esse jogo eu ganho

312 39 7
                                    


Definitivamente, não era esse tipo de resposta e reação que ele esperava: pensou que a mulher choraria e imploraria por sua vida, mas não. Ela não aparentava medo algum. E isso o irritou muito. Como iria chantageá-la? Por mais que ela tenha o deixado com raiva, Kakucho não queria matá-la.

— V-você sabe que eu não tô blefando, n-né?! — Ele encostou o cano da arma na testa da mulher, que permanecia imóvel e sem mudar a expressão de raiva.

Ela balançou negativamente, num claro tom de deboche. Não dava mesmo valor algum à sua vida. E isso o enfureceu ainda mais!

— IDIOTA!! Sua vida vale tão pouco a ponto de vendê-la em troca daquele verme covarde?! — A expressão dela mudou a partir do momento que Kakucho ofendeu seu irmão. Estava com muito ódio, tanto que ele sentiu medo de hesitar e perder sua arma. — Quer mesmo morrer?

Ela balançou a cabeça positivamente. Seu silêncio e sua falta de seriedade era certamente, algo que o irritou.

— Acha que eu vou te dar uma morte rápida e indolor? Eu vou te torturar por dias até que me conte onde está o verme do seu irmão. Seu marido, filhos... Quer mesmo deixá-los por causa do seu irmão? O mesmo que te deixou aqui para morrer? A vida dele vale mais que a sua?

Balançou positivamente, com uma expressão de muita raiva. Mantinha-se firme em meio às suas provocações. Pela primeira vez em muito tempo, Kakucho não sabia o que fazer. Definitivamente, a pessoa mais maluca que já encontrou!

— Quer mesmo deixar a sua família dessa forma tão cruel? Tem certeza disso? — Dessa vez, ela negou. Seu silêncio e seus gestos esgotaram a paciência de Kakucho — DESAPRENDEU A FALAR, PORRA?! ABRE A MERDA DA SUA BOCA!

— Eu. Não. Tenho. Família. Filho da puta. — Ela falou pausadamente e ele quase riu com sua ousadia: sabia com quem estava tratando e ainda assim, não tinha medo? — Só. O Haru. Nunca. D-de-deixarei que encoste nele. Foda-se o que acontece-cerá comigo. Nunca f-falarei, n-nada. NUNCA!

Kakucho gargalhou. Não tinha como esconder o riso.

— Não tem medo, então? Mas a sua voz diz outra coisa... Por que tá gaguejando então?

Dessa vez, ele se assustou com a expressão de fúria da mulher. Ela foi tão ousada que até mesmo apertou seus braços:

— P-PORQUE EU SOU GAGA, IMBECIL!! GAGA! — Seu olhar... Tão convicto que o deixou sem palavras e ações. — N-não tenho pais, n-nem filhos, n-nem marido. Só quatro g-gatos, algumas plantas e livros... E o Haru. V-você... Nunca vai m-machucar ele enquanto eu e-estiver aqui. Nunca. Não vou falar u-uma palavra s-sobre ele, então p-pode terminar tudo aqui mesmo. Apartamento 315, Shinsencho, Shibuya, Tóquio. Perto da estação. T-terceiro andar... Pegue meus gatos e deixe no apartamento 316. Shimizu-San. Só isso que peço. Pode me matar. Aperta o gatilho.

Pela segunda vez em sua vida, viu aquele tipo de pessoa. Como poderia estar tão convicta em seu amor pelo irmão? Como poderia permanecer tão firme, mesmo sabendo que morreria? Seu comportamento incomum o deixou sem chão, não sabia o que fazer com a mulher. E era isso o que o deixava com mais ódio.

— IDIOTA!!! — Ele explodiu de raiva. — Como pode vender a sua vida pelo merda do seu irmão? Ele fugiu... Te deixou sozinha para morrer! Que amor de irmão é esse?! Sua idiota! Conhece mesmo seu irmão? Sabe das coisas que o seu irmãozinho faz? Se soubesse, garanto que não falaria isso!

— V-você. N-não sabe na-nada sobre o Haru! O q-que foi? T-tá hesitando? Aperta o gatilho. Tá com medo? — Ela forçou sua cabeça contra o cano, provocando-o.

Por mais que estivesse com muita raiva das provocações, Kakucho não caiu em seu jogo psicológico. Não era o que ele planejava fazer:

— Você é divertida. Quer tanto assim morrer? Infelizmente, não vou conseguir dar o que você tanto procura. Você morta não me é útil.

Isso a deixou confusa. O que aquele homem doentio faria?

— Não vai mesmo falar sobre o seu irmão? Isso é o que veremos. — Tapou a sua boca e a arrastou para os becos mais escuros da cidade, lugares que nunca viu. E isso a apavorava a cada segundo que se passava. O que ele pretendia fazer? Era tão monstruoso assim?

Por fim, chegaram até uma fábrica abandonada, ele abriu o portão e a arrastou para um depósito. Antes que falasse qualquer coisa, ele começou:

— Não quero e não vou te machucar. Podemos resolver isso da maneira fácil: você me conta onde o seu irmão foi ou qualquer outra pista e eu deixo você ir. É fácil assim.

— Senão?

— Você vai apodrecer nesse lugar.

— ...O que p-pretende f-fazer com meu irmão?

Era só se lembrar de Haru que ele ficava com ódio. Era seu subordinado de maior confiança e ainda assim, o traiu. Não havia perdão, ainda que lamentasse o fato de perder seu maior subordinado, sua sede de vingança era muito maior.

— Vou matar ele.

Não ficava furiosa tão facilmente, mas a frieza e indiferença daquele homem para com seu irmão fazia o sangue ferver.

— JÁ DISSE! — Fez uma pausa, procurava as palavras certas para não gaguejar. — Nada sairá da minha boca. É melhor me matar logo.

— ...Isso é o que vamos ver, mulher tagarela. — Ele deu uma risadinha e a levou para uma sala. — Eu tenho todo o tempo do mundo. Já fiz até o mais fiel dos homens falarem. No momento do desespero, todo mundo fala. Cedo ou tarde, você vai ceder.

Ele era tão doentio que já tinha uma sala própria para isso: um cômodo grande que servia como escritório, com uma grande mesa cheia de documentos, um sofá-cama e no chão, uma colchonete. Colocou-a ali e trancou a porta.

— ...Seu lixo. V-vai me torturar agora? — Perguntou, enojada.

— Claro que não. Não faço essas coisas. Gosto de mortes rápidas e indolores — falou, enquanto retirava suas luvas. — Não machuco mulheres.

— Só sequestra? Seu doente!

— Você não me deu outra opção. Mas como eu disse, não vou te machucar. Ainda assim, eu sei que cedo ou tarde, você vai falar. Todos falam no momento do desespero, ninguém gosta de ficar confinado. É por isso que as solitárias são o maior medo de um detento, sabia? Talvez não, né? Você provavelmente nunca pisou numa cela, senhorita.

Ele realmente não tinha ideia de com quem estava lidando.

— Eu sei tudo sobre um presídio. Garoto. Sou professora em um reformatório, idiota. — Os olhos de Kakucho se esbugalharam com a sua revelação. — Acha que ganha de mim em jogos mentais? Já passei pelo pior em minha vida que faria isso parecer um parque de diversões. Você não me assusta. Esse jogo eu ganho. 

phantom of the opera - kakuchoOnde histórias criam vida. Descubra agora