Capítulo 30

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"Duvida da luz dos astros,

Duvida que o sol tenha calor,

Duvida até da verdade,

Mas confia em meu amor."              

William Shakespeare.

O som de água lhe acordou.

Sarah abriu seus olhos devagar, varrendo a sua volta, estava no nada. Era exatamente esse o lugar onde estava...

Nada.

Sentou-se, percebendo que estivera deitada em uma superfície sólida e gelada, coberta pela neblina densa do local. Não via início nem fim, só uma imensidão gélida, enevoada e vazia.

Pôs-se de pé observando suas estes. Ainda usava o terninho preto que vestira para a ópera. Ao lembrar-se disso, levou as mãos na cabeça, que reagiu à memória com um forte latejar.

Ainda conseguia ouvir o barulho de água.

Água.

Talvez fosse para lá onde devesse ir, para perto da água. Caminhou, sentindo seu andar mais leve do que nunca, para onde intuía que vinha o barulho. Depois de um tempo de sua andança, observou uma silhueta preta coberta pela névoa, sentada às margens de um lago.

Aproximando-se, percebeu que a sombra pertencia a uma mulher fina e esguia, que brincava com as águas turvas.

- Ju? – chamou.

Mas quando a garota inclinou a cabeça, atendendo ao chamado, Sarah sentiu que seus batimentos teriam se acelerado... Se ainda tivesse algum. A menina de longos cachos dourados se levantou com um sorriso débil, caminhando até ele e lhe envolvendo em um abraço saudoso. Sarah retribuiu, ainda incerto se o que via era realidade.

- Eu sempre – disse Iv. - Sempre ouvi tudo o que você me disse, meu amor.

Sarah arregalou os olhos. A lembrança de Bill apontando uma arma para Ju aparecera nítida em sua mente.

A lembrança da menina fechando os olhos para receber a morte. A lembrança de ter se jogado na frente e ter tido o peito perfurado.

- Eu morri? – perguntou em um murmúrio.

Ivane a fitou com os olhos magoados. Era possível ver que ela segurava o choro.

- Ainda não.

- E onde nós estamos? – ela disse ainda absorvendo as palavras da menina.

- Na Passagem. – ela esclareceu. – É pra onde as pessoas que estão entre o mundo dos vivos e dos mortos vão.

Sarah sorriu fria.

- Claro.

- Sarah, será que você não entende? – ela voltou seus olhos para os suplicantes de Ivane. – Podemos ficar juntas pra sempre. Eu e você, como nós tínhamos planejado. Eu te amo.

Sarah olhou Iv dos pés a cabeça com o ar suspeito. Fixou-se nos olhos da loira erguendo uma sobrancelha. Sua face não estava nada satisfeita.

- Se me ama tanto, por que mentiu pra mim?

- Como? – ela pareceu surpresa.

- Por que disse que ia morrer, Ivane?

Ela ficou com a expressão de confusão durante algum tempo, mas depois retomou o fio da meada.

- Porque senão você nunca me perdoaria. Você nunca... Nunca teria me pedido em casamento.

- Eu te pedi em casamento porque eu te amava e queria que tivesse vivido tudo antes de partir, Iv.

GHOST - SARIETTE | ADAPTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora