Londres; Highgate High School; Segunda-feira; 7:40 da manhã.
Juliette saiu do Civic prateado naquela manhã ajeitando seus cabelos soltos e passando os olhos ao redor. Já tinha se acostumado com o clima da Highgate. Com o astral das pessoas. Mas naquele dia, justo naquele dia, parecia que algo estava diferente na atmosfera do colégio. Talvez fosse o fato de que Sarah Andrade a encarava com um sorriso nos lábios, escorada no Audi preto. Talvez fosse o fato de que Karol e Lumena estavam tão ocupadas atazanando outra menina que nem perceberam sua chegada. Talvez fosse o semblante triste no rosto de Bill ao lhe acenar. É, isso tinha doído.
Ela nunca quis ser a causadora de qualquer tipo de desapontamento, principalmente a um garoto tão especial. Juliette respirou fundo virando seu rosto em outra direção, para que suas reflexões sobre Bill não se aprofundassem. Não suportaria pensar em tê-lo rejeitado.
Antes que ela pudesse refletir sobre mais alguma coisa enquanto caminhava pelo gramado do colégio, seus olhos foram atraídos para uma das mesas de concreto que ali havia. Carla estava lá, sentada com um sorriso frouxo, murcho. Ju poderia jurar que nunca tivera visto algo assim em toda vida.
Nenhum sorriso tão murcho... Tão fraco. Nada que é fraco poderia ser chamado de sorriso. Seu coração apertava só de olhar para ela. Aquela menina tinha mais tristezas guardadas no peito do que ela sequer um dia poderia imaginar. A única coisa que fez os pensamentos de Juliette se acalmarem, foi uma garota de franjinha e baixinha, sentada encolhida ao lado das escadas da escola.
A mesma olhava para Carla com olhos tristes. Mas não com olhos de decepção. Com olhos de amante. Tinha aquele olhar que só um amante poderia ter. Que só um amante poderia lançar à sua amada.
- Ju, tenho que ir à secretaria. – Gil murmurou, ao seu lado. – Desculpe não poder te levar pra sala hoje, baixinha. Se cuida. – beijou-lhe a testa, como fazia normalmente.
Ela sorriu, e assim que o primo se afastou, voltou a olhar para Thais e seus olhos de amante. Como alguém assim poderia trair? Como uma menina tão ingênua e apaixonada quanto ela poderia sequer pensar em trair a garota que ama? Porque ela amava. Oh, sim, amava. Isso era uma coisa que ela nunca poderia negar. Se seus lábios dissessem o contrário, seu corpo imediatamente diria outra coisa.
Juliette se recusava a acreditar que alguém como a Braz poderia enganar outra pessoa. Ela não se encaixava na mesma laia do... Nick. Não mesmo.
No momento em que pensou sobre isso, uma dúvida foi acesa em seu peito. Uma dúvida que já estava adormecida por um tempo, mas que sua sede precisava ser saciada antes que se tornasse perigosa.
Mas o que Ju podia fazer? A curiosidade sempre tinha sido um de seus piores defeitos... E uma de suas melhores qualidades.
Caminhou até ela, observando o caderno de rascunhos que ela rabiscava concentradamente. Tão concentradamente que nem percebeu quando Ju se aproximou.
Ju ouviu-a balbuciar algumas palavras enquanto alternava seu olhar do que estava escrevendo para Carla. Algumas palavras que passaram a ter um sentido mais nítido quando ela se sentou ao lado da garota.
- Eu nunca quis que tudo terminasse desse jeito... Mas você consegue pegar o céu azul e transformá-lo em cinza.
Juliette moveu a mão esquerda próxima a Thais, testando se ela tinha alguma reação e notava sua presença. Mas não obteve resultado.
Como alguém podia ser tão pateta a ponto de não notar uma pessoa sentada ao seu lado? Ah claro, porque o amor deixava todos patéticos.
Ela sorriu ao perceber que essa era a única razão para tal falta de atenção. Amor.
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GHOST - SARIETTE | ADAPTAÇÃO
Mistério / SuspenseE se de uma hora pra outra você se visse envolvida em um mistério num lugar que mal conhece? Você correria? Se esconderia? E se todos os seus amigos estivessem envolvidos? Se em todos os lugares por onde você passasse, as pessoas te olhassem torto?