Capítulo 36.

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Lexa me comprou uma camiseta. Dizia: NINGUÉM SABE QUE SOU LÉSBICA. É, eu estava saindo do armário, mas também não tinha toda essa coragem. Por que não fazer um anúncio? “Atenção. Acabamos de receber uma confirmação. Clarke Griffin é oficialmente lésbica.” Não. Eu queria fazer isso do meu jeito. Uma pessoa por vez. Aquelas que precisavam e mereciam ouvir de mim.

Liguei primeiro para Josie:

— Preciso conversar com você — falei. — Quero dizer, se você ainda quiser conversar comigo.

Ela não respondeu. Morri um pouco por dentro. Era tarde demais.

— Vamos nos encontrar na casa do clube.

— Na ca… ah, certo. — Se é que eu lembrava onde isso ficava. — Quando?

— Estou ocupada demais nesta semana — ela falou.

Ai. Eu merecia isso.

— Que tal no sábado?

— Tudo bem. — Eu ia ficar louca esperando até sábado, mas o que podia fazer? Deveria estar agradecida por ela aceitar me ver depois de tudo. — A que horas?

— Não sei. Por volta das quatro?

— Da manhã?

— É, isso. Vista o seu pijama e traga uma lanterna. — Ela estalou a língua. Mas também havia um sorriso em sua voz. Meu coração cantarolou.

— Estarei lá.

— Você promete, desta vez?

Fechei os olhos com força.

— Prometo. Estarei lá.

Desligamos. O sábado estava a uma eternidade de distância. Eu não podia adiar a conversa com Murphy por uma semana. Não aguentava viver sabendo que feri os sentimentos dele, e que ele basicamente me detestava agora. Não podia esperar, sabendo que era capaz de consertar isso.

Lexa me ajudou a escrever uma carta. Expliquei a Murphy como eu havia acabado de me dar conta de que sou gay e estava tentando aceitar. Que o fato de eu recusar o convite dele, não tinha nada a ver com ele ou com quem ele era. E que eu realmente me senti lisonjeada quando ele me convidou para ser seu par no baile de formatura.

Assinei: “Sinceramente, Clarke (a do peru) Griffin”.

Eu estava apavorada com a ideia de entregar essa carta a ele. Não ajudou nada Lexa ter avisado: “Você nunca sabe como as pessoas vão reagir”. Eu achava que conhecia Murphy, mas é possível conhecer de verdade uma pessoa?

O medo era paralisante. A aula de artes estava quase no fim e a carta ainda jazia debaixo do meu caderno de desenho. Agora ou nunca. Fingindo que precisava apontar meu lápis, caminhei até a mesa do Murphy na frente da sala e deixei o envelope cair na sua prancheta, depois voltei para o meu lugar.

Lexa virou-se para me olhar. Apertou um punho sobre o coração.

Meu coração estava pulsando nos ouvidos. Observei Murphy abrir o envelope, tirar a carta e desdobrá-la. Ele leu e depois dobrou de novo. Permaneceu ali, fitando a lousa. Ele não se importou. Ele me odiava. Sem aviso, a cadeira dele caiu, assustando todo mundo. Ele recolheu suas coisas e se colocou a caminho do fundo da sala, atraindo a atenção de Jaha com todo aquele barulho. Murphy deslizou para o assento ao meu lado e disse:

— Yo.

Foi a palavra mais doce que já ouvi.

— Yo pra você — respondi, minha garganta apertando. Então, ele fez uma coisa bem esquisita. Passou um braço pelos meus ombros e deu um apertão de um jeito fraterno. Meus olhos desviaram para Lexa, que cobriu a cabeça com os braços sobre a mesa, tentando sufocar uma risada.

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