enfim, as pazes

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— ...Não foi nada. — Ele até parecia surpreso com o abraço repentino. — Acho que agora, o ambiente não está tão desagradável para você, não é? — Ele perguntou. Então foi por isso que ele buscou seus gatos? Para deixá-la feliz? Não sabia explicar suas motivações, mas a partir daí, certamente passou a enxergá-lo de uma forma diferente da primeira vez em que se encontraram. Ele não era um homem mal, bem longe disso... — Não é apenas sobre isso que tenho novidades. — Ele ia jogar o seu casaco sobre o chão, mas em meio à olhares de reprovação de [Nome], hesitou e o colocou no cabideiro.

Parecia que com o tempo, ele estava se re-educando e criando novos hábitos, tudo para tornar o ambiente entre os dois mais confortável: ele não ficava mais sem camisa, aos poucos, parou com as ofensas e com os apelidos como "professorinha" e "tia", trouxe seus gatos de volta para ela, dormia no chão... Sim. Ele era um bom homem e estava disposto a ser cavalheiro.

— A-ahn? S-sobre o que? — Ela parecia ter se acalmado com a companhia de seus gatos e voltou a sentar-se sobre a cama, acariciando a cabeça dos felinos que respondiam com miados carinhosos e um ronronar.

— Seu irmão. — Aquelas duas palavras foram o bastante para acelerar seus batimentos cardíacos. Haru era a única pessoa em sua vida e o fato de ele correr perigo e da possibilidade de estar perto de seu diabólico pai lhe causava calafrios. Tinha medo apenas de pensar que seu pequeno e amado irmão poderia se envolver com a Yakuza.

Kakucho pegou seu celular e mostrou uma foto que recebeu. Era, com toda certeza, Haru. Estava perto de um lugar muito familiar: o submundo de Tóquio, próximo à barraca de Ramen daquele corredor estreito. Na foto, sentava ao lado de homens que também pareciam familiares: cercados de tatuagens, carpas, dragões... Muito, muito familiares.

— Conhece esse lugar? — Ele perguntou como quem já soubesse sua resposta.

— É um esconderijo da Yakuza.

Ele balançou a cabeça positivamente, sem surpresas.

— Agora entende? Ele realmente nos traiu... Aqueles homens? Foram caçar você, com toda certeza. Com medo de que você falasse algo para mim. — Kakucho não queria brigas e discussões dessa vez, apesar de saber que pisava em terreno perigoso. Ela sempre negaria.

— N-não! Você não entende, Kakucho! N-não entende! Meu irmão...

— NÃO ENTENDO?! [Nome], me perdoa, eu sinto muito, mas o seu irmão ESTÁ CAGANDO para você! Ele sabe que eu não sou de blefar e realmente, te mataria naquela hora. Se ele se importasse com você, jamais a deixaria para morrer.

— ...Mas você não me matou. — Contra isso, não tinha como argumentar, mas Haru o conhecia muito bem e sabia que Kakucho não falhava em serviço. [Nome] foi apenas um caso extremamente particular.

— E como se não bastasse a covardia dele, Haru mandou homens da Yakuza irem até o seu apartamento e te apagarem. Sem deixar qualquer vestígio que poderia chegar até ele. Acha que um irmão faria isso? Eu sinto muito, mas ele não dá valor algum para a irmã que tem.

— Impossível, Kakucho! IMPOSSÍVEL! O Haru nunc-

— PARA DE TENTAR ARGUMENTAR, [NOME]!!! Pare de tentar ignorar o impossível, você sabe que eu estou falando a verdade, sua teimosa! Quem mais sabia onde você morava? Nem mesmo eu sabia! Você tem tanta gente assim na sua vida a ponto de quererem te matar? Eu sei que não!

— ... O Haru nunca... — Era impossível não lembrar daquele garotinho doce que vivia atrás dela na infância. Ela praticamente o criou... Ele era o seu porto seguro, uma razão para viver. Apenas ele sabia a infância terrível que tiveram. Possuíam uma conexão inexplicável, ela sabia o que ele estava pensando e vice-versa. Não tinha como isso ser possível. Conhecia o Haru. Ele nunca tentaria machucá-la. — Escuta, Kakucho. Eu conheço meu irmão mais do que ninguém. N-não tem como... V-você tem i-irmãos? O nosso amor... N-nosso amor é inexplicável. O H-haru é tudo na minha vida. E-eu sei que ele não... Não me mataria.

— ...Não. Não tenho irmãos. — Àquela altura do campeonato, ele simplesmente havia desistido de discutir. Acreditava que a mulher estava em um estado irracional de negação.

— ...Escuta. Ele odeia o nosso genitor. Mais do que tudo nessa vida. É-é p-por isso que... Ele se juntou à Bonten. Porque ele q-queria matar nosso pai. Ele o odeia. Se fez isso... É por medo. Está em perigo, sendo o-obrigado por aquele v-verme...

Não sabia os detalhes, mas certamente aquela relação familiar era muito sombria e conturbada. Via claramente o rosto de [Nome] e suas feições se contorcerem ao falar a palavra "pai". Era algo perturbador. O que a [Nome] criança passou?

— ...Por que ele quer matar o seu pai? O que diabos seu pai é, [Nome]? — Não aguentava ficar com aquelas dúvidas, e se [Nome] queria tanto salvar seu irmão, precisava falar.

— ... — Ela tentava falar alguma coisa, mas nada. Absolutamente nada saía de sua boca. De repente, sua expressão começou a empalidecer e parecia estar com falta de ar.

— Calma! Calma! Respira fundo... — Ele pegou em seus braços e aos poucos, ela foi se acalmando e recuperando a respiração. — T-tudo bem... Não precisa falar. Só quando se sentir pronta.

Ela ficou um longo tempo em silêncio, até ele novamente pensar numa maneira de mostrar que estava tudo bem entre eles:

— [Nome], eu disse que você não corre perigo comigo. Não precisa ter medo do seu pai. Ele nunca mais fará nada de mal a você. Nem que eu precise matá-lo.

— K-kakucho... — Os olhos dela mudaram, sentia paz perto dele. — O-obrigada. Obrigada por querer me ajudar. V-você é um amigo para mim agora. — Ela olhou novamente para seus gatos.

— ...Não foi nada. Bom... Continuamos amanhã, então? Quer comer alguma coisa?

— Não tenho fome. — Ela recusou, educadamente.

Ele não quis discutir mais. Concordou e novamente, foi tomar um banho. Ao sair, estava tipicamente sem camiseta. Quando viu seu olhar de advertência, não tardou a colocá-la novamente.

— ...Então. Boa noite. — Era triste vê-lo naquela situação: deitou-se sobre o chão duro. Felizmente, não era tão gelado, mas o viu resmungar silenciosamente quando deitou suas costas. Aquilo não estava certo. A casa era dele, a cama era bem espaçosa... Ele merecia conforto.

— ...Se quiser, pode deitar aqui. — Ela apontou para uma das extremidades da cama, indo diretamente para o outro canto. Ele obviamente, se assustou com a oferta e lançou um sorriso que já dizia tudo o que pensava. Ele certamente a chatearia com suas provocações bobas:

— Hm... Então a senhorita permite que eu deite na minha própria cama, é? — Ele ergueu uma sobrancelha. — Até que enfim algo bom, não aguentava mais receber bronca por tudo o que fazia. Você estava parecendo com uma esposa mandona! Agora, parece com a esposa que quer fazer as pazes.

— ...Quer saber, fique aí. — Fechou a cara com as insinuações. Ela era mesmo assim, tão chata? Será que ele entendeu aquilo de outra forma?

— Nem ferrando. — Ele já estava deitado na cama, totalmente aliviado por enfim, ter um lugar macio para dormir.

Já [Nome], tratou de fazer uma muralha de travesseiros para ninguém invadir o espaço um do outro.

— Para que tudo isso? Vai bloquear minha respiração desse jeito! Tá com medo de eu ouvir seus roncos, [Nome]?

— É necessário. D-delimitarmos o espaço um do outro. — Ela havia feito uma fileira enorme de travesseiros.

— Hahahaha! — Sua gargalhada era com toda, certeza, provocativa. — Ai, [Nome]...

— O que foi?!

— Você é engraçada. Apenas isso.

phantom of the opera - kakuchoOnde histórias criam vida. Descubra agora