06 - Ensinamentos

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Matei os desgraçados

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Matei os desgraçados. O Cristian está encolhido atrás de uma pilastra. Encosto nele, mas o mesmo recua um pouco. Sento ao lado dele, não digo nada. Ainda estou me recuperando do coice que levei no peito. Deito a minha cabeça no ombro do Cristian, que treme. Talvez com medo de mim. Eu nunca teria coragem de machucá-lo.

Os últimos dias têm sido uma montanha russa de emoções. Cheguei na Vila de São Jorge, sem qualquer resquício de memória. Em seguida, conheci melhor o Cristian e a maneira como as coisas funcionavam na minha casa provisória. Porém, o ponto de guinada veio com a missão que fiz ao lado do Coronel Afonso.

De acordo com o Coronel, homens de uma facção estão rondando a região e roubando os poucos recursos. Fizeram até um desvio no único rio do local. Encontramos um comboio indo em direção ao vilarejo, mas conseguimos eliminá-los. Realmente, sou uma arma de guerra. Mas, o Cristan traz o melhor de mim. Ele não sabe a influência que exerce sobre mim.

— Sinto muito. Você não deveria ter visto isso. — falo, quebrando o silêncio entre nós.

— Eles iam matar a Luna. Obrigado. — agradece Cristian, fazendo carinho na minha cabeça. — Deixa eu ver você.

— Estou bem. — disse, mas ele não acreditou em mim e me fez tirar a camisa. — Eu estou acostumado, Cristian. Foi só um baque. — busco diminuir a dor que sentia.

O meu peito estava roxo e com as marcas das ferraduras do cavalo. O Cristian pega uma garrafa de água e molha o meu peitoral. Suas mãos estão frias e trêmulas. Quando se trata dele, eu me transformo em uma criança mimada. Será que o que vivemos é tão errado assim? Será que na sociedade antiga, os gays eram tratados dessa maneira? São tantas perguntas.

— Adam, o que vamos fazer com os corpos? Não podemos deixá-los assim. — Cristian questiona passando a mão no meu peitoral.

— Podemos enterrá-los em algum jardim. Eu fiz a bagunça, eu cavo o buraco. — solto, sendo repreendido por ele, que dividiu a culpa pelos assassinatos, o que me fez rir.

Não caçamos naquele dia. Passamos parte do tempo cavando as covas para os homens. O Cristian insiste em fazer uma prece para eles. Eu não creio que seja uma pessoa religiosa. E nem Cris deveria ser, mas ele age dessa maneira, ele age com empatia e misericórdia.

Nem preciso dizer que estou acabado. Os meus músculos estão doloridos e o peito latejando. Passo unguento para aliviar a pressão do coice, enquanto o Cristian prepara o "jantar": milho com batata. Fazemos tudo em silêncio. Acho que precisamos de espaço para digerir toda a situação com os homens mortos por mim.

O sol começa a se pôr no horizonte. Não temos resquícios de luz natural, por esse motivo, corremos até um córrego próximo para tomar um banho. A água parece cheia de facas, o queixo treme e o corpo não dá conta, entretanto, a higiene é necessária, ainda mais depois de cometer assassinato.

Amor em Tempos de ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora