36 - Coração de Babuíno ou a Verdade?

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Juro que não sei por que fiquei tão preocupada com a possibilidade de Steve pirar quando eu contei que ele era o pai de James. Isso me provou mais uma vez o quanto ele era maravilhoso.

Enquanto Steve colocava James na cama novamente, peguei a bolsa que tinha levado com coisas para passar a noite, tirei a camiseta regata e o shortinho que levara para usar como pijama e os vesti. Escovei os dentes, voltei para a cama, me encolhi debaixo das cobertas e esperei a volta do meu amor. Já começava a pegar no sono quando a cama afundou ao meu lado e senti os braços dele me enlaçando por trás, pela cintura. Sorri e me aconcheguei ao seu corpo quentinho.

– Está tudo bem com James? – murmurei, sonolenta.

– Tudo numa boa. Ele decidiu que não estava mais com sede, mas me obrigou a ler uma história. E entramos num acordo quanto ao meu nome: “Paizão” por enquanto – revelou, com uma risada satisfeita.

– Se deu bem. Duas semanas atrás ele só se dirigia a mim como “Chatilda”.

Fiquei quietinha ali, aninhada nos braços de Steve, e aquele me pareceu o lugar mais confortável onde eu tinha estado em toda a minha vida.

Durante cinco minutos.

Essa era a prova de que tudo que os casais apaixonados fazem nos filmes é pura baboseira, maior mentira. O braço de Steve ficou debaixo do meu pescoço, debaixo do travesseiro, o que deixou minha cabeça meio torta, num ângulo estranho. Pressenti que aquilo ia acabar num belo torcicolo. Comecei a suar mais que puta em confessionário ao sentir o outro braço dele pesar e me apertar com força a cintura, ao mesmo tempo que suas pernas se entrelaçavam com as minhas. Senti a bunda suar e os cabelos da perna dele fazendo cócegas nas minhas, como se estivesse sendo picada por centenas de muriçocas.

Acho que pegaria muito mal eu chutá-lo para longe de mim, certo?

Mexi o corpo só um pentelhésimo de milímetro. Não queria que ele achasse que eu não gostava de dormir de conchinha, mas estava enlouquecendo por me obrigar a permanecer completamente imóvel. Talvez se eu ficasse bem quietinha, calada e petrificada, ele pegaria no sono e eu o empurraria para longe de mim. O casal Cunnigham estava absolutamente certo por dormir em camas separadas no seriado Dias felizes. Era por isso que as pessoas naquela época acordavam com ar tão calmo, descansado e jubiloso. Marion não tinha a perna cabeluda de Howard se esfregando nela a noite toda.

– Pode parar, Natasha – sussurrou Steve, juntinho do meu ouvido.

Merda. Agora a coisa ia ficar tensa e esquisita. Tínhamos acabado de transar pela primeira vez em muitos anos e eu estava doida pra dizer “chega pra lá para eu conseguir dormir direito”. Sou a pessoa menos romântica do mundo.

– Parar com o quê?

– Você está se remexendo e suspirando há mais de dez minutos – replicou ele.

Tenho síndrome de Tourette, doença dos tiques compulsivos e uma condição chamada “coração de babuíno”. Tudo isso somado faz com que eu me sacuda muito e suspire o tempo todo sempre que um troço cabeludo encosta em mim.

Bosta, não era eu que vivia ensinando a James que devemos ser honestos? E ali estava eu, tentando achar um jeito de dizer a Steve que eu tinha órgãos de macaco, em vez de simplesmente lhe contar a verdade.

– Sabe o que é?… Eu nunca passei a noite com ninguém, antes. Isto é, com exceção de Hill, mas sempre estávamos bêbadas.

Steve quase tossiu de tanto rir ao me ouvir dizer isso.

– Por favor, repita essa história. Devagar e com muitos detalhes – pediu, baixinho.

Eu ri e dei um tapa no braço dele, que continuava me envolvendo a cintura.

– Estou falando sério! – reclamei.

– Eu também. Vocês estavam nuas quando dormiram juntas, não estavam?
Por favor, conte que vocês estavam peladinhas – suplicou.

Coração de babuíno ou a verdade?… Coração de babuíno ou a verdade?…

– É que meu pescoço está torto, doendo muito, e sinto tanto calor que o cobertor vai entrar em combustão a qualquer momento – despejei, sem pensar duas vezes.

Steve ficou calado. Por um tempo longo demais.

Merda, feri seus sentimentos.

– Puta que pariu, graças a Deus! – reagiu ele, afastando os dois braços de mim. – Meu braço esquerdo está formigando e minhas pernas estão dormentes há quinze minutos!

Sweet Malice ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora