Capítulo 26

407 58 62
                                    

Londres; Oxford Street; quarta-feira; 10:54 da manhã;

- Mas por que - Gil enfatizou dramaticamente. – repito: por que elas dopariam a Thais pra terminar com seu namoro?

Sarah olhou hipnotizado para o tapete da sala, em sinal claro que estava imersa em pensamentos. Juliette, segurando sua mão, apenas encarou a garota, como se ela pudesse se lembrar de algo que ela mesma não sabia...e estava certa.

- Eu sei por quê. – Sarah disse vagarosa, erguendo a curiosidade dos companheiros. – Thais e Carla iriam à mansão naquela noite. Assim como Pocah e Kerline. Iv pretendia fazer uma noite dos casais...

- Que por motivos óbvios – Ju interrompeu, seguindo a linha de raciocínio. –, não puderam comparecer. Carla e Thais por terem terminado de uma forma tão... Fatídica. E Pocah, claro, porque Kerline fora atropelada naquele mesmo dia.

Eles ficaram um tempo em silêncio, observando um o rosto do outro.

O mistério em que se encontravam chegava até a ser... Literário. O que não era literário, de fato, era o medo que tinham. Era o gelar de suas mãos, o apertar de seus estômagos toda vez que pareciam estar perto de uma conclusão.

Gil respirou fundo, sentindo mais frio do que havia sentindo ao longo de toda aquela manhã. Com o olhar baixo, disse o que todos ali pensavam:

- Seja lá quem tenha sido... não agiu sozinho.

§

Na segunda-feira da semana seguinte, Gil sentou-se à mesa de café da manhã inquieto. Até sua gravata vermelha do colégio, usualmente frouxa, agora estava apertada de uma forma estranha. A blusa social branca estava parte para dentro e parte para fora da calça de pregas.

Borbulhou com a boca seu café com leite, observando atentamente as horas em seu relógio de pulso. Depois de tomar uns dois goles e dar uma mordida cheia no pão doce, respirou fundo: o fato da cadeira a seu lado estar vazia era um excelente sinal.

Apressou-se em terminar o lanche, e assim que o fez, subiu as escadas. Caminhou a passos de formiga no corredor, dando o máximo de si para não pisar em nenhuma tábua solta ou nada que pudesse fazer o menor barulho.

Assim que parou na frente do quarto da prima, abriu a porta devagar, que, apenas para aborrecê-lo, rangeu baixo. Gil murmurou alguns palavrões ao ouvir o barulho feito pela guarnição, mas, para sua imensa felicidade e alívio, Juliette não acordou.

Ela ainda estava lá, enrolada no edredom verde. Sua respiração regular e baixa aqueceu o interior do primo. Gilberto sorriu, voltando até a escada com cautela, e assim que desceu o último degrau, sentiu-se livre para ir à escola: Juliette estava dormindo e não o seguiria.

Gil se lembrava de, juntamente com Sarah, ter pedido a ela encarecidamente para que não frequentasse mais a Highgate. Sentiu que, no fundo, a prima estava relutante com relação aquela ideia, mas na situação inconsciente em que se encontrava, não poderia reivindicar seu direito de ir à aula.

Gil girou a chave nos dedos, alargando seu sorriso e sentindo-se mais confiante. Primeiro porque tinha combinado de buscar Thais em casa, para que pudessem tratar de um assunto sério durante o caminho.

Segundo porque, até onde sabia, a prima estaria a salvo.

§

Assim que ouviu o motor do Civic roncar, Juliette abriu seus olhos. Sentou-se na cama espiando o quarto, certificando-se de que nem o primo e nem a tia estariam vigiando-a.

Jogou o edredom pra longe, deixando a mostra o uniforme que vestia: uma blusa social branca afinada na cintura e uma saia vermelha plissada. Colocou rapidamente os tênis brancos que estavam do lado contrário a porta e levantou-se do colchão, abaixando-se para alcançar a gravata vermelha que tinha escondido embaixo da cama.

GHOST - SARIETTE | ADAPTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora