Capítulo 35.

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Mergulhei na extremidade mais funda, deixando-me afundar na água. Livre-se. Coloque para fora. Faça ir embora. O esconderijo, o segredo, isso estava me rasgando ao meio. Por que tinha que ser assim? Por quê?

Meus pulmões estavam prontos para explodir enquanto tomava impulso e irrompia pela superfície. Depois nadava, voltas e mais voltas, tentando soltar, expurgar, libertar. Libertar-me.

Estavam errados quando chamavam isso de “estar no armário”. Era uma prisão. Confinamento em solitária. Eu estava trancada do lado de dentro, dentro de mim, no escuro, com medo e sozinha.

Enquanto me arrastava pelos degraus da Taggert House, encontrei Lexa encolhida diante da minha porta, com um pote de tupperware equilibrado sobre os joelhos. Ela se ergueu e sorriu:

— A especialidade da Indra. — Ela esticou o pote para mim. — Canja para aquecer o espírito.

Eu não acreditava que essa sopa pudesse salvar a minha alma devastada. Lexa pendurou a mochila no ombro e me seguiu para dentro. Deixei minhas coisas caírem no chão e coloquei o pote com a sopa no micro-ondas. Ela deve ter previsto minha implosão iminente, porque não perguntou.

A sopa era reconfortante, ou talvez fosse a paz que eu encontrava em Lexa. Comemos direto do pote, na mesa velha. O último macarrão foi sugado em dupla e beijado no fim. Lexa lavou o pote e os talheres, depois resgatou a sua pasta de vida independente — aquela disciplina inútil que eu devia ter escolhido —, chutou os sapatos para longe e espalhou a lição de casa sobre a cama.

Agora, o silêncio dela me afligia. Levantei e fui em direção ao guarda-roupa.

— Conhece alguém que precise de um vestido de formatura? — Puxei um dos sacos de lixo encostados no canto. No fundo, estava o vestido que Mamãe havia encomendado de um catálogo. Era um vestido tomara que caia verde-água, no qual eu tinha uma imensa vontade de tacar fogo. Ainda mais agora. Joguei o saco sobre a cama.

Lexa levantou o rosto para mim, um pouco receosa, e abriu o saco. Ela tirou o vestido e arfou. Esticando-o sobre a cama, ela alisou o corpete e disse:

— Tudo bem, fala comigo. O que foi que aconteceu hoje?

— Hoje, ontem, amanhã — rebati. — Que parte da minha vida não é uma droga?

Os olhos dela se arregalaram.

— Desculpa — falei, me acalmando. — É só que… tudo virou um inferno.

— O que quer dizer?

Contei a Lexa sobre minhas mentiras para Josie, o modo como todos olhavam para mim, a reunião do Conselho Estudantil, Finn me tratando como lixo, Ontari me confrontando no banheiro. Tudo.

— Ela me chamou de… — minha voz vacilou — sapatão.

— Ah. — Lexa fez uma careta. — Melhor se acostumar com isso. A melhor coisa que você pode fazer é se chamar de sapatão. Sapata, cola-velcro, fanchona. Todas as palavras que usam pra te odiar, você pode usar pra se divertir. Reivindique-as. De modo que elas não possam ser usadas contra você.

Usadas contra mim. Eu nunca fui chamada por apelidos antes… pelo menos, não na cara dura. Nunca havia percebido o quanto eles machucam. Num nível pessoal.

— O que foi que eu fiz pra ela? — Fiquei imaginando em voz alta. — Pensei que a Ontari fosse minha amiga.

— Lição número um — Lexa falou —: você nem sempre pode confiar nos amigos. Lição número dois: você não precisa fazer nada pra ser odiada por ser gay.

Essa era a verdade que eu estava descobrindo.

— Mas esse problema é deles, Clarke. — Os olhos dela encontraram os meus. — Não é seu. Lembre-se disso.

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