Capítulo 10

47 3 2
                                    

Manhã de sábado, Mariana acordou com cheirinho de pão francês assado na hora entrando pela janela do quarto, pois havia uma padaria bem pertinho, na rua perpendicular de onde ficava o prédio de Paula. O apartamento era grande, cerca de 120 metros quadrados, com 3 quartos e 1 escritório. A sala ampla possuía um enorme e confortável sofá, retrátil e reclinável, em tom marrom escuro e bem fofo, daqueles bem gostosos de sentar e de dormir também. Nele, Mariana passou metade da tarde do dia anterior dormindo, quando chegou esgotada. Resultado claro da ciranda emocional e da loucura do faz mala, carrega mala pra cá e para lá, tudo sob a tensão de ser "pega no pulo".

Do outro lado da sala, havia uma mesa de jantar de 6 lugares com cadeiras de espaldar alto em madeira e forração estampada em tons de marrom, combinando com o sofá. A cozinha simples, porém, bem equipada, era digna de um chef. O apartamento, embora não fosse luxuoso, era decorado com muito bom gosto.

Paula e Beto deixaram o apartamento mobiliado. Como Beto teve que assumir o restaurante em Braga com urgência, não pôde se ocupar desta questão. Ele foi antes de Paula, que ficou para organizar os documentos escolares da filha. Embarcaram quase dois meses depois de Beto, acompanhadas de Raji, o gato siamês xodó da família. Paula até tentou vender parte dos móveis e eletrodomésticos antes de sua ida, mas não conseguiu. Decidiram, no entanto, preservar o apartamento, pois tinham planos de voltar para o Brasil em dois anos para realizar o sonho de Beto, de ter seu próprio restaurante.

Era um apartamento aconchegante. Mariana escolheu a suíte principal, por ser posicionada para o sol da manhã. Nem havia observado que era bem do ladinho da chaminé da padaria da rua perpendicular, de onde vinha aquele cheirinho delicioso ... hummmmm... O cheiro era irresistível e lembrava sua infância, num tempo em que comia pão francês quentinho com a manteiga derretendo no café da manhã ... salivou! Decidiu descer até a padaria e provar aquele pão tão cheiroso.

Ao chegar lá percebeu que a melhor opção para comer o pão quentinho seria comer lá mesmo, já que a fila do caixa estava grande e o pão esfriaria até voltar. Foi até o balcão onde serviam os lanches e pediu seu pão francês na chapa com manteiga. Após comer, dirigiu-se para a fila do caixa. A padaria não era grande e logo o espaço foi invadido por um grupo maior de pessoas.

Sem querer, um homem apressado esbarrou nela. Naquele momento, ela tomou um tremendo susto. Por um instante, passou pela sua cabeça a possibilidade de ser Vinícius. Mas logo seu coração abrandou, afinal ele estava há quase 1.500 quilômetros de Goiânia e, na pior das hipóteses, se tivesse voltado, não teria como saber onde estava. O homem, muito educado, pediu-lhe desculpas pelo acidente. Ela nem sequer olhou direito nele, talvez pelo medo que lhe acometeu.

Na volta da padaria encontrou-se com Janete, que a cumprimentou, sempre simpática. Mariana aproveitou para pedir informações sobre o comércio local, visto que ela precisaria se programar e fazer algumas compras básicas. Ouviu de Janete a orientação de onde ficava a farmácia, o mercadinho e até a feira livre que acontecia sempre aos domingos há poucos metros dali. Ótima informação. Mariana pensou em aproveitar a feira na manhã seguinte, pois apreciava frutas fresquinhas. Por hoje ficaria com a comida do aplicativo e passaria o dia ordenando seus planos. Precisava resolver logo o que fazer dali para frente.

—*—

Miguel acordou um pouco atrasado, se arrumou rapidamente e decidiu tomar café da manhã na padaria. Mas a que ficava ao lado de sua casa estava cheia. Resolveu tomar café em outra padaria perto dali, no Setor Pedro, vizinho ao seu setor. Era uma padaria menorzinha, mas fazia o melhor pão francês das redondezas e, de tabela, um excelente misto quente.

Ao estacionar na padaria, viu um grupo grande de pessoas se aproximando. Percebeu que, se quisesse chegar a tempo em seu compromisso, deveria se apressar de modo a ser atendido antes do grupo de pessoas que, na certa, monopolizariam os atendentes da pequena área de lanches. Apertou o passo e, sem querer, trombou com uma jovem que estava na fila do caixa. Apressou-se em pedir-lhe desculpas. Ao olhar no rosto da bonita jovem, percebeu um olhar assustado e triste. Envergonhado por tê-la importunado, reforçou o pedido de desculpas. A jovem pagou e foi embora. Miguel, do balcão de atendimento, observou-a, sentindo-se mal pela possibilidade de haver perturbado a paz de alguém com olhar tão triste.

Reconstruindo o Destino [Degustação: DISPONÍVEL NA AMAZON]Onde histórias criam vida. Descubra agora