...Na sua casa?

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— Como assim, [Nome]?! Q-que droga de história é essa?! — Parecia tão maluco que Kakucho pensou que ela estaria fazendo algum tipo de brincadeira, mesmo que seu olhar fosse tão sincero e pertubado.

— ...É-é o q-que eu te falei... — De repente, sua voz se tornou mais enrolada, mesmo que pensasse nas palavras mais fáceis, que não a fariam gaguejar, não conseguiu. A palavra "pai" era muito forte para ela. Trazia-lhe as piores lembranças de sua vida infernal. — ... — Com a voz cada vez mais enroscada, as lágrimas vieram, como se estivesse nos velhos tempos de infância e relembrava os piores dias de sua vida. O pior momento nunca sairia de sua mente, não importa quantos remédios tomasse, aquele pesadelo retornava dia após dia. — ...E-escuta. Haru. Nunca. NUNCA t-trabalharia com a-aquele demônio. Nunca. P-por isso s-sei... Que ele nunca te trairia. Para ele.

Kakucho entendeu pelo peso de sua voz que a sua história era perturbadora e que certamente, teve uma infância terrível. Ainda assim, não acreditava que Haru era inocente.

— [Nome]. Eu sei que você é uma ótima pessoa. Sinto isso de longe. Mas você não conhece seu irmão. Eu sei do que ele é capaz e ainda que seu pai...

— NÃO! É IMPOSSÍVEL, ENTENDEU?! — Naquele momento, apertou os braços do homem com tanta força e ódio que ele se assustou. Não sentia ódio dele, era das lembranças, das vozes em sua cabeça, das dores que passara... Todo o inferno que passou por causa de seu pai diabólico. — A-aquele homem... Destruiu nossas vidas. Você não sabe o que passamos. Não sabe.

Àquela altura do campeonato, chorava tanto que Kakucho ficou de fato preocupado. Sentiu o peso de sua voz e seus sentimentos à flor da pele e por fim, decidiu refletir mais sobre o caso. Talvez, ela estivesse certa.

— T-tudo bem. Talvez, você esteja certa. — Mesmo que se conhecessem há tão pouco tempo, Kakucho sentiu que havia uma conexão entre os dois. Não sabia explicar, mas tinha a sensação de que precisaria de sua ajuda para resolver este problema. — Tenho uma proposta para você, [Nome].

— ? P-proposta?

— Você precisa sair daqui. Sua vida corre perigo agora. Venha comigo. Se me ajudar, eu prometo que não vou fazer mal algum ao Haru. Desde que você me ajude a encontrá-lo para descobrir a verdade e diga tudo sobre o seu pai. — Por ser filha de um comandante da Yakuza, ainda que com muitas pontas soltas e mistérios envolvendo sua vida, ela seria útil para combater seus piores inimigos.

— ...Mesmo? Promete.

— Nunca descumpri uma promessa. — Kakucho estendeu sua mão.

— M-mas, a senhora Shimizu...

— Não há nada para se fazer agora. A polícia chegará logo logo. Precisamos ir.

— M-meus g-gatos...

— [Nome]!! Não há tempo para isso! Precisamos sair o quanto antes! Sem tempo para nada! Você decide...

Por alguns segundos pensou na sua pacata vida: era solitária, carregada de choros na madrugada, doramas antigos, remédios... Mas ainda assim, era pacífica. Nada comparado ao inferno de sua infância e adolescência. Sentia, que ainda de forma involuntária, que aquele inferno voltaria no momento em que aceitasse a proposta de Kakucho. Ainda assim, era um capítulo em sua vida que precisaria resolver cedo ou tarde.

— ...S-serei... Sua refém?

— Claro que não! É escolha sua agora.

— ...Aceito.

— Então venha. Logo! — Ele pegou em seu braço e juntos, correram para fora do prédio.

— O-onde estamos indo? — Perguntou quando entraram em seu carro: era muito luxuoso. Ele mantinha sua visão fixa sob o volante. Não dava para saber o que se passava na cabeça daquele homem.

— Minha casa. — Respondeu, sem olhar para sua cara. Continuava muito sério e frio. Aquela ideia lhe deixou um pouco nervosa... O que ele estava tramando? Teria mesmo que viver com ele? Por quanto tempo? Sua vida solitária era tão fácil...

Pararam em um prédio gigantesco. Um dos maiores que já viu na cidade. Quando saíram do carro, ele apenas disse para segui-lo, com discrição. Foi uma sensação muito estranha. Se por fora, o edifício era luxuoso, por dentro, sentiu-se completamente deslocada: repleto de peças luxuosas, uma decoração muito sofisticada, cassinos, bares, mulheres... Era bem parecido com o que viu no submundo que seu pai vivia. E isso lhe causou ainda mais nervosismo e até mesmo, ânsia.

— Senhor Kakucho! Precisa de ajuda com... — Uma mulher muito bonita, daquelas que só se via em revistas de moda ou na televisão, se aproximou dos dois e com olhares desconfiados para [Nome]. As vestimentas, o estilo... Eles eram muito diferentes e obviamente, ela era suspeita por estar naquele ambiente.

— Não. Estamos subindo. — Ele a dispensou com frieza. — Vem, querida. — Sentiu um arrepio e ficou sem ar por segundos quando ele colocou a mão sobre a sua cintura e a puxou para perto dele. Nunca havia sentido algo assim, já que não se dava bem com... Homens! Quais eram as intenções daquele louco?

Quando foram para o elevador e enfim, ficaram sozinhos, ela o estapeou com toda a força que pôde.

— PERVERTIDO! P-por que fez isso?!

— Idiota! Por que me bateu?! — Questionou, enfurecido. — Você vai ter que agir como se fosse minha esposa aqui, entendeu?! Por isso, precisamos manter as aparências para ninguém desconfiar.

— DESDE QUANDO EU CONCORDEI COM ISSO?!

— Sua besta! Acha que daria certo falarmos que estamos juntos para encontrar o seu irmão porque você está sendo perseguida pela Yakuza?! Ficaria muito na cara, não acha, senhorita professora?!

— Isso não tava no acordo! E-e... Isso não vai ajudar em nada! Tá muito na cara que não somos um c-casal...

Ele levou aquilo como ofensa, já que ela o encarou com desprezo.

— Verdade! Tá na cara mesmo, i-idiota! Até parece que eu um dia ia me relacionar com uma... Professorinha solteirona na casa dos trinta!

Outro tapa.

— LIXO! N-nunca me r-relacionaria com um nojento como você. Prefiro ser solteirona com trinta do que um lixo feito você!

— Se me der outro tapa desses... O acordo estará quebrado!

Cruzou os braços. Enojada com aquele homem pervertido e ousado! Ele tinha tanta confiança apenas por ser bonitão e jovem? Odiava aquele tipo!

O elevador parou e ficaram de frente com uma grande porta dourada. Era seu apartamento. Ou o que pensava ser um apartamento... Ao abrir a porta com um cartão especial, levou outro susto: não era, nem de longe, um apartamento. Era um luxuoso quarto de hotel com uma grande cama de casal, uma jacuzzi... Tudo muito sugestivo. E novamente, explodiu:

— SEM CHANCE! EU NÃO VOU... EU NÃO VOU DE FORMA ALGUMA D-DORM... — Engasgou, simplesmente não conseguia completar a frase. — N-não... Não v-vou dormir com você. Nunca!

E ele novamente, se enfureceu também.

— E quem disse que quero dormir com você, sua louca? Essa é minha casa. É só isso, o que eu posso fazer? É isso, ou você quer ficar sozinha num quarto e acordar com a sua garganta sendo cortada pelos subordinados da Yakuza? A melhor forma de ficar segura é comigo.

— ...Idiota vazio. A ú-única coisa que tem é uma c-cama, então? D-de qualquer forma, tem que resolver isso. — O pior de tudo é que só tinha a droga de uma poltrona naquele quarto, que nem de hotel era! Era de motel mesmo e sabe-se lá o que aquele louco fazia ali... — Não tem como dormirmos j-juntos. F-fora de cogitação.

— É claro que sim! Eu que não vou ficar perto de você... Durmo no chão e você pode ficar com a cama, "senhorita professora de reformatório".

phantom of the opera - kakuchoOnde histórias criam vida. Descubra agora