Capítulo 04

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Bárbara

Tive um sonho horrível e muito real.

Acordei soando frio e demorou uns dez minutos até que eu conseguisse me acalmar o suficiente. As vezes a gente precisa de um chacoalhão pra acordar pra vida e o meu tinha acabado de chegar.

Meus pais seguiam firmes no artigo, e desde pequena o meu maior medo sempre foi que eles partissem. Eu brigava pra caralho, a gente se estressava e era puro caô em casa, mas eu nunca ia conseguir viver sem eles. E sabia que todo o tempo que a gente tinha juntos ainda era pouco, porque meu pai sempre me dizia que a gente não tinha como prever o dia de amanhã, principalmente com a vida louca que eles tinham.

Ouvi a música saindo do quarto da minha irmã, e imaginei que ela estivesse no telefone com o namorado. Tática que eu tinha ensinado pra ela ter um pouco de privacidade sem se preocupar se alguém ouviria do corredor.

Desci as escadas agarrada no meu cobertor, e encontrei os meus pais na sala, assistindo um filme na televisão.

Papo de meia noite, e os bonitinhos no maior chamego.

Alana: O que aconteceu? - perguntou, me olhando com o cenho franzido.

Bárbara: Sonho ruim - murmurei, sentando do lado do meu pai. Ele ficou entre a minha mãe e eu. Consegui ver que me encarou pelo canto do olho, mas fingiu que eu nem existia - Olha pra mim, pai.

Ret: Tu faz cena e depois volta com o rabo entre as pernas - debochou, repetindo exatamente o que eu tinha falado pra ele mais cedo - Resolveu ficar na paz comigo?

Bárbara: Eu quero ficar na paz com você - ele tirou um dos braços que abraçava minha mãe, e me puxou pra perto, me abraçando e dando um beijo na minha cabeça - Mas queria que confiasse um tiquinho em mim também.

Ret: Confio em tu. Só quero te proteger da maldade do mundo, Babi. É foda, pô. Teu pai é bandido, tua mãe é bandida, ninguém sabe quantos inimigos a gente tem espalhado por aí. E quando tu sai sem eu saber, ou sem eu deixar, isso me deixa maluco pensando em várias merdas.

Bárbara: Se você me desse uma arma eu ia saber me cuidar sozinha, e você nem ia se preocupar tanto.

Minha mãe riu, negando com a cabeça.

Alana: Foi só eu ganhar uma que tudo desandou.

Bárbara: Desandou o que? A mais braba que eu já conheci.

Alana: E mais bonita também, por favor - completou e eu concordei com a cabeça. Nem era mentira, eu achava ela a mulher mais linda do mundo inteiro - Tô feliz que meus dois rabugentinhos se entenderam. Agora eu tenho uns dois dias de paz até a próxima briga.

Ret: A gente briga mas se ama, né não, Retinha? - gastou e eu fiz careta.

Bárbara: Que saco. Tanto apelido legal, eu me recuso a ser chamada de Retinha - eles riram, e continuaram me gastando - Tá, mas e aí... uma arma?

Ret: No teu sonho.

Alana: Cresce e aparece, Bárbara.

Fui completamente ignorada pelo casal quando a Bibi desceu as escadas aos pulos, e veio se jogando em cima de todos nós.

Bianca: Reunião de família e nem me chamaram.

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