Confissões

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— …Eu quem deveria dizer isso, [Nome]. — Ele não parecia muito feliz com seu agradecimento. — Você… Passou por tanta coisa e ainda assim, não tomou o mesmo caminho que eu. Eu te admiro muito. — Ela ficou impressionada com o elogio. Não era algo que esperava. 

Ao olhá-la, todos enxergariam apenas uma mulher tímida e comum, não demonstrava nem 1% do seu sofrimento. Pelo seu histórico familiar, era assustador vê-la tão bem. É claro que era uma pessoa triste e traumatizada, mas ainda assim, persistia e vivia. Se Kakucho estivesse em seu lugar, não saberia se conseguiria continuar. 

— …Como você conseguiu, [Nome]? Você nunca tentou se vingar do seu pai? Nunca mais o viu? 

Ela fez uma cara de que a história ainda não havia acabado. Tinha a sensação de que ela contaria mais coisas que o deixaria triste. Já viu muitas pessoas desprezíveis, mas nenhuma se comparava ao seu pai. Como aquela mulher tão gentil poderia ser do mesmo sangue que aquele homem? 

— …De uma forma ou outra, ele sempre volta. Como um fantasma. — Ela fez uma pausa. — Quando era adolescente… E-eu t-tinha um namoradinho, sabe? N-não era algo sério… Mas era meu namorado. D-depois de alguns anos com a t-tia… Ele voltou. Estava sempre nos perseguindo. Descobriu que eu tinha um namorado… Matou ele. S-só um adolescente… — A história dela era definitivamente, um filme de terror. Não tinha como ser pior! Então assim, assimilou os fatos e viu o motivo de [Nome] ser tão tímida e insegura. — Ele é assim. Não descansa até te destruir completamente… D-depois disso, a minha tia fugiu. Nos deixou. N-não a julgo… N-não era nem para ela ter sido a nossa t-tia… Minha mãe… M-minha mãe era tão jovem… P-por minha culpa, ela-

— Ei! — Ele apertou seu ombro, precisava despertá-la para a realidade. — Você era uma criança, [Nome]! Não tem culpa de nada. Você não tem culpa de ser filha de um verme desses… Sua mãe te amava, eu tenho certeza disso! E ela ficaria muito orgulhosa e feliz de ver o quanto você se dedica ao Haru. E-eu sinto muito por tudo o que passou, não tem como voltar atrás e corrigir, não é? A culpa é toda do seu pai… Mas não adianta se culpar e remoer o passado para sempre. Sua mãe iria querer que você fosse feliz e cuidasse de si mesma também, não é? 

— … — Ela ficou sem palavras. Definitivamente, uma pessoa muito triste. E depois de uma longa pausa… — Falando nisso, e-eu preciso de roupas novas. 

— AHN?! — Ela simplesmente falou tudo aquilo e agora mudou de assunto do nada? — C-como?! 

— T-tô usando a mesma roupa há dias… — Ela olhou para os lados, tímida. — N-não tenho roupas para usar. Preciso fazer compras… Sabonete… Coisas de mulher… Não dá pra viver assim!

Isso o fez gargalhar. Ela era maluca! 

— Qual o problema com meu sabonete? Não dá pra viver porque você não gosta do meu sabonete? 

— Exatamente! N-não tenho sabonete, usei o desodorante do hotel… Q-quer cuidar de mim? Quero fazer compras! Preciso fazer compras para os meus gatos também. 

— Agora eu tenho que sustentar você e seus gatos também? 

— S-sim! — Ela balançou a cabeça positivamente. — Precisa respeitar minha feminilidade! Já sou uma mulher de trinta anos, preciso de… C-cuidados. — Ela fez bico, ainda envergonhada. 

— …Vem comigo. — Ele pegou em sua mão e a levou em direção ao carro. Era sempre assim: ao invés de falar o que iria fazer, sempre agia instintivamente e a deixava curiosa. Ficou calado até pararem no destino da viagem: Shinjuku. Antes de saírem do carro, ele tirou algo de sua carteira que brilhou seus olhos. — Tem limite de 500 mil dólares, mas gaste com moderação por favor, assim ninguém suspeita. 

— … EXISTE CARTÃO DE USD 500.000?! — Era coisa fora de sua realidade, já que vivia salário após salário. Ser da Bonten era realmente tão luxuoso assim? 

— Sim. É um esquema que temos com o banco. 

— Hunf. Às vezes esqueço que você é criminoso. — Ela fez bico. — P-pode segurar… N-não quero perder e nem iriam acreditar que sou a dona dele… Sou muito pobre para isso.

— Não precisa ter vergonha não! Você tá legal hoje… Então, qual a primeira parada? 

Ela foi caminhando tranquilamente para uma KONBINI. Era engraçado ver o seu comportamento. Por mais pesado que tenha sido aquele dia, [Nome] parecia muito mais leve depois de conversarem. Por mais perturbador que tenha sido, fez bem para ela. 

Em quinze minutos, ela terminou as compras e voltou com três sacolas. 

— Pronto. P-podemos ir para casa. — Ele ficou totalmente incrédulo. Ela conseguiu comprar tudo o que queria em quinze minutos em uma loja de conveniências? Roupas, sapatos e tudo o mais? 

— QUÊ?! Tá de brincadeira comigo, [Nome]?! — Ele ficou curioso e simplesmente pegou as sacolas para ver se era mesmo verdade. E lá estava: roupas básicas (e horrorosas!!!) de loja de conveniências, um pacote de ração e caixa de areia para gatos, uma vasilha para água, aparelho de barbear, um desodorante de péssima qualidade e pasmem! Um penhoar! Quando ele viu aquilo, quase engasgou de susto. Não, não era um penhoar sexy, era um penhoar de loja de conveniências mais assustador que qualquer filme de terror! — QUANTOS ANOS VOCÊ TEM?! NOVENTA?!?! PODE DEVOLVER ISSO! Eu não vou dormir com uma mulher que usa esse tipo de coisa! 

E foi inevitável. Ele recebeu mais um de sua grande coleção de tapas na cara. 

— Q-quem disse que v-vou dormir com você? Sua besta! Idiota! É esse tipo de roupa que eu uso mesmo. 

— Você traumatiza todos os caras com quem sai?! Pelo amor de Deus, [Nome]! Você precisa rever os seus conceitos sobre a moda. 

— …BABACA! — Tomou as sacolas dele, totalmente enfurecida e voltou para o carro. Ele era mesmo tão cego a ponto de não ter percebido? Depois de tudo o que falou, ainda não sabia? 

É claro que, bobo como era e como adorava fazer aquelas brincadeiras, ele gargalharia ao descobrir que ela era virgem. Como? Uma mulher de trinta anos, mais velha do que ele… Era algo muito estranho aos olhos dos outros. Obviamente, ninguém sabia esse segredo tão vergonhoso.

Ainda assim… Como ele não percebeu? Ele não reparou em sua inexperiência e em seu desconforto de dormir com ele? 

— [Nome]... Desculpa! E-eu fiz algo de errado? — Kakucho entrou rapidamente no carro e ficou olhando para sua cara. — E-eu falei algo que te magoei! D-desculpa, foi só uma piada! — Apesar de tudo, sabia que era uma boa pessoa (ao menos, com ela). Ele falava sim suas bobagens e era um tanto idiota, mas sabia seus limites. — O-o que aconteceu? Tem algo que te… 

— …Eu sou virgem. Então sim, o máximo que eu tive de intimidade com alguém foi com você nessa manhã. Pode rir. Pode falar o que quiser.

É claro que ele faria aquela cara de choque e espanto. Talvez foi a coisa que mais o chocou naquele dia.

— …[Nome]... — Ele ficou novamente com peso ao lembrar das brincadeiras de mau gosto. — E-eu entendo, m-mas isso… Isso não é algo para se envergonhar… S-só não a-aconteceu, né? Mas você é l-linda… Muito linda… 

[Nome] deu de ombros. 

— Não sirvo para essas coisas. Prefiro… Prefiro uma v-vida tranquila, chocolates quentes, uma boa coberta e um livro para ler. 

Kakucho tentou segurar o riso, mas não conseguiu. 

— Vida tranquila? Correndo atrás de um irmão gangster e sendo professora de um bando de jovens infratores e morando comigo? Desculpa, [Nome]. A última coisa que você vive é uma vida tranquila. 

— …Bobo. — Ela também riu levemente. Ele tinha a língua afiada. 

— Vamos. Vou te levar para um lugar legal. 

— Ahn? L-lugar legal? — O que ele queria dizer com aquilo? 

— É surpresa!

phantom of the opera - kakuchoOnde histórias criam vida. Descubra agora