Capítulo 37

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Bárbara

Me aproximei da casa, buscando algum barulho ou movimento suspeito, mas tudo parecia calmo e muito silencioso. Tentei não fazer nenhum barulho, nem sombra, nem vulto. Todos os meus passos eram lentos e calculados, e mesmo sem fazer muito esforço, até a minha respiração estava ofegante por conta do nervosismo.

Meus dedos tremiam, mas eu segurava aquela arma nas mãos como se fosse a minha única salvação. E talvez fosse. Era a minha única forma de defesa, já que eu não tinha nada, não tinha ninguém, e nem se quer fui treinada pra algo desse tipo.

E mesmo com a sensação inerente de perigo, a adrenalina que me consumia era a melhor sensação que eu já tive em toda a minha vida.

Uma mistura estranha, horas eu ansiava por medo, horas eu queria entrar naquela porra atirando, e me sentia a própria Alana Soares.

Mas eu não era a minha mãe. Mas tentava calcular os meus passos pensando no que ela, e o meu pai, fariam se estivessem no meu lugar. Pensar dessa forma clareava as minhas ideias.

Eu ouvi uma porta sendo aberta, e me espremi mais contra a parede, abrindo bem os olhos, e forçando a minha visão, porque já estava ficando escuro.

O Padilha apareceu, tentando dar a volta na casa. Eu apontei a arma pra ele, antes que o mesmo pudesse ter qualquer reação. Levantei o meu queixo em sua direção, e ele levantou as duas mãos pro ar, em rendição.

Bárbara: Coloca a mão na cabeça, filha da puta - murmurei, baixo.

Não podia fazer barulho, sem saber se haviam mais pessoas naquela casa.

O Padilha fez o que eu pedi, me encarando com ódio.

Padilha: Não atira, Bárbara.

Bárbara: Não fala o meu nome! - me aproximei, ainda mantendo a arma apontada pra cabeça dele - Você não tem o menor direito de falar a porra do meu nome!

Padilha: Tu não quer fazer isso. Calma. Não atira!

Bárbara: Eu quero pra caralho. Só não tenho certeza se esse é o momento certo.

Prensei o cano da arma na cabeça dele, e senti meus olhos arderem. Maior vontade maluca de chorar. Eu só queria que esse arrombado fosse pro inferno, junto com o seu pai.

Coloquei as minhas mãos ao redor da cintura dele, procurando alguma arma. Tinha uma. Ela veio parar na minha cintura.

O Padilha tentou dar uma de engraçadinho pra cima de mim, tirando as mãos da cabeça e tentando puxar a arma da minha mão, bem na hora. Mas a minha pistola já estava destravada e eu atirei.

Ele gritou de dor, caindo de joelhos no chão. E eu vi que a sua mão tinha sido atingida pelo disparo. Chutei a barriga dele com força, fazendo que ele caísse deitado naquele monte de lama.

Apontei as duas armas pra cabeça dele.

Bárbara: Obrigada por me mostrar que não tem ninguém em casa! - sorri falsamente, antes de dar duas coronhadas na cabeça do homem, com a arma, e ele desmaiar.

Me aproveitei do momento, e usei toda a força que eu tinha, junto com a adrenalina, e arrastei o Padilha pelo braço, que já estava todo ensanguentado, pra dentro da casa.

Eu quase me dispersei quando a porta foi finalmente aberta, e consegui arrastar o corpo pesado pra dentro. Fui obrigada a soltar o garoto no chão, enquanto encarava melhor as fotos espalhadas na parede daquela casa.

Meu pai. Minha mãe. Minha irmã. Eu.

Fotos atuais, fotos antigas, fotos das redes sociais e fotos tiradas quando estávamos distraídos. Em uma delas, eu ainda era uma criança, e brincava junto com o meu pai, no balanço do parquinho. Outra, mais recente, do dia em que eu saí com o Canalha, no dia em que nos beijamos pela primeira vez.

O Padilha se remexeu, próximo ao meu pé, e eu bati com o cano da arma mais uma vez, na cabeça dele. Tentei ignorar todo aquele cenário de filme de terror, e procurei um lugar onde eu pudesse amarra-lo. Encontrei cordas, e fita. Obviamente, um item indispensável na casa de bandidos. Dei o meu melhor, amarrando os braços, e as pernas do Padilha, e coloquei uma fita na boca do filho da puta.

A casa era pequena, além da sala, onde estavam todas as fotos, havia uma pequena cozinha, um minúsculo banheiro, e uma outra sala, com um colchão e um sofá.

Tive muita vontade de mexer naquelas fotos, de fuçar, até encontrar alguma coisa que fosse útil. Mas fui impedida assim que eu vi, encima de uma mesa, a minha foto. Completamente nua, coberta somente por um cobertor e desacordada. A foto que foi tirada no dia em que eu caí no plano sujo do Padilha... ou melhor dizendo: No plano sujo do Deco!

Logo ao lado, tinha a foto da minha mãe, praticamente da mesma forma que eu, porém devia ter pouco mais que a minha idade.

Joguei aquela porra pro chão, e sentei em uma das cadeiras, colocando as mãos na cabeça, e tentando manter a calma.

Eu sabia que o Padilha já tinha acordado, e sentia seu olhar queimando em minhas costas. Mas eu só levantei o olhar, quando ouvi o barulho de um carro se aproximando.

Me enfiei atrás da porta, fazendo silêncio, com as duas armas destravadas não minha mão,

Ouvi a risadinha nojenta, quando ele pisou na pequena varanda que havia ali, e eu quase tive vontade de desistir, antes mesmo que sua mão tocasse a maçaneta.

Deco: Babi? Babizinha? - ele cantarolou o meu nome, e eu apertei os olhos, sentindo ainda mais vontade de chorar - Eu vim correndo quando soube que tínhamos visitas.

A porta foi aberta. O Deco entrou, ele também segurava uma arma na mão. Eu empurrei a porte com o pé, ficando frente a frente com o diabo.

Mandei toda a dor e a vulnerabilidade que existia dentro de mim pra puta que pariu, e lhe dei o meu melhor sorriso sarcástico.

Bárbara: Oi, papai do século. Vim de tão longe somente pra te entregar minhas felicitações.

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