Capítulo 15-Cacos de vidro.

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Mille Taliça

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Mille Taliça

-Mille Taliça, você está presa pelo assassinato de Jhon!-Afirma um homem, com a farda de policial, atravessando pela porta de minha casa.
-Como?...-Tento dizer mas meus olhos encontram os da garota atrás dele, Kardama.
-Pensei que nunca fosse descobrir.-Digo e a garota sorri, enquanto pisco para ela.
-Mãos para cima, você está presa!-Afirma a garota, apontando a arma para mim, antes de vir em minha direção, e me prender com as algemas.
-Você realmente foi inteligente em me testar em um momento difícil, aonde estava vulnerável, uma pena você guardar a pá e os utensílios que usou para matar Jhon em um lugar um tanto quanto visível.-Disse em meu ouvido, e suspiro, em silêncio.
-Você não sabe nem o terço da história.-Falo.
-A única coisa que sei é que você é uma assassina!
...

5 anos atrás

24 de fevereiro 2016.
Meu aniversário de 18 anos.
O salão de festas de minha casa estava lotado, as cadeiras cheias, tudo parecia lindo. Flores desabam pelo teto, tulipas.
Sinto o aroma forte de perfume masculino vindo, sentindo braços me rodearam por trás, sorrio ao reconhecer de quem pertencia tal cheiro.
Me viro, sorrindo.
Antes de abraçar o homem a minha frente, que me rodeia entre os braços, antes de beijar o topo da minha cabeça.

-Jhon!-Anuncio, alegre.
-Olá, querida.-Disse.
-Pensei que não veria.
-Como eu perderia?! É um dia especial!-Fala antes de Oliver correr em minha direção, e me puxar para seus braços.
-Que saudades meu amor, tudo está tão lindo.-Comenta Oliver, observando Jhon de cabeça aos pés.
Oliver nunca chegou a gostar de Jhon, dizia que ele era um homem cruel e cru. Ele tinha medo de que ele fizesse algum mal a mim, mas convenhamos, eu sei muito bem me defender.

-E você também, está divina.-Diz, me beijando.
Seu beijo parecia raivoso, e seus dentes raspava com força em meus lábios, como se estivesse me sentenciando por estar perto daquele homem.
O solto rapidamente, olhando para os lados, a procura do homem, mas ele não estava mais ali.
-Você está bem?-Perguntou, acariciando minha bochecha.
-Sim, estou.
.

Cheiro de cigarro vinha do lado de fora, olho pela janela, observando minha mãe conversar com Jhon, ela parecia encolhida, recuada, como se estivesse com medo.
Estranho a sua aproximação tão contida por Jhon. Eles nunca foram próximos.
Deixo meus olhos vagarem por outro lugar, a procura de alguém para dançar.
Quando avisto Augustus, no meio do salão, enquanto dançava com sua garrafa de vinho, me permito a sorrir. Correndo em sua direção, danço ao seu lado.
Levantando minhas mãos para o alto, e me permitindo balançar o quadril com determinação antes de meu pai agarrar minha mão, e me guiar até uma dança.
Sorrio olhando para seu rosto tão bem esculpido, seus cabelos loiros exatamente iguais aos meus. Seus olhos azuis não tão diferente dos meus. Definitivamente, minha mãe era bem mais parecida comigo, até mesmo na forma de pensar e agir. Éramos as únicas a enfrentar o tão temido Taliça, que por outro lado, nos colocava no chinelo a maioria das vezes. Ele ainda tinha sua forma de governar intacta e nunca abalada.
Mas sinceramente, não me abalava, desde que seus negócios não se intrometam em minha família, e continue nos guiando para um lugar melhor, estava tudo bem.
Tudo bem.
Os passos do homem vão para o lado contrário, me guiando por um lado mais afastado da casa. O observo sem entender, antes de abrir a boca, ele rapidamente me impede, pisando em meus pés.
Grunho de dor, antes de o observar por completo percebendo que talvez não seja a hora certa de o contradizer, vendo seu rosto fechado e sua postura ereta.

-Corra daqui o mais rápido possível!-Me ordena, parecendo desesperado.
-Por que?...
-Você confia em mim querida?-Questiona e balanço positivamente com a cabeça.
-Então corra.-Diz.

Não confio.

E foi por essa razão que eu corri para o lado oposto, indo em direção a saída, e me assustando ao escutar o silêncio, antes do disparo ser escutado.
Os gritos, a euforia.
Paro em questão de segundos, sentindo o vento tomar posse de meu corpo, e deixar que meus cabelos voem. Minha boca entre aberta.
Uma dor forte na barriga.
Dor.
...


10 anos atrás...

Corria entre as crianças, olhando para trás e vendo Bruno, juntamente a seus amigos, atrás de mim.
Eles seguravam os pneus de suas bicicletas furadas.
Sorria, travessa.
Sentindo a euforia gigantesca, me agarrando as minhas amigas enquanto escutava os garotos pisarem duro no chão.
Chegando na pequena floresta posta do lado de trás de minha casa, não me controlei ao entrar, colocando um pé de cada vez antes de me perder no grande mar de árvores e mato.

-Você vai se machucar, Milena! Pare de correr e venha aqui agora!-Ordenou Bruno, mas fingi o não escutar, correndo.

Uma dor forte atinge meu pé descalço, olho para baixo observando o pequeno caco de vidro fincado em meus dedos, me sento no chão, sem derramar uma lágrima. Respiro fundo, se voltasse para casa, meu pai me bateria.
Mas estava doendo, doía muito.
Como dói...
E então meu irmão me encontra em prantos, antes de me obrigar a levantar, e me segurar no colo, me levando até onde quer que seja.
Minhas lágrimas molhavam sua camisa enquanto seus amigos pareciam segurar o riso. Quando vejo a fachada de minha casa próxima, passo a implorar para que meu irmão me deixe descer, que estava tudo bem. Mas então vejo minha mãe, sentada. Como um arcanjo, um anjo.
Seu cabelo castanho e cacheado voando entre o vento, enquanto ela usava um vestido branco rodado, ela bebia seu café enquanto conversava com um de nossos cozinheiros, atentamente.
Meu irmão me leva até ela, que quando me vê em tal situação, corre em minha direção.
Quando sinto suas mãos me rodearam, choro mais.
Desabo em seu colo, sentindo seu cheiro doce de nicotina misturado com rosas.
Alissa me leva até a cadeira, antes de me abraçar, forte.

-Se acalme, querida. Respire fundo, ok?!-Perguntou, acariciando minha bochecha.
-Tudo bem, mamãe.-Digo.
-Ninguém vai te machucar. Não precisa se desesperar.
-Você promete?
-Prometo.-Diz, sorrindo.
-Feche os olhos, tá bem?-Questionou.
-Ta bem.-Falo e então ela puxa o vidro, me fazendo gritar em agonia, antes de respirar fundo e me desabar na cadeira.
-Te amo mamãe.
...

5 anos atrás

Olho para baixo, sentindo uma dor absurda vindo de minha barriga, observando o líquido escuro e com gosto metálico sair de meu abdômen. Antes de cair no chão, em prantos.
Gritando para que alguém me escute, gritando para que minha mãe apareça, para que ela cesse minha dor, para que ela tire a bala, e logo depois me diga palavras bonitas. Para que ela faça a dor parar, como fez com aquele vidro, para que ela me proteja daquele que tentou tirar minha vida. Mas ela não estava... Ela não estava em lugar nenhum...

-Te amo mamãe.
...

Minha querida TaliçaOnde histórias criam vida. Descubra agora