela parou e desviou o olhar para longe. — Mas era duro demais ver você com ele.
— Tudo bem, para. — Eu tinha um nó na garganta do tamanho de um abacaxi.
Por sorte a garçonete trouxe nossas bebidas, então tive alguns instantes para me recompor. Meu Deus, ela se sentia do mesmo jeito que eu. Total e descaradamente apaixonada. Levantamos nossos copos em sincronia e estudamos uma à outra. Lexa abaixou o copo dela primeiro.
— Não podemos ficar juntas na escola, Clarke. Nem em qualquer lugar onde as pessoas nos conheçam. Conheçam você.
Soprei a xícara de chocolate quente e franzi a testa.
— Por quê?
— Porque não quero que você passe por toda aquela merda.
— Mas…
Ela levantou a mão.
— Você não sabe como é. O que aconteceu nos armários foi um incidente menor. Tudo bem, se qualifica como um crime de ódio, mas não custou nada. Não como os pneus furados.
Meu queixo caiu.
— Alguém furou seus pneus? Quem? Foi isso que aconteceu no estacionamento da escola?
— Na escola. No shopping. Em vários lugares. Esse tipo de coisa dá pra consertar. São as outras coisas, quando cochicham às suas costas, riem na sua cara, como se você não tivesse sentimentos. Quer saber quantas vezes sou chamada de “sapatão” todo dia? Vixe, eu não sei. — Ela inclinou a cabeça. — Perdi a conta. Mas os piores são os que te dão aquele olhar, sabe… — E balançou a cabeça. — Existe ódio demais nas pessoas. Isso me assusta, ok? Tenho muito medo de agressão física. Aquele dia na máquina de refresco? Meu Deus, aquilo me traumatizou. Isso não significa que eu vou deixar o medo me controlar, ou que eu vá ter medo de ser quem eu sou. Tenho orgulho de ser gay. Mas levei muito tempo pra conseguir chegar até aqui. E eu tenho que enfrentar um monte de merda. E não consigo suportar a ideia de que você vai passar por isso, por qualquer uma dessas coisas. — A voz dela sumiu de repente.
Estiquei a mão e acariciei um anel no dedo indicador. Prata, gravado com um padrão em ziguezague.
— Eu aguento, Lexa.
— Bem, eu não — ela retrucou. — Olha. — Virou as mãos e segurou as minhas entre as suas. — Você tem só mais dois meses antes de se formar, certo? Depois vai pra longe de todo mundo que você conhece. Não que a sociedade seja muito melhor, mas é mais fácil ignorar as pessoas quando elas são estranhas. Além disso… — Ela correu os polegares pelos meus. — Não acho que você entenda todas as consequências da sua decisão.
— Não foi uma decisão. Eu sou assim.
— Que seja. Você ainda não aceitou o que significa ser lésbica.
Lésbica? Era isso o que eu era? Ainda não havia pensado sobre uma nova identidade. Um rótulo. Tudo o que eu sabia era: eu a amava. Ela sondou meu rosto, meus olhos.
— Tem muita coisa que você precisa processar, Clarke. Confie em mim. A verdade vai desabar sobre você.
Desabar sobre mim. Imaginei me tornar o alvo de todos aqueles psicopatas, senti a verdade do conhecimento e da experiência dela se infiltrar em mim. Lexa e eu ficamos respirando fundo e expirando. Ela recolheu as mãos e, com o dedo indicador, circulou a borda do copo.
— Detesto dizer isso, mas, se você se assumir agora, em público, imagine o que vai acontecer com o Finn.
Finn. Como eu podia ser tão insensível? As pessoas seriam cruéis. A família dele, os amigos. Coop.
— Você tem razão. — Meneei a cabeça. — Está certa. — Recostei-me no banco e cruzei os braços. Ele não merecia isso. Meu amor por ela não tinha nada a ver com ele.
— Promete que não vai contar pra ninguém? — Lexa falou. — Não agora, pelo menos?
Olhei nos olhos dela… seus olhos preocupados, em pânico. Entendi completamente o ímpeto dela em me proteger. Eu nunca, jamais queria vê-la magoada novamente.
— Prometo.
— Bom. — Ela suspirou aliviada. Levantando a xícara, fez menção de beber e sorriu para mim. — Até lá — falou —, enquanto o momento não chega, você é meu segredo.
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Acabei de ver que a história já está com 1K de visualizações e eu só queria agradecer a todo mundo que ta acompanhando a história, principalmente quem ta aqui desde o começo, vocês são fodas ❤️
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Não conte nosso segredo
FanficCom o namorado dos sonhos, o cargo de Presidente do Conselho Estudantil e a chance de ir para uma Universidade de Ivy League, a vida não poderia estar mais perfeita para Clarke Griffin. Ao menos, é o que parece. Até que Lexa Woods chega na escola e...