Capítulo 30

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Canalha

Eu não tinha nem colocado a moto pra dentro da garagem, quando o meu pai apareceu correndo e gritando que a gente tinha que ir pra casa do Ret.

Tava ligado que tinha dado merda, mas não tava muito afim de comparecer não.

Fiquei plantado lá na porta até ver a Bárbara com os meus próprios olhos, porque me conhecia suficiente pra saber que eu não ia sossegar até ver ela mesmo, e saber que tava tudo maneiro.

Pô, nem tava tudo maneiro. Ela chorou na minha frente, e mesmo que eu quisesse ficar, e pedir pra ela parar de chorar, prometendo tudo e qualquer coisa que fizesse ela se sentir um pouco melhor, eu vazei, pro meu próprio bem.

Tava cansado de carregar o peso da rejeição nas costas. Não conseguia entender a Babi, ela sempre dizia que não, mas quando a gente se pegava o corpo dela sempre dizia o contrário. Já tinha passado umas ideias na minha cabeça, talvez fosse vergonha de me assumir, pô.

Claro que entre nós dois envolvia muita coisa. Envolvia a nossa família, principalmente. Mas se ela me quisesse, sabendo que eu também queria ela, não era nenhum problema nós dois enfrentar todo mundo e mostrar que queria ficar junto. Mas a parada era diferente, e por dezoito anos eu ouvi da boca dela que ela não me queria mesmo, e acho que finalmente eu tinha entendido, mesmo que me machucasse pra caralho saber disso.

Eu não questionei o meu pai, só entrei no carro junto com ele e com a minha coroa e nós acelerou até a casa dos meus padrinhos.

De cara eu já vi o carro do Rato e do D2 também parados ali, mas quando entrei, as únicas pessoas que estavam ali eram os parceiros, o Ret e a Alana. Achei estranho a Dani e a Laura não estarem junto.

Não perguntei da Bárbara, mas queria saber dela.

O Ret tava sentado, com as mãos na frente do rosto, xingando alto pra caralho, tudo quanto é nome. O D2 tava agarrado na Alana, que chorava baixinho. E o Rato estava sentado na mesa, grudado no celular e no computar, todo alheio ao caos que rolava a sua volta.

Sem sinal do Lucas, Bea, Lulu ou Bibi também.

Salvador: O que que tá rolando? - ele perguntou, logo a uns dois passos na minha frente.

A minha mãe largou da mão do meu pai, e foi sentar do lado da Alana, que soltou o D2 e abraçou a minha coroa.

O Ret levantou o olhar, encarando o meu pai, e por um segundo ele me olhou, fechando a cara mais ainda e desviou rapidinho, respirando fundo.

Ret: Eu não tô bom, Canalha. Vaza daqui, pô. Nós resolve nosso caô depois... agora vou fazer merda se eu te ver.

Ele tava sabendo de alguma parada, mas não achei maneiro perguntar. O cara não tava bom mesmo.

Canalha: Eu vou, sem b.o nenhum - olhei pra Alana, sentindo a ansiedade tomar conta do meu corpo - Só quero saber se tá tudo bem.

Ela provavelmente entendeu o que eu tava dizendo, e a quem eu me referia.

Fiquei neurótico quando a resposta que ela me deu com o olhar não foi positiva. Senti o olhar do meu pai cair encima de mim, antes de ele encarar o Filipe.

Salvador: Cadê a Bárbara? Ela tá viva, não tá?

Eu bati os meus pés no chão, tava sem moral pra exigir nada, mas a paciência já tinha ido pra puta que pariu.

Eles não responderam, a Alana só concordou com a cabeça, olhando pro meu pai.

Viva sim. Bem, claramente não.

Mandei o bom senso pros infernos e subi as escadas da casa, sentindo os olhares queimando nas minhas costas, o quarto da Bárbara tava vazio, o banheiro não estava trancado. Ela não estava em casa, mas as roupas continuavam ali, tudo continuava ali do jeito dela... ela não tinha ido embora.

Voltei pro andar de baixo, e vi que o meu pai já tinha conhecimento do que tava rolando, porque ele andava de um lado pro outro, com as mãos na cabeça e com um celular nas mãos. O mesmo celular que antes estava nas mãos do Rato.

Canalha: Que porra que tá acontecendo? - gritei mermo, se o Filipe quisesse me matar, que matasse - Anda, caralho. Alguém me fala!

O Ret me olhou com uma cara estranha, sei lá... compreensão? Eu nem entendi. Mas ele levantou, tirou o celular da mão do meu pai, que tentou negar, mas o Filipe não deixou, e me entregou.

Eu li a mensagem sentindo a minha barriga toda se revirar. Eu só queria vomitar de tanto nojo. Eu só queria saber onde a Bárbara estava.

Canalha: Que isso? - perguntei pro Ret, ele era o único que ainda me olhava, e estava cara a cara comigo - Que brincadeira é essa? Quem mandou essa mensagem?

Ret: Deco. Foi o Deco que mandou.

Canalha: Quem é Deco? Por que ele fez isso? - olhei pra Alana, mas ela encarava o chão - Cadê a Bárbara?

Rato: A Dani e a Laura foram levar ela pro posto... fazer exames e tomar remédio - ele falou, com a voz carregada. Tava estressado e frustrado, dava pra sentir.

Nem pensei em nada, só virei as costas. Sei lá o que eu tava pensando, sei lá o que eu ia fazer, mas eu senti necessidade de ir até aquela porra daquele posto.

Mas o Ret me impediu.

Ele puxou o meu braço, e empurrou o meu ombro quando eu encarei ele, levantando o queixo pra cima e metendo marra.

Alana: Filipe - ouvi a voz dela em tom de aviso.

Ret: Tu gosta da minha filha? - ele continuava com a mesma marra de bandido, quase me peitando, e a voz era grossa e claramente ele queria meter uma bala na minha testa - Tô te perguntando se tu gosta da minha filha, Canalha. Se tu é homem de verdade, responde!

Canalha: Que diferença faz isso agora, Ret? - perguntei, sem entender.

O cara cruzou os braços, e eu cocei os olhos, sem paciência.

Ret: Tô mandando tu responder, porra.

Concordei com a cabeça, trincando os dentes.

Canalha: Gosto, porra!

Ele meteu uma das mãos no meu ombro, apertando tanto que eu achei que o meu osso fosse quebrar na mão dele, mas com a outra mão ele apontou o dedo pra minha cara.

Ret: Então tá na hora de tu me provar que isso é verdade - falou, mantendo o dedo na minha cara - Tô ligado no que tu tá sentindo, já senti a mesma coisa. Exatamente a mesma parada. Mas tu não vai cometer o mesmo erro que eu, de deixar furo na missão, se ligou? A Bárbara vai se recuperar, ela é forte pra caralho, ela é minha filha, porra! E tu vai me ajudar. Tu vai caçar o Deco junto com a tropa, esse é papo, questão de honra no bagulho, entendeu?

Eu concordei com a cabeça.

Minha mãe falou alguma parada mais eu nem entendi.

Canalha: Missão concluída ou morrer tentando.

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