Capítulo 01

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Bárbara

Fechei os olhos jogando a fumaça pro ar.

Meu pai estava pesando na minha mente a semana inteirinha e eu não aguentava mais. E pra ajudar no bom humor dele, o chato e a minha mãe tinham discutido por minha culpa. Só porque eu saí escondida na noite de sábado.

Óbvio que eu saí escondida. Se ele não quis deixar, eu tive que pular a janela, né?

Eu até entendia o fato de ele não querer que eu saísse, só que eu não sabia do que tava rolando no dia. Mas ele precisava me dar um pouquinho mais de confiança, até porque, eu nem era mais de menor.

Tava rolando invasão no morro bem no dia da minha "fuga" e a polícia tentava a todo custo caçar o Grego. Mas a tropa era braba e não peidava pra os vermes.

No fim das contas eu só fugi pra ir encontrar o Lucas, o meu primo maravilhoso e melhor amigo, porque a gente ia partir pra um bailinho que ia rolar. Mas como teve a invasão, ele nem pode sair porque precisou trabalhar e eu tive que ficar trancada na casa dele até os tiros pararem e eu voltar pra casa pra encontrar o surtado do meu querido pai.

Coloquei o beck na boca mais uma vez, puxando de novo, quando o meu pai entrou na pracinha, com o olhar focado na minha direção. Ele veio direto sentar do meu lado, e colocou um baseado na boca, sem falar nada comigo.

Nossa relação era assim. Ele me amava. Ele era tudo pra mim. Mas era foda, porque a gente era igual. Então tudo que me irritava nele, eu fazia exatamente da mesma forma.

Ret: Eu já não te mandei parar de fumar maconha? - ele perguntou, soltando a fumaça do cigarro dele.

Eu dei de ombros.

Bárbara: Eu não me lembro - menti.

No começo, quando me pegou fumando maconha pela primeira vez, eu achei que fosse ser expulsa de casa por ele. Minha mãe aceitou de boa, porque eu cresci vendo isso em casa, com eles e com os meus tios, então pra ela estava suave. Mas o meu pai se irritou legal e disse que se me visse com um baseado na boca mais uma vez, ele ia me fazer engolir.

Ele me viu fumando de novo, não só uma, mas várias vezes. Só que, diferente dele, não era um vício ainda. Eu fumava só pra aliviar a mente, quando estava muito estressada.

Bárbara: Você se resolveu com a minha mãe? - olhei pra ele pelo canto do olho, mas quando vi que ele retribuía da mesma forma, eu desviei, encarando qualquer ponto que não fosse a sua pessoa.

Ret: A gente tá tranquilo - concordei com a cabeça - Fica tranquila comigo também, pirralha.

Rolei os olhos, ao ouvir o meu apelido.

Bárbara: Tu faz cena e depois volta com o rabinho entre as pernas.

Ret: Mede tuas palavras, porque tuas atitudes não foram maneiras - eu joguei a ponta do cigarro no chão, tentando curtir a onda, mas ele estava atrapalhando - Se eu te falei pra não sair, não era pra sair.

Bárbara: Me desculpa, papai - debochei - Não era mais fácil ter me falado o motivo pela qual eu não poderia sair? Eu com certeza me contentaria em ficar em casa se soubesse que os canas estavam invadindo o morro.

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