capítulo 10-Beijar garotas

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Mille Taliça

Solto a fumaça pela boca, logo depois, bebendo o líquido transparente e amargo em minha garrafa.
O avião já teria levantado pouso, estaria na cadeira, afastada de Kardama, estar em um avião, sozinha com ela, era arriscado demais e assustador, assustador como ela conseguia me intimidar. Assustador como sua presença poderia ser tão homogênea, digo isso, uma hora ela poderia derreter e em outra, ela poderia se tornar sólida. Como se ela fosse indescritível, era impossível adivinhar o que ela estava pensando ou como seria seu próximo passo. Deve ser por isso que Jhon a escolheu. Intimidadora e misteriosa, um pouco tanto quanto vaidosa. O aliado perfeito.
Me levanto, indo até o banheiro, e quando me sento sobre o vaso, respiro fundo. Colocando as mãos sobre meu rosto, torcendo para que essa viagem nunca acabe, que não corra nenhum risco, que possa continuar aqui, sem precisar me casar. Temendo o que meu pai possa fazer a respeito. Temendo que Oliver seja morto por sua covardia e impaciência. Sabendo que seria arriscado usar cigarro e beber bebidas alcoólicas carregando uma criança em minha barriga mas afinal, eu nem queria. Nunca desejei ser mãe, e agora que isso está prestes a acontecer, parece inoportuno, uma ofensa, imaginar que seria apenas mais uma Taliça, como minha mãe, que futuramente se tornaria uma mãe, limparia a bagunça de seus filhos, enquanto seu marido a traísse e a tratasse como um resto de carcaça. Se bem que, poderia me comparar a tal, uma assassina que obedece somente ao que os outros ordenam, seguidora fiel de uma família criminosa, com um currículo sujo, uma herança farta. Afinal, eu tinha tudo que queria mas mesmo assim, escolhi cortar gargantas e acertar corações, porque é isso, isso que me faz viva. A única coisa que alguém nunca poderia me cobrar, a ser assassina, a matar. Optar por matar nunca foi de fato uma obrigação, mas sim uma escolha. Pela qual futuramente, talvez me arrependa, mas por agora, me faz viva, inteira.
De repente alguém bate na porta, ergo meu olhar, me observando no pequeno espelho, vendo meu corpo robusto sentado na tampa da privada, enquanto tem algumas lágrimas descendo pelas bochechas. Sem me conter, abro a porta, sem me preocupar com o que acontecesse, mesmo sabendo que poderia colocar em risco minha reputação.
Observo Kardama, me olhar preocupada, travando seu maxilar.

-Eu estou grávida.-Digo antes que ela abrisse sua boca.
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-Uau. Eu esperava de tudo, menos isso.-Falo.
-Só espero que não seja daquele canalha.-Completo.
-E de quem mais seria, Kar?! Eu não sou infiel!-Afirmou e seguro o riso, sabendo que não era uma boa ideia para piadas.
-Não quero ser cruel, passarinho. Mas se você optar por gerar essa criança, não poderá continuar sendo uma desgraçada, que mata o que pela frente, e se diverte quando da na telha. Uma criança é uma responsabilidade, maior que qualquer uma, uma prisão, não uma presa.-Digo me agachando e ficando próximo a seu rosto.
-Eu não quero essa criança.-Diz, começando a chorar.
-Acho que ela não deve mais estar aí, o quanto de bebida que você bebeu, é o suficiente para mata lá.-Tento dizer, a tranquilizando.
-E se tiver? Se esse...ser, ainda estiver em mim? Dentro de mim?-Pergunta, desesperada.
-Então ele terá que sair, tudo que entra, sai.-Digo, pegando suas mãos que tremiam.
-Por isso que está se casando?
-Ele me obrigou...droga, ele me engravidou de propósito, e disse que me deixaria sozinha para criar a criança se não me casasse, e por favor, não sinta pena. Não me leve a mal, mas a pena de uma caloteira não está em minhas obrigações atualmente.-Comenta e me seguro para não acertar sua cabeça no espelho.
-Não me chame assim!-Ordeno, minha voz soando grave.
-Por que, caloteira?-Questiona e por fim, a levanto pelo pescoço, arrastando seu corpo na parede enquanto ela sustentava seu sorriso.
-Não espere que sinta pena de você por estar carregando uma criança. Não teria problema algum em matar você e ela. Não confunda gratidão com compaixão.-Digo por último, sussurrando em seu ouvido.
-Se você pensa que sinto medo de você, Kar. Eu sinto nojo, nojo de você ter vindo de uma família sem ser nobre, infiel, e traidora. Acha mesmo que aceitaria algo vindo de você? Não espero que seja grata, Kardama. Espero que perceba que faço isso apenas por obrigação, por do outro lado, nunca se quer teria trocado uma palavra com você.-Diz e não resisto ao cuspir em seu rosto.
-Prefiro vim de algo sem nobreza do que de uma família infeliz, que enxerga felicidade apenas em dinheiro e nunca conheceu o valor do amor. Pois me diga, você tem a escolha da felicidade? Há, não. Afinal, você foi destinada apenas para será cadela de Augustus, fazendo tudo que ele manda, sendo sua cachorra favorita. Me diga, você acha que assassinar é nobre? Você acha que trair seu namorado é sinal de nobreza? Acorde, Melissa, a única aqui que não possuí lugar de fala é você! Fazendo tudo que seu paizinho manda.-Digo, e os guardas se aproximam.
-Senhorita?...-Pergunta um deles, vindo em minha direção.
-Não, não preciso que me defenda. Não se preocupem comigo. Voltem a fazer a merda de seus trabalhos!-Afirma, gritando e então a solto.
-Espero que essa criança seja feliz com pouco, porque você nunca será suficiente.-Falo por fim, saindo do pequeno cubículo.
...

Minha querida TaliçaOnde histórias criam vida. Descubra agora