Namorar também é bom

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O caminho que ele estava tomando era muito estranho: continuava sem falar nada, como sempre quando queria esconder alguma "surpresa", boa ou ruim. Por fim, suas suspeitas estavam certas: eles pararam na baía de Tóquio.

— Hm? P-por que me trouxe aqui?

Ele sorriu.

— Essa é minha segunda casa. Só para ocasiões especiais. — Assim que saíram do carro, ele começou a agir de uma forma mais delicada: pegou em sua mão e a levou em direção à praia. Haviam algumas lanchas no deque. — Você gosta de vinho, [Nome]?

— Ah, de vez em quando...

— Então hoje você é uma ocasião especial. — Ela não entendeu aonde ele queria chegar com tudo aquilo. As coisas ficaram ainda mais confusas quando pararam em frente a uma das lanchas. Ele tinha as chaves e a puxou para dentro. — O que acha de dormir à beira mar hoje?

— Hm? C-como assim? Dormir com você? Mas e meus gat-

— Você só pensa nos seus gatos? Meu Deus! — Ele revirou os olhos. — Posso pedir para a Elise cuidar deles! — Era uma camareira, até que bem gentil. — Não precisa se preocupar! Apenas relaxe!

— ...Kakucho... — Ela não parecia nada confiante em entrar naquela lancha. — Por que está agindo assim comigo?

Mesmo que se passassem séculos, ele nunca a entenderia.

— Como assim? Agindo como?

— Não entendo. — Ela continuou. — Primeiro, você tenta me matar. D-depois, quer m-matar meu irmão. Depois, me leva pra sua casa. Depois, resgata os meus gatos. — A forma como ela falava tudo aquilo tornou ainda mais cômico. Era mesmo sincera e espinhosa! — Depois, dormimos na mesma cama. Agora quer que eu entre na sua lancha e durma com você?

Ele basicamente havia mudado a sua abordagem: primeiro, foi ríspido e violento, tentou conseguir o que queria com ameaças e intimidações. Agora, estava tentando seduzi-la?

Resolveu devolver na mesma moeda:

— Ué, você preferiria que eu fosse grosseiro como antes? — Ela também riu, já que ele assumiu que foi muito estúpido no início. — Não entendo você, [Nome]! Parece que tudo é motivo para desconfiar! Qual é o problema em aceitar ser feliz de vez em quando? Nem todo mundo é igual o seu pai! Você não tem que ficar vivendo para sempre com pena de si mesma!

— Q-quem d-disse que tenho pena de mim mesma? — Não esperava que ele falaria logo isso. Foi uma surpresa que certamente, a irritou.

— Você não dá valor algum para a sua vida e a sua felicidade. Vive em função do Haru que sumiu por aí e sabe-se lá o que está fazendo! — Antes que ela pudesse rebater, ele continuou. Não queria que isso virasse novamente um dilema sobre a integridade de seu irmão. — Qual a dificuldade em aceitar ser feliz? Eu sei que você teve uma vida difícil, mas eu estou aqui te convidando para ficar comigo por alguns instantes e se divertir um pouco. Parece algo tão ruim assim?

— ...Tá bem. Me desculpe. — Ela admitia que às vezes era muito dura com Kakucho. Ele só queria ajudar, ainda que fosse de maneira estranha. — T-tudo bem... — Acabou aceitando entrar em sua lancha, precisava colaborar com ele de vez em quando, já que ele era o que mais corria atrás de fazer aquela estranha relação dar certo. Em silêncio, entraram no barco e logo, Kakucho os levou para longe da terra. Era até uma sensação boa. Sumir daquele lugar por alguns instantes e ver apenas as ondas quebrando-se ao mar.

— ...É... Kakucho... — Ele até estranhou quando ela o chamou. Geralmente era quieta e somente respondia suas perguntas ou desaforos. Raramente começava uma conversa. — P-por que você está na B-bonten? Não entendo. Você é jovem, u-um bom rapaz... Por que está num lugar assim?

Ele ergueu a sobrancelha, surpreso com "um bom rapaz". Não era o que esperava ouvir dela, que tanto brigava com ele!

— Ahn? Sou um bom rapaz para você? Não sou um monstro que queria destruir o seu "Haru"? — Isso a irritava. Ele guardava mesmo tanta mágoa assim de sua primeira impressão? Que queria que ela pensasse após apontar uma arma em sua cabeça e ameaçar matar seu irmão? — Um bom rapaz, é? Tem noção de quantas pessoas eu já matei?

— ... — Ela balançou a cabeça. — Não me importo. Você... Eu acho que você é a primeira pessoa a ser gentil comigo. P-primeiro, e-eu só pensei que você era o tipo de pessoa que agia conforme os seus interesses, m-mas me enganei. — Precisava admitir que o julgou muito. — V-você é humano.

Ele permaneceu frio e sério.

— ...Não acho que tive escolha. Cresci em um orfanato. Meus pais morreram em um acidente de carro quando eu era criança. Entrei para esse mundo... Por causa de alguém que já se foi. A única pessoa que eu poderia considerar uma família. — Quando parou em um lugar que queria, sentou-se perto de [Nome] para explicar a sua história. — ...Acabou terminando nisso... — Respondeu, com certa indiferença.

Aquilo cortou o coração de [Nome]. Por mais que ele quisesse bancar sempre o frio, o viu naquele momento como um garoto assustado. Assim como ela. Um garoto que nunca recebeu amor. Por mais que sua história fosse trágica, ainda tinha o Haru. Um propósito para se manter firme em seus princípios e alguém que amava. E quanto a Kakucho?

— ...Você não tem ninguém em sua vida?

— Não. — Respondeu, ainda frio.

— Kakucho... — Sua cara triste já dizia tudo. E isso o deixou um tanto desconfortável. Não queria que tudo aquilo virasse uma grande tristeza.

— Não precisa se sentir mal por mim, [Nome]. Eu estou bem! Não quero que isso vire um barco das lamentações!

Ainda que os assuntos que tratassem fossem sempre delicados, [Nome] não deixou de rir. A forma como ele lidava com seus problemas era muito peculiar: simplesmente fingia que eles não existiam.

— Vem cá. — Estranhamente, ela o chamou para sua direção. Apesar de não entendê-la de primeira, ele se aproximou e [Nome] o puxou para seu colo. Antes que ele pudesse questionar a sua estranha atitude, ela o abraçou com força enquanto acariciava seu cabelo. — Às vezes, tudo o que a gente precisa é de um abraço e um pouco de carinho. Deveria tentar de vez em quando, sabia?

— Ah é? — Ele entendeu aquilo como uma provocação. Por mais que estivesse gostando do mimo, acabou se levantando de seu colo e fez o que ela menos esperava: segurou seu rosto e roubou um beijo. Não soube nem ao menos como reagir, já que não esperava aquela atitude. — Namorar também é muito bom, sabia? Deveria tentar de vez em quando.

phantom of the opera - kakuchoOnde histórias criam vida. Descubra agora