O Garoto

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Quinze anos atrás...

Todos sem exceção choravam ao redor do caixão do patrão, tão jovem teve a vida acabada por um acidente de carro, sua morte foi instantánea e não houve chances de ser salvo quando o resgate chegou. Deixou uma jovem viúva e sozinha com toda uma fortuna pra administrar sem a sua ajuda, Cristina sempre foi só alegria e aquele momento tinha lhe transformado numa mulher amarga cheia de rancor, a vida não estava sendo justa. Ao seu lado estava Vicenta sua empregada e confidente e seu filho adotivo o pequeno Frederico que não desgrudava dela em momento algum.

Cristina - Vicenta eu preciso que prepare minhas malas _ estava tão cega pela tristeza que não viu o lindo garotinho se aproximar e abraçar suas pernas.

Vicenta - Frederico Rivero, o que disse sobre ficar aqui dentro? _ pegou o pequeno nós braços _ hoje a patroa não tá bem.

Frederico - patoa num tá bom? _ fez uma carinha de tristeza e fungou _ num fica tisti patoa.

Cristina - Não estou meu bem, eu tô só... _ pegou ele nos braços e quis chorar _ não tenho nada minha vida.

Frederico - vamu blincar? _ pulou no colo dela e deu um beijo babado na sua bochecha.

Cristina - Hoje não posso, mas prometo que em breve eu irei brincar muito com você sim?

Frederico - Tá plometido _ desceu dos braços dela e voltou pra onde a mãe tinha lhe deixado sozinho.

Cristina - Frederico está grande pra idade dele, cinco anos todo esperto desse jeito _ pós a mão na cintura e suspirou lembrando do quanto queria uma família com seu amado.

Vicenta - Ele tem a quem puxar patroa, o pai dele era um peão grande, bonito e charmoso, muito fogoso também, ele também fugiu.

Cristina - Tantos querendo ser pais e tem gente que tem e acaba abandonado os filhos sem olhar pra trás _ suspirou e sentou exausta.

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Anos depois fazenda Bananal...

Frederico trabalhava duro na fazenda, estava prestes a fazer vinte um anos, sua pele morena queimada do sol e os músculos num corpo bem dividido, seus olhos verdes, lábios finos, mas a boca grande fazia o rapaz ser um deus grego da região, as mulheres babavam por ter ele por perto pelo menos por uns minutos e Raquel era uma dessas, a diferença é que ela não disfarçava e ele não queria nada com ela.

Frederico - O que tanto conversa com minha mãe Raquel? _ ele desceu do cavalo e foi até ela.

Raquel - Só vim buscar umas coisas pra patroa, dona Cristina chegou e pelo jeito ela veio pra ficar _ fez a fofoca pra tentar ganhar intimidade com ele.

Frederico - Ela saiu daqui eu era muito guri, tá muito diferente a dona Cristina _ lembrou do primeiro encontro nada agradável enquanto retirava a cela do cavalo pra depois jogar na grama _ mas e você veio ver só a minha mãe Raquel? _ pós as mãos na cintura e ficou sério.

Raquel - Sim e não _ foi se aproximando e abraçou seu pescoço _ vim ver o homem mais gostoso do universo.

Frederico - Não invente, vá vê as coisas da patroa com a minha mãe e me deixe em paz _ largou ela e foi entrando em casa.

Raquel - Ah Frederico Rivero, se você não for meu não é de mais ninguém entendeu? _ sorriu mordendo os lábios com desejo.

Ele passou por Vicenta e parou ao ver o que estava carregando, provavelmente pra entregar a Raquel, segurou no braço da mãe e fez ela parar, e com o olhar examinador viu que ela tinha uma cesta de compotas das mais variadas frutas.

Frederico - Tudo isso é pra patroa? _ segurou pra ela sentindo pesada _ Raquel vai deixar lá?

Vicenta - Sim meu bem, pedi pra levar já que meus joelhos estão me matando _ sentou na cadeira e suspirou, sabia que a idade matava ela aos poucos.

Frederico - Aquela lá não carrega nem o peso do próprio corpo mamãe, deixe que eu mesmo vou levar pra senhora _ beijou os cabelos dela e foi saindo.

Raquel já estava impaciente esperando em pé num sol de meio dia castigador, mas ao ver Frederico com a cesta soube que aquilo era pesado e não ia conseguir levar para casa grande com tanta facilidade.

Frederico - Antes que diga algo Raquel, não vai levar, sou eu que vou _ voltou a colocar a cela no cavalo e montou se equilibrando com a cesta em mãos.

Raquel - Poderia me levar aí não acha Fred? _ subiu um pouco o vestido e sorriu sem vergonha.

Frederico - Já sabe o que vou responder, vai andando e aproveita pra queimar esse teu fogo no rabo de uma vez _ ele tocou o bicho que saiu devagar.

Raquel - Isso não é justo Frederico Rivero _ bateu os pés nervosa e quase correndo foi atrás dele _ um cavaleiro não deixa a dama andando sozinha sabia?

Frederico - Tu não é dama e eu não sou cavaleiro e por isso segue teu caminho e me esquece Raquel _ botou o animal pra correr deixando ela pra trás.

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Em seu quarto Cristina lembrava dos bonitos momentos que viveu naquele lugar e na aparição de Frederico, aquele garotinho já era um homem e bastante desenvolvido pra idade dele. Quando escutou vozes vindo de baixo saiu e fechando o roupão desceu os degraus da escada e deu de cara com uma das empregadas rindo ao lado de Frederico.

Frederico - Então eu deixei ela vindo andando e montei no meu garanhão _ riu lembrando do chilique de Raquel.

Cristina - Acho que fui clara Virginia, não quero ninguém de conversa fiada na minha casa enquanto eu quero dormir em meu quarto _ levantou a cabeça e encarou o rapaz de sorriso faceiro.

Virginia - Me desculpe senhora, o Frederico veio trazer o que me pediu _ mostrou a cesta e foi levando pra cozinha.

Cristina - Agora pode ir seu arrogante _ ordenou sem olhar ele dessa vez _ se quer pegar a empregada que faça isso longe da minha casa entendeu?

Frederico - A Virginia? Não preciso pegar de novo, ela já sabe o sabor dos meus lábios muito bem patroa _ pós as mãos no bolso e segurou o riso.

Cristina - Frederico Rivero, quando se transformou nesse sem vergonha? _ foi até ele pisando duro _ que não respeita as mais velhas.

Frederico - Eu respeito patroa, até mais do que possa imaginar _ olhou ela de cima a baixo e suspirou com aquele corpo de mulherão.

Cristina - Então se retire da minha casa imediatamente! _ apontou a porta de saída _ eu não quero te ver aqui.

Frederico olhou bem no fundo dos seus olhos e deu um sorriso sarcástico, não esperava ser tratado com hostilidade pela mulher que um dia foi sua maior admiração e amor platónico infantil. Continuou a olhar e quando sentiu que ela iria retrucar sua demora foi andando pra fora da casa grande.

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