17° Capítulo. Uma nova vida.

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17° Capítulo.

Daniel.  



Olhando através do vidro, pode-se ver uma pequena coisinha dentro da incubadora lutando com tudo o que tinha para se manter vivo. Ele não tinha ideia de que era um humano ou o que era a vida, mas lutava por ela. Daniel nunca tinha imaginado como era amar alguém tão profundamente. Quando recebeu a notícia de que Belinda estava dando à luz ao filho deles, sentiu muito medo, pois ainda não era a hora dele nascer. Se acontecesse alguma coisa com eles, Daniel morreria de culpa e tristeza. No entanto, ao chegar e ver seu lindo filho, uma onda de emoções o atropelou: medo, amor, dor, felicidade e ansiedade, mas o maior de todos era o amor.

A criança era rosa e cabia na palma de sua mão. Sua pele era tão fina que era possível ver suas veias. Um pequeno aperto poderia quebrar algo. A enfermeira disse que ele poderia pegá-lo por alguns instantes, mas Daniel não se atreveu a fazê-lo. No entanto, sentir o calor de seu filho foi suficiente para fazer com que as lágrimas rompessem a barreira dos olhos. Sentiu-se como uma criança novamente, chorando sozinho diante de seu filho, pedindo perdão a Deus por todos os pecados e agradecendo pela dádiva de tê-lo.

Ali não estava mais o mesmo Daniel de antes, agora só existia o pai do Gabriel, seu lindo anjinho. Belinda teve que ser sedada novamente, pois estava muito nervosa e não conseguia se acalmar, mesmo depois de saber que Gabriel estava bem e vivo. Durante toda sua vida, ela teve questões que nunca foram esclarecidas. Mas agora que era mãe, algo se agitou dentro dela, era uma sensação de epifania. Daniel sempre se perguntou o que tinha de errado consigo para não ser amado por seus pais como as outras crianças eram, se era mau ou se simplesmente foi trocado na maternidade. Mas a grande verdade que descobriu ao segurar os dedos frágeis e quentes de seu filho era: seus pais eram apenas seres humanos que nunca deveriam ter se conhecido, eles é que eram o problema. Nunca mais deveria gastar sua energia ou tempo tentando ser alguém por quem eles se arrependeriam de negligenciar.

O mundo era grande e vasto, a vida era curta e o tempo passava tão rápido. O próximo mês veio como um sopro, e maio estava estranhamente quente e abafado. Gabriel já estava com mais de 3kg, com pulmões fortes e tinha superado algumas complicações adquiridas no hospital. Ele era tão doce e quieto que tinha conquistado quase todas as enfermeiras. Seus lindos olhos acinzentados tinham transformado uma mulher histérica e vaidosa em um cordeiro. Belinda nunca pensou o que era amar verdadeiramente alguém até que Gabriel parou de chorar assim que sentiu o toque quente de suas mãos e ouvir a sua voz. Ela achava que amava Daniel, mas agora sabia que usaria seu ex-amante como barreira para salvar seu filho. Hoje era o último dia de exames e, se estivesse tudo bem com o pequeno Gabriel, ele poderia ir para casa.

Na recepção da maternidade o homem de negócios assinava todos os documentos do seguro de saúde, estava tão concentrado que nem tinha notado alguém parado ao seu lado, a mulher na faixa dos 60 anos segurava uma bolsa nas mãos, ela era inteira e um pouco esticada, mas tinha nos olhos um olhar cansado e quem sabe triste. –Dani?

Daniel sabia de quem era aquela voz, mas evitou olhar no rosto que lhe feriu tão profundamente. –O que quer Socorro? Se eu não me engano o dinheiro caiu na sua conta esse mês.

–Eu quero ver o meu neto, não posso? –Ela tinha um tom arrogante, mas logo colocou uma expressão arrependida no rosto, quase como se sentisse de verdade.

–Não me lembro de ter mãe, amenos que eu tenha algum irmão que desconheço que tenha um filho nesta mesma clínica. –Ele finalmente olhou nos olhos daquela mulher que anos atrás disse palavras tão dura que partiram não somente seu coração, mas também sua alma, desde aquele dia ele passou a dizer que ela estava morta, porque era daquele jeito que ele se sentia.

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