Capítulo 27

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Londres; Highgate High School; quarta-feira; 11:55 da manhã;

- Saiam da frente, saiam da frente!

Todos os alunos que esperavam na fila da cantina, no refeitório do colégio, se viraram para trás para ver a quem pertencia a voz que gritava. Thais, ao perceber que fora notada, deu um sorriso singelo e disse, com os ombros encolhidos:

- Mamães na frente. – e segurou Carla pelos ombros, empurrando-a, mesmo contra a vontade da menina, para frente dos colegas.

- A Thais é tão indiscreta. – Pocah comentou com ar de tédio, da mesa onde normalmente se sentava no almoço. Kerline, ao seu lado, balançou os ombros.

- Pode até ser indiscreta, mas ainda assim é fofa. – ela remexeu na bebida a sua frente com o canudinho, olhando para Gil e percebendo o quão alienado o garoto estava. – Gil? – perguntou, de forma que o menino erguesse sua cabeça para lhe mirar os olhos. – Cadê a Ju?

Já tinha se passado mais de uma semana que as aulas voltaram na Highgate. Mais de cinco meses que Juliette tinha classes naquele colégio e ainda assim se esquecia de que depois do recreio tinha aula de química e não literatura. Quando Peter, um garoto de sua sala, a avisou que estava levando para estudar no intervalo o livro errado, Ju apressou seus passos para voltar a seu armário no corredor do terceiro andar.

Depois da semana anterior, que tinha sido tranquila, Sarah aparentemente já a estava deixando ter mais liberdade. Vih nem se deu ao trabalho de olhar no rosto de Ju depois da volta às aulas.

O fato de Andrade estar mais relaxada significava que, apesar de seu estômago ter esfriado com o pensamento, Juliette estava sozinha naquele largo corredor. Tão sozinha que era capaz de escutar o eco do barulho dos próprios passos no corredor; o barulho metálico do cadeado ao abri-lo.

Tensa, Juliette puxou a porta do armário, pensando que talvez fosse melhor ter pedido para Sarah acompanhá-la. Mas depois riu do próprio pensamento. Não era ela mesma que dizia não ter medo da morte? Então por que, ela se perguntava, seus joelhos estavam tremendo tanto?

Quando esticou seus dedos finos para alcançar o livro azul, uma mão pesada e fria segurou seu ombro. Juliette segurou um grito, inclinando devagar sua cabeça para trás no intuito de ver quem era. Mas para seu imenso alívio, deu de cara com um par de olhos castanhos que a encaravam divertidamente.

- Por que essa tensão toda, Freire? – perguntou Rodolffo, um garoto da turma A, a quem tinha sido apresentada na festa de Lumena.

Juliette olhou em volta dele, pelo corredor. Nenhum sinal de vida. Apenas ela, ele e a luz que refletia nos cabelos castanhos do menino, vinda das inúmeras janelas de vidro.

- Hm... Você está sozinho? – ela perguntou baixo, depois se sentiu estúpida pela pergunta: era óbvio que ele estava sozinho.

Rodolffo riu.

- Estou, Freire. Calma. Não faço parte de uma gangue que quer te sequestrar ou sei lá o quê.

Juliette transformou seu olhar do alarmado para o sério, sem gostar muito daquela brincadeira. Aliás, quem gostaria de uma brincadeira como aquelas quando, realmente, se tinha sido sequestrada por uma gangue?

Ele pareceu perceber o erro, pois deu um pigarro e continuou:

- Desculpe por isso, eu sou muito ruim com piadas.

- É mesmo. – a menina concordou.

Rodolffo se encostou nos escaninhos ao lado de Ju, admirando-a como se ela fosse alguma jóia rara. Juliette corou, só então parando para perceber o bronzeado do menino.

GHOST - SARIETTE | ADAPTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora