Por mais que aqueles segundos fossem angustiantes e doentios, as coisas começaram a fazer cada vez mais sentido para você. Kakucho só estava usando-a para chegar até Haru. E como uma idiota, caiu perfeitamente em seu plano.
— Haru... — Mais do que qualquer coisa, sentia-se feliz ao ver que seu irmão estava vivo, apesar de sua aparência ser muito preocupante. Por mais que o verdadeiro Kakucho a amedrontava, estava ainda mais preocupada com o que Haru faria. E não somente ela, mas como o seu sequestrador ficaram chocados quando ele sacou uma arma e apontou na direção de Kakucho.
— Te dou três segundos para colocar a arma no chão. Você sabe que eu sou mais rápido do que você, não é? — E o cano da arma se aproximou ainda mais de sua cabeça. — Quer mesmo que eu mate a sua irmã?
— Tsc. Vá em frente, seu filho da puta. — No mesmo instante, ouviu aquele barulho ensurdecedor. Apenas fechou os olhos, pensando que era realmente o seu fim. E era o que mais queria naquele momento.
Mas não foi o que aconteceu. Percebeu que continuava pensando, não sentia dor alguma... Estava muito estranho. Quando abriu os olhos, viu Haru correndo e um Kakucho atordoado. Não se sentia nem mesmo capaz de olhá-lo, mas conseguiu ao menos voltar a respirar de alívio por se afastar dele.
Se as coisas não poderiam piorar, a sua reação provava novamente que ela estava errada.
— Parabéns, [Nome]. Agora você viu o quanto o seu irmão te ama? Esse é o Haru, seu doce irmãozinho. — Ele a olhou num tom de deboche, sarcástico, como se aquilo tudo fosse apenas um jogo mental. — A bala pegou de raspão, ele realmente atirou para nos matar.
— ... — Não tinha palavras para dizer ou responder qualquer coisa. Nem ao menos se sentia capaz de voltar a olhar para ele. Apenas engoliu em seco tudo aquilo e saiu andando com passos pesados.
— Aonde você vai? — Ele ainda tinha coragem de chamá-la e pegar em seu braço? Era indescritível o seu desvio de caráter. Sentiu tanta repulsa de encostar nele novamente que num ato de impulso, o golpeou e roubou sua arma. Estava com tanto ódio e com tanta sede de vingança que queria matá-lo ali mesmo.
— ...Eu só confiei em você. Larguei minha vida para morar com você e te ajudar. Me entreguei para você. Contei todos os meus segredos. E nesse tempo todo, você só estava brincando com meus sentimentos. — Conseguiu ver seu olhar de pânico quando apontou sua própria arma em sua direção. Os jogos viraram. — É divertido para você manipular as pessoas dessa forma, Kakucho? Devo ser muito idiota mesmo, porque eu acreditei em você.
— [Nome]?! Mas em nenhum momento eu brinquei com seus sentimentos ou estava pensando em te manipular! De onde tirou isso?!
— Então pra você é normal colocar alguém que gosta de você em perigo e brincar psicologicamente com ela na frente da pessoa que ela mais ama? Você colocou a vida do Haru...
— [NOME]! ACORDA, PORRA! O HARU TENTOU TE MATAR! Eu NUNCA colocaria você em risco de propósito! Nem mesmo eu esperava que ele fosse fazer isso! Qual é o ponto, [Nome]? Você não percebeu ainda que o Haru não te ama e nem se importa com você? Está cega?
Ela não era cega e muito menos burra. Já havia entendido mesmo que sua vida não importava para Haru. Mas o que faria? O mundo poderia acabar, ela morrer, Kakucho morrer, seu pai morrer, até mesmo Haru. Mas ele continuaria sendo o seu irmão. Mesmo que ele a matasse naquele momento, continuariam sendo irmãos. Nada no mundo mudaria esse fato.
Ainda assim, não esperava que ele a tratasse com tanta indiferença. Foi uma irmã tão ruim assim? Sempre o amou tanto e zelou tanto por ele.
— ...Eu sei... — E quanto mais pensou naquilo, mais sentia vontade de desaparecer. — Não precisa ficar repetindo tantas vezes sobre o quanto o meu irmão não me ama e o quanto eu sou idiota. Eu já sei o suficiente... Não me importa mais.
— [Nome], larga a arma e vamos conversar. Por favor. — Conseguia bem ver o seu olhar de medo, mas não. Por mais que estivesse muito quebrada graças a Kakucho, não o mataria. Aquilo não resolveria o seu problema.
— Adeus, Kakucho. — Quando ele viu que ela apontou a arma para si mesma, ele gritou de desespero, tentando impedi-la, mas foi tarde demais, já havia apertado o gatilho.
E novamente, nada aconteceu. Parecia um pesadelo sem fim. Aquilo nunca acabaria? Estaria sempre sofrendo?
Ele a derrubou no chão para tomar a arma e ficou totalmente pálido e revoltado com sua atitude. A olhava com tanta raiva, não acreditou que ela realmente faria aquilo.
— QUAL O TEU PROBLEMA, [NOME]?! POR QUE TENTOU SE MATAR?! COMO PÔDE FAZER ISSO?! — Ele tomou sua arma e continuou, aos berros e ainda assustado. Suas mãos estavam tremendo. — COMO PÔDE PENSAR EM FAZER ISSO?!
Não pensou que ele abandonaria aquela casca fria e mostraria um lado sensível. Ele chorava com o susto, como uma criança.
— ...Essa arma está quebrada. Não a uso há anos. Achou mesmo que eu apontaria para você uma arma de verdade? Eu jamais colocaria uma arma de verdade na sua cabeça. Ainda assim, você não sabia. Por que morrer, [Nome]? Você acha que morrer ia resolver alguma coisa.
— ... — Ainda atordoada com tudo aquilo, continuava no chão, aos prantos. — A partir do momento que eu não tenho mais o amor da única pessoa que eu pensei que me amava, minha vida perdeu o sentido. Ainda tinha uma esperança, pequena... Mas agora, não importa mais.
— [Nome] você não precisa do amor do Haru para ser feliz! Eu te amo e te quero bem. Não é o bastante? Você é uma irmã perfeita, acima de qualquer pessoa que já conheci. Você merece muito mais do que as migalhas dele. Eu te amo, não entende? — Ele falava isso enquanto envolvia seus braços em seu corpo, mas chorava mais que ela. — Esquece ele. Fica comigo, você não precisa dele para nada! Vamos ficar juntos... Mas por favor, não faça mais isso... Por favor. Eu também não tenho ninguém, eu também preciso de você.
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phantom of the opera - kakucho
Fanfiction[Nome] é uma mulher de 30 anos com baixas perspectivas de vida: professora de literatura em um reformatório juvenil, solitária e com problemas de disfasia. A única pessoa em sua vida é seu irmão caçula, Haru: um marginal envolvido com a maior organi...