Capítulo 28

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Alana

Poucas vezes eu tinha me sentido tão desesperada na minha vida. A única vez, que me lembro de ter passado um sufoco tão grande, com tanta preocupação nas costas, foi quando a Bárbara ficou internada na uti, logo depois de nascer.

Toda a gravidez, e a criação da Bianca foi muito mais tranquila pra gente, tanto pra mim quanto para o Filipe, mas com a Bárbara a gente ainda era muito novo, pais de primeira viagem e cheios de merdas pra carregar nas costas, cuidar dela não foi nada fácil no começo.

Talvez não fosse até hoje, porque ela era a cópia do pai e isso me deixava bem maluca.

Minha pequeninha tinha sumido, desde ontem, sem dar sinal de vida.

O Filipe acionou o Grego, mandou acionar os moleque tudo, e fazer um pente fino pelo morro todinho, casa por casa, canto por canto, e a única parada que chegou no nosso ouvido foi: A Bárbara saiu do morro com o Padilha.

A Beatrice não saia lá de casa, tava preocupada pra caralho e mandando várias e várias mensagens pra Babi, enquanto confortava a Bianca, que jurou que ia bater na irmã assim que visse ela.

Eu estava em choque, pra falar a verdade. Sem saber o motivo de ela ter ido pra longe.

Será que era só pra aproveitar uma noite? Será que ela ia sumir pra sempre? Por que? Eu não fui uma boa mãe? Porra, ela pediu pra ficar comigo antes mesmo de nascer, então ela tinha que ficar comigo!

O Filipe tava metendo o terror pra cima de todo mundo, puto, bolado e neurótico.

Pior que ele só o Canalha, que ficava o tempo inteiro repetindo que a culpa era dele, e não conseguia ajudar em nada. O Salvador ainda tentava colocar ordem na cabeça do filho, mas tava meio impossível, porque ele também estava maluco.

Quando eu recebi a mensagem da Bárbara, dizendo que estava vindo pra casa, pedi pra todo mundo ir embora, inclusive pedi pra Bianca ir pra casa da minha sogra, porque a parada ia ficar feia nessa casa.

Alana: Filipe, eu sei que tá foda e que a vontade é sair metendo um tiro na cara da Bárbara, pra ela deixar de ser inconsequente... mas tenta manter a calma.

Ret: Não me pede pra ter calma, criança. Eu vou mandar a Bárbara pra um convento, tu vai ver só. E vou mandar aquela porra do Padilha pro inferno - ele falou, olhando pela janela, pro lado de fora da nossa casa - Vou mandar o Canalha também.

Me aproximei dele, tentando entender da onde que o nome do meu afilhado surgiu na história, e vi ele sentado na calçada, bem em frente a nossa casa. Provavelmente esperando a Bárbara.

Alana: Acho que ele gosta dela - comentei, sem saber se aquilo me agradava ou não, afinal, era só olhar pro Vulgo do menino, que já dizia muita coisa sobre ele.

Ret: Tenho um remédio que cura amor rapidinho - ele falou, colocando a mão na arma que estava em sua cintura.

Conseguimos ver a Bárbara entrando na nossa rua, através da janela, e o Canalha ficou de pé, de braços cruzados, encarando ela de cima a baixo. O Ret já ia sair do meu lado, mas eu segurei ele pelo braço.

Bárbara: Oi, Renan - ela falou, toda sem jeito - Ta todo mundo aí dentro?

Canalha: Só os teus pais - ele respondeu, meio grosso e a Babi concordou com a cabeça - Padilha botou a cara mermo?

Bárbara: Não quero ouvir o nome dele.

Ret: Eu vou matar ele - murmurou baixinho, do meu lado.

Alana: Vou te ajudar.

Ret: Vou matar o Canalha também, se ele não se mandar em um minuto.

Alana: Nesse caso, eu não vou te ajudar não.

O Canalha soltou uma risadinha, e negou com a cabeça, desviando o olhar dela.

Canalha: Tentei te ajudar, mas tu sempre tem essa mania de querer colocar o cara pra baixo, de humilhar, de mostrar que não tá nem aí pra mim.

Ret: Pô, eu vou matar ele. É sério. Meu coração tá doendo só de ouvir esses bagulho - ele me olhou - Quando foi que esses menor começaram a perder o medo de mim?

Eu dei de ombros.

Alana: Os outros eu não sei, mas o Renan nunca teve medo, né?

O Filipe me ignorou e voltou a olhar pra nossa filha, que parecia chorar.

Ret: Caralho, que porra esse moleque fez.

Ele saiu do meu aperto, indo em direção a porta de casa, e eu fui logo atrás.

Chegamos perto dos dois a tempo o suficiente de ouvir a Bárbara pedindo desculpa por qualquer coisa.

Bárbara: Eu não sei o que eu fiz, não sei o que eu falei. Mas me desculpa - ela fungou o ar, limpando o rosto - Se falei alguma coisa de errado. Eu não lembro de nada.

O Renan olhou pro Ret, pelo canto do olho, mas ele tava tão vidrado na Bárbara chorando, que pareceu nem se intimidar com a presença do meu homem.

Canalha: Tu disse que não queria gostar de mim, que não gostava de mim. Foi isso que tu me falou. O que tu sempre diz, o que eu sempre ouvi - ele deu de ombros - Tá suave, Bárbara. Eu já entendi, só tava tentando te ajudar ontem. Fé pra vocês.

Ele virou as costas e saiu, subindo na moto e acelerando pra fora da nossa rua. A Babi não chamou ele de volta, nem se quer olhou, quando ele saiu, mas eu vi ela mordendo o lábio com força, pra não chorar mais.

Foi só o Renan sair da rua que ela veio correndo pra me abraçar, apertando o meu corpo contra o seu.

Bárbara: Eu gosto dele, que droga. Eu não queria... mas eu gosto, mãe - ela encarou o Filipe - Por que eu sou assim? Como você conseguiu ficar com ela sem estragar tudo? Que droga. Que saco. Que inferno. Eu sei que vocês querem me matar agora, podem ter certeza que eu também quero.

Ret: Cala a boca e entra em casa. Tô vendo que tá rolando muita coisa e eu quero saber desses proceder ai!

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