Capítulo 02

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Canalha

A Bárbara abraçou o meu pai, dizendo pra ele que ia aparecer lá em casa quando desse, e vazou mantendo a cara feia pra mim e pro Ret.

Eu só ouvi a risadinha do meu pai, quando dei uma piscadinha pra ela, acompanhando com o olhar conforme ela ia saindo da pracinha.

O amor da minha vida, papo reto. Eu era apaixonado por aquela mulher.

Linda, gostosa e braba. Tudo pra mim.

Claro, eu gastava pra caralho com a cara dela, e todo mundo entrava na onda, porque isso deixava a rabugenta toda e estressada e já vinha com várias patadas pra cima do cara. Mas no fim das contas nem era tão brincadeira assim.

Pô, sou cachorro solto, mas era só a Babi dar uma moral maneira que eu ia ser o cachorro domesticado dela.

Mas também não ia rolar, por mais que eu gostasse da Babi. Ela era uma menina mil grau, toda fechada, quieta, na dela, mas era maneira. Só que tinha muito b.o envolvido, começando pela nossa família.

Meio que a minha família era a mesma que a dela. Nossos pais eram parceiros, e a mãe dela era melhor amiga de uma vida do meu coroa. A Vivi, avó da Bárbara, me adotou como neto, e adotou o meu pai como filho, ao longo da vida, então a gente sempre vivia tudo junto e misturado.

Mas o pior de tudo era o pai dela.

Todos eles tinham ciúme pra caralho de todas as meninas da nossa família, uma mais bagunceira que a outra, pra fazer os manos pagarem por todos os pecados deles, mas com a Bárbara o bagulho era de verdade, parceiro.

Tanto que eu nunca vi ela ficando com ninguém, ou dando moral pra algum moleque, se quer. Acho que no fundo ela tinha medo de ser responsável por algumas mortes.

E no fim das contas eu até agradecia, porque me fazia economizar as balas da minha arma também. Se foder que eu ia deixar alguém encostar na minha princesa.

Só que com o Ret a parada era tão louca que fazia até eu ter medo.

Vocês já viram bandido ter medo?

Ele endoidava quando eu só brincava. Ou talvez ele desconfiasse que não era tão brincadeira assim. Já me livrei de ganhar um tiro algumas vezes, e a Babi sempre ficava putona quando ele fazia cena.

Eu me amarrava, porque gostava de pensar que ela ficava puta porque se preocupava com o gato dela. Que sou eu. Só pra deixar claro.

Ret: Rabugenta - resmungou, quando a filha saiu do nosso campo de vista.

Salvador: Que sarna tu arrumou pra se coçar agora?

Ret: A Bárbara acha que se manda - ele me encarou e eu desviei o olhar, não querendo estresse pro meu lado - Tu tava sabendo do rolo?

Canalha: Que rolo, tio? Tô na paz, hein. Sem confusão pro meu lado.

Ele cruzou os braços e eu entendi que não adiantava eu falar. Ia ter confusão sim.

O cara era o maior encrenqueiro que eu conhecia.

Ret: Claro que tu tá sabendo. Vive grudado com o azedo lá.

Canalha: Tu tá falando do Lucas? - ele concordou com a cabeça.

Salvador: Pô, eu não tô sabendo de nada. Fala aí, quero saber!

Canalha: O galego me falou, mas eu nem tava sabendo de caô nenhum. Não tinha nada a ver com o bagulho - tirei o meu da reta.

Era óbvio que eu sabia, e tava ligado em tudo. Até porque o Lucas não era nem maluco de combinar alguma coisa com a Bárbara e não falar comigo. Eu sempre brotava, não importava onde fosse, e não importava quem eu tinha que deixar de comer só pra babar na dona da minha vida e do meu coração.

Salvador: Que bagulho, caralho?

Canalha: Lucas ia pra um baile, a Babi fugiu de casa pra ir junto, no dia da invasão. O Ret ficou putão.

Ret: E ela ainda acha que tem razão no bagulho.

Salvador: Tua filha, parceiro. Pode até estar errada, mas acha que a razão é dela, igualzinho o pai.

Ret: Te perguntei alguma coisa?

Doeu em mim. A patada da Bárbara era mais gostosinha de receber.

Meu pai riu, porque ele fazia só pra atentar a cabeça do Ret mesmo.

Salvador: Churrasco lá em casa sábado à noite hein.

Canalha: Dona Kelly te mata - tentei avisar, mas ele nem ligava. Adorava uma farra e adorava deixar a minha mãe estressada. Pô, eu era a cópia do meu pai - Quero ver essa tranquilidade toda quando tu vier reclamar de dor nas costas porque dormiu no sofá. Vou nem te ceder a minha cama dessa vez.

Salvador: Confia no teu pai, parceiro. Vai ser um rolê maneiro e se eu conseguir deixar a tua mãe bem doida, depois a gente ainda vai curtir um bailão.

Canalha: Ah, fica fora do meu caminho. Deixa eu curtir o meu baile na paz.

Salvador: Alguma vez eu não deixei? Tu faz o que tu quiser da tua vida, já se vira sozinho.

Canalha: Tu não. Mas sabe bem que a coroa não gosta.

Salvador: Pô, mas nem eu gosto de te ver drogadão.  Uma parada é usar uma coisa ou outra, mas tu perde a linha, né Renan.

Canalha: Culpa da tua filha - olhei pro Ret, que me encarou sem entender. Ele tava viajando - Sou um drogado de merda porque ela não me dá moral. Mas o jogo vai virar, meu truta. Logo menos a gente vai casar.

Ret: Vai sim. Vai casar tu e o soco que eu vou meter nessa tua cara - ele fechou o punho e eu já dei um passo pra trás, só pra garantir - Eu só não morri ainda nessa vida maluca porque tenho uma missão na terra.

Salvador: Fazer filha bonita e atentada.

Ret: Deixar o teu filho longe da minha pirralha - ele corrigiu, olhando direto pro meu pai.

Canalha: Sogrão, tu tá se preocupando muito com a minha história e esquecendo a da Dona Bianca. Tem vários marmanjo de olho na tua mais nova.

O Filipe veio pra cima e eu comecei a rir pra caralho, meu pai se meteu no meio, tentando acalmar a fera que ficava falando sem parar que a Bianca não tinha nem idade pra essas coisas.

Pelo menos a sementinha eu tinha plantado na cabeça dele, quem sabe agora teria um pouco de paz pra correr atrás do meu. Ou melhor. Da minha.

Deixei o meu pai com a missão de fazer o meu sogro voltar a respirar e fui até umas gatinhas que estavam só olhando o jogo das crianças na quadrinha. Nem demorou pra eu desenrolar uma e levar pra base pra fazer o que eu mais gostava de fazer na vida.

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