Capt 25 - Zoya Dmitry.

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Haviam se passado 3 dias desde a última ida ao complexo terrorista para visitar a esposa de Samire Nalla, desde então nenhum sinal deles, eu continuava com meus afazeres diários. O clima era cada vez pior no acampamento eu e Josh praticamente não nos falávamos desde o dia em que ele me implorou para eu desistir e não ter que me levar para casa em um saco preto morta. Desde aquele dia as poucas horas de sono que conseguia ter eu tinha pesadelos comigo sendo morta e ele me levando no maldito saco preto, era impressionante como o psicológico da gente podia nos destruir se deixássemos e acredite o meu estava fazendo um estrago grande.

Mas hoje de todos os dias eu não podia perder a cabeça hoje era esperado 3 caminhões de ajuda humanitária para o acampamento e não havia um único voluntario que não tivesse nervoso, entregas de comidas em campos de refugiado sempre são um problema, mas aqui no chifre da África era caso de vida ou morte. A ONU e inúmeras instituições não governamentais mandam a comida para os necessitados, para os famintos, para as populações desnutridas e que estão morrendo de fome, mas muitas vezes parte dessa comida não chega a eles, ela é roubada por milícias locais que sabendo que controlam a comida, controlam uma população esfomeada. Somália não era para amadores além dos grupos terroristas existiam várias milícias ou clãs rivais reivindicando parte de territórios.

Nosso suprimento médico e alimentar estava chegando ao fim e precisávamos manter local funcionando, além das centenas de pessoas que moravam no acampamento por dia mais centenas passavam por aqui, famintas fugindo de suas casas de milícias, de terroristas de brigas entre clãs, essas pessoas caminhavam dezenas, centenas de km de distância a pé e muitas delas em estado de desnutrição tentando sobreviver, mas muitas delas nem sobreviver a longa jornada sobrevivem, infelizmente não tínhamos como colocar todos pra dentro, era impossível, não tínhamos condições de estrutura, então muitas vezes dávamos um prato de comida e elas partiam, algumas delas para sua morte

Ser diretor de um campo de refugiados não era tarefa fácil, apesar de possuir segurança armada no campo, maioria das vezes soldados da ONU, não podia usa-los com frequência porque tudo podia se desencadear em um incidente internacional com consequências catastróficas então vc tinha que ser bom em negociações porque vc tinha constantemente que negociar com monstros líderes de milícia, terroristas e afins para poder cuidar e alimentar o povo deles, ara absolutamente surreal.

Por volta de 20 milhões de pessoas estavam com fome só no chifre da África, vc acrescenta pobreza extrema, seca seguidas, praga de gafanhotos, guerras civis, grupos terroristas e vc tem todos os motivos para escassez de alimentos nessa região e aí quando conseguimos trazer um pouco de alimento para essa gente tão sofrida ainda se tem muitas vezes que brigar ou negociar com os filhos da puta responsável pelo povo está passando fome, para vc poder alimentá-los. Era de um absurdo sem tamanho, mas essa era realidade nua, crua e dolorosa dessa gente.

Por volta de 13h da tarde os 3 caminhões escoltado por um grupo de soldados da ONU chegou ao acampamento, eu estava sentada em um banco do lado de fora de uma das tendas da enfermaria vendo a cena de partir o coração. As pessoas que estavam do lado de fora do acampamento tentando entrar literalmente tentavam de todo jeito roubar a comida que era para eles, era surreal soldados corriam para os portões tentando aplicar força e colocar os caminhões para dentro, tiros ao alto foram disparados tentando dispersar as pessoas, mas nada as afastava dos caminhões. Colocar em palavras o que eu estava sentindo naquele momento era impossível, era uma incapacidade sem tamanho. Como nós vivemos nossas vidas diariamente, confortavelmente com acesso a saúde, educação, lazer e inúmeras refeições por dia e não somos agradecidos? Eles literalmente estavam pisando uns nos outros para tentar chegar aos sacos de grãos, uma saca de grãos rasgou e caiu no chão e as pessoas literalmente catavam do chão com areia e tudo em suas roupas até o ultimo grão, mulheres, crianças, homens e idosos todos sem exceção lutando por grão de comida, eu já vi muita merda na vida com meus voluntariados, mas essa cena na minha frente me quebrou de todas as maneiras possíveis, era uma daqueles momentos na sua vida que muda tudo...

AMOR SEM FRONTEIRAS (REVISANDO...)Onde histórias criam vida. Descubra agora