13 - ' Todo Mundo Usa'

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Não consegui tirar o olho de Natasha a noite toda. Sentia-me mal por todo mundo curtir tanto com a cara dela, mas verdade é que ela ficava uma fofinha quando estava sem graça. Suas bochechas ficavam vermelhas, ela baixava os olhos para o colo e puxava o lobo da orelha esquerda.

Caraca, acabei de usar a expressão uma fofinha como se estivesse falando da porra de uma cadelinha. Esperem um instante, não foi isso que eu quis dizer. É claro que se ela fosse uma cadelinha estaria trepando com algum cachorro, pois era supergostosa. Portanto, seria realmente uma cadela no sentido pejorativo.

Porque… fala sério! Que cachorro não gostaria de dar um confere naquele rabo?

Puxa, eu precisava parar de assistir ao Animal Planet. Natasha não era uma cadelinha – trepando ou não. Ponto final.

Passei por momentos difíceis para conseguir terminar meu jantar. A lasanha estava deliciosa, mas eu só conseguia pensar em Natasha dando prazer a si mesma com um vibrador.

Ou com a mão.

Ou com um vibrador e a mão.

Ou com um vibrador, a mão dela e o meu dedo.

Ou com… Ei, se liga aqui, sr. Pau Duro.

Eu realmente tinha problemas quando se tratava da mulher que eu acabara de conhecer. Uma parte de mim tinha vontade de decepar a cabeça do tal do Max, apenas por ele ter conseguido tocá-la, beijá-la e penetrá-la. Só que quando ela terminou a história, eu só queria encontrá-lo para poder apontar para a cara dele e gargalhar. Que tipo de mané tentava transar com uma mulher no sofá da sala sabendo que seu pai morava lá e podia entrar e sair de casa quando bem quisesse? Muito esperto, cara! Foi nesse momento que eu parei de sentir ciúmes do sujeito. Agora, tudo que eu queria era mostrar a ela como um homem de verdade agia. Senti uma necessidade irracional de mostrar-lhe tudo que ela estava perdendo.

Beleza, porque eu sou o rei de tudo que tem a ver com sexo, certo? Meu pau consegue fazer com que mulheres experientes chorem baixinho pelas ruas, sentindo a falta dele.

Tudo acabou se transformando num festival de idiotices à medida que os homens foram bebendo cada vez mais e as mulheres começaram a trocar ideias sobre o nome da loja de Hill e Natasha. Não sei por que todos rejeitaram Cunnilingus Caramelizados. Esse era brilhante! Senti vontade de chupar um pirulito psicodélico colorido, esfregando a espiral melada entre as pernas de Natasha, para depois seguir a trilha adocicada com a língua.

Então eu me lembrei de uma vez quando estava no ensino fundamental e guardei um pirulito desses chupado pela metade e ele acabou caindo em uma das gavetas. Encontrei três meias, um lápis e um soldadinho grudados nele um mês depois.

Provavelmente não era uma boa ideia colocar algo melado assim perto de uma vagina, muito menos na vagina da Natasha. Nenhum mal poderia acometer aquele espaço sagrado.

Provavelmente eu estava imaginando coisas, mas juro que toda vez que eu fitava Natasha, ela desviava o olhar. Sorri por dentro, achando que talvez ela também estivesse olhando para mim. Sabia que Drew tinha razão. Precisava parar de fantasiar sobre uma garota que nunca mais iria reencontrar. Afinal, já fazia cinco anos, pelo amor de Deus. Eu estava agindo feito uma donzela esperando o príncipe encantado surgir num cavalo branco. Era bem capaz dela estar tão feia, agora, quanto o Sloth, dos Goonies, e talvez cheirasse pior do que o saco suarento de Drew. Eu tinha tentado esquecê-la embarcando num relacionamento com Tara alguns meses depois daquela festa. Tinham se passado quase cinco anos e eu continuava preso à velha mania de criar fantasias sobre uma pessoa que eu nunca mais iria reencontrar. Eu deveria ter sabido desde o início que o namoro entre mim e Tara não resultaria em nada de bom.

Passávamos a maior parte de nosso tempo juntos em algum tipo de briga ou discussão. Tara tinha um ciúme quase psicótico e detestava quando eu não me comportava do mesmo jeito quando um homem olhava para ela. Eu devia ter esperado por alguém como Natasha: uma garota doce, divertida e inteligente; alguém que não tinha um lado B estranho, como Tara. Agora, bem ali na minha frente, estava uma gata maravilhosa que me fazia pensar em mil sacanagens só de vê-la respirar. Eu precisava acabar com aquela paranoia e arriscar um pouco.

Além do ciúme e das brigas constantes, eu sabia que um dos principais motivos de Tara e eu não termos dado certo foi o fato de eu não ter me dedicado cem por cento à relação, pois não conseguia deixar de achar que ela, a garota da festa, poderia estar lá fora à minha espera, em algum lugar.

Isso e o fato da periquita de Tara e as Havaianas dividirem o mesmo slogan: “Todo mundo usa”.

Nossa, estou divagando.

Eu precisava colocar um ponto final nessa fixação idiota por uma garota misteriosa e sem rosto que poderia muito bem ser apenas um produto da minha imaginação. Precisava me arriscar com alguém que estava sentada bem ali, diante de mim, senão era capaz de eu ficar sozinho pelo resto da vida.

E cá estava eu, tão ocupado em contemplar minha vida patética que nem percebi que Natasha não estava mais na minha frente e tinha se levantado da mesa para ir embora. Já estava chegando ao saguão, pronta para sair, quando eu me liguei no lance.

Fiquei ali sentado, mesmerizado, olhando para as suas costas (sua bunda, na verdade, confesso) por tanto tempo que Drew me deu um soco no braço. Sem sutileza nenhuma, apontou com a cabeça na direção dela e, subitamente, percebi que todos os olhos estavam grudados em mim. Todos me olhavam com cara de “tá esperando o quê, babaca?”. Hill estreitou os olhos para mim e, vou ser sincero, foi quase assustador. Pulei do sofá, saí correndo da sala e a peguei no instante em que acabava de vestir o casaco. Dei a volta em torno dela, abri a porta e me coloquei em posição de sentido.

Ela pareceu surpresa pela minha aparição súbita e pulou ao ouvir o som da minha voz e da porta que se abriu. Eu não conseguia tirar os olhos dela. Precisava beijá-la. Precisava beijá-la tanto quanto precisava de ar. Que porra essa mulher estava fazendo comigo? Antes de eu bancar o completo idiota babando ou pregando-a na parede para poder atacar seus lábios, ela se virou e passou pela porta sem me dirigir a palavra, mesmo depois que eu me ofereci para acompanhá-la até o carro. Senti um desejo irracional de passar mais tempo com ela. Queria descobrir o que a fazia enrubescer (além do papo sobre sua vagina), que canções estavam na lista de favoritas do seu iPod e qual o seu livro de cabeceira. E também queria ouvi-la dizer meu nome.

Ah, que se dane: o que eu queria mesmo era ouvi-la suspirar, gemer alto e gritar meu nome.

E disse isso a ela. Bem, não tudo. Não queria que ela solicitasse à justiça uma ordem de restrição contra mim. Reparei que os cantos de sua boca abriram um pouco quando pronunciei seu nome, quase como se ela estivesse feliz por me ouvir. Por um instante, achei que ela fosse entrar no carro correndo e sair cantando pneu sem me responder. Mas foi nesse instante que ela murmurou algo que eu mal ouvi por causa do vizinho, que ligou o motor do carro na casa ao lado.

As palavras que ela pronunciou fizeram minha boca abrir de espanto e trouxe para o foco principal das minhas lembranças um sonho que eu tivera recentemente.

– Pergunta qual é o meu filme favorito.

Mas ela interrompeu meus pensamentos pedindo que eu ligasse para ela.

Quando a ficha caiu e descobri onde tinha ouvido essa frase antes, o carro já tinha saído da vaga e ganhava velocidade rapidamente.

Sweet Malice ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora