Enganada

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Acordou com um cheiro bom de comida. Podia sentir o cheiro de café fresco (um de seus aromas favoritos!) e de ovos e bacon. Quando abriu os olhos, deparou-se com uma cena peculiar: Kakucho estava cozinhando no fogão portátil de sua lancha seminu. Era a melhor visão que poderia pedir em toda sua vida. Ele era sexy até mesmo numa situação tão peculiar como aquela.

— Bom dia, está com fome? — E era raro vê-lo de tão bom humor e usando palavras tão simples, sem seu tom de sarcasmo. — Eu preparei o seu café. Você dormiu feito um anjo... Bom, a noite passada foi mesmo bem intensa.

Quando ele falou aquilo, pequenos flashes vieram em sua cabeça. Não deixou de corar quando pensava nos detalhes mais íntimos, mas por incrível que pareça, se sentia bem com aquilo. Não estava nada arrependida de nada. Só era... Estranho aquela sensação. Algo que por anos foi um tabu em sua vida tinha finalmente terminado de uma forma muito intensa.

— ...Obrigada, Kakucho.

Ele imediatamente parou de fritar o bacon e olhou para sua cara, horrorizado. Que tipo de "obrigado" mais descabido era aquele?

— Ahn?! — Ele ia rir, até ela continuar.

— V-você foi m-muito respeitoso e gentil comigo. Eu agradeço bastante. Você fez t-tudo ser muito especial.

— Que isso, [Nome]. Isso era o mínimo que eu deveria ter feito. Você foi... Incrível na noite pass-

— NÃO É SÓ DISSO QUE ESTOU FALANDO! — Ela o cortou, envergonhada. Não queria falar de detalhes porque ainda era muito recente, apesar de ter sido muito bom. — V-você... Você é muito gentil e compreensivo comigo. E-eu me sinto à vontade para falar do que quiser com você. Compartilhei segredos meus que nunca disse para ninguém. Confio em você.

Droga. Por mais que ele tivesse insistido em "casual", estava sentindo que de uma forma ou outra acabaria se envolvendo emocionalmente com ele (se já não estava!). Por mais que tentava não pensar nisso, sentia agonia e ansiedade em saber o que aconteceria entre eles no futuro. Resgataria Haru e cada um seguiria seu rumo? Não parecia certo... Não era do tipo de pessoa que se entregaria para alguém como se entregou para Kakucho e depois simplesmente o esqueceria. Ainda assim, se falasse qualquer coisa do tipo sobre estar se apaixonando e se envolvendo emocionalmente com ele, Kakucho provavelmente iria dar risada. Ele não parecia o tipo de pessoa que se envolvia amorosamente. Era bem nítido.

— ...Sério? — Ele parecia surpreso com sua declaração. — E-eu fico muito feliz com isso, [Nome]. É muito bom saber que você... É... B-bem... Gostou de mim. Mesmo sendo chato.

Ela riu e concordou. Ele era chato mesmo. Ainda assim, sentia-se um tanto deslocada desde a noite passada. Como passariam a se dirigir um para o outro? Haveria mais momentos como aquele? Ele voltaria a beijá-la? Tantos questionamentos que nem sabia por onde começar.

Tomaram um café tranquilo e teve mais uma surpresa: ele era bom na cozinha! Coisa que nunca fora, já que era muito atarefada com o trabalho e não levava tanto jeito para atividades domésticas. Seus dias se resumiam à livros, gatos e chá.

O café de ambos foi atrapalhado pelo celular de Kakucho, que não parava de tocar. Um tanto assustado, ele atendeu, saindo da lancha.

— O quê?! Você o encontrou? Está há cinco minutos daqui?! — Aquilo parecia estranho. Imediatamente, pensou no óbvio e seu coração se acelerou: era Haru. Com as pernas trêmulas, foi em sua direção e já foi se apressando para sair com ele.

— É O HARU?! — Tentou tomar seu celular, mas ele a segurou. Ouviu mais alguma coisa no celular e desligou. — O QUE HOUVE?!

Kakucho não parecia contente com a notícia: pelo contrário, aparentava preocupação.

— Encontraram-no perto daqui. Vou até lá.

— EU VOU COM VOCÊ! — Antes que ele pudesse protestar ou falar qualquer coisa, [Nome] já estava em seu carro esperando-o. Era mesmo teimosa e determinada. — RÁPIDO! RÁPIDO!

Kakucho suspirou. Era como se estivesse receoso com a situação. Tinha medo do que poderia acontecer, já que não sabia qual seria o comportamento de Haru. Ainda assim, precisava de esclarecimentos e acelerou o máximo que podia. Quando viram uma silhueta perto de uma ponte escura da cidade, [Nome] gritou e abriu a porta do carro antes mesmo que ele o parasse. Saiu correndo em direção àquela sombra. Mesmo que não pudesse ver nos mínimos detalhes, sabia quem era.

— HARU!!! HARU!!! — Queria gritar e chorar de emoção, abraçá-lo e dizê-lo o quanto o amava, mas quando ele virou em sua direção, viu um rosto completamente diferente daquele garotinho que cuidou durante toda a sua vida. Não era o seu Haru. Era um garoto que fora tomado por um olhar completamente vago e morto, magro e destruído. Ele a olhou como quem olhava uma pulga. Engoliu em seco e quando se deparou, estava com as pernas trêmulas.

Mas algo em seu olhar mudou, era como se tivesse levado um susto. E quando percebeu, não era com ela que ele estava surpreso e sim com a pessoa por trás. Como num deja vu, sentiu aquele cano de metal encostar em sua cabeça novamente e aquelas mãos já tão familiares puxarem o seu corpo para sua direção. De repente, sua vista começou a escurecer, a respiração ficou ofegante e o pânico se instalou em si. Não, não podia acreditar que aquilo era real. Por que ele estava fazendo aquilo?

— Haru. Entregue-se. Ou eu estouro os miolos da sua irmã. — Não queria acreditar que era ele, mas era real. Ainda assim, tentou olhar de relance para ver sua expressão e viu o seu olhar morto e assustador. Então aquele era Kakucho?

Por todo esse tempo, ele estava usando-a para chegar até Haru? Depois de tudo o que aconteceu, ele a mataria sem remorso algum? 

phantom of the opera - kakuchoOnde histórias criam vida. Descubra agora