Capítulo 33

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Bárbara

O Renan me obrigou a comer como se eu tivesse passando fome, e fosse fazer a minha primeira refeição em dias, mas eu me irritei e pedi gentilmente para que ele parasse com a putaria, porque eu não estava desnutrida.

Depois eu escovei os meus dentes, e voltei pro sofá. Ele estendeu os braços pra mim, e eu me alojei ali dentro, cobrindo nós dois com o cobertor.

Bárbara: Por que você vai dormir aqui? - perguntei baixinho.

Canalha: Não quero ir embora. Não vou conseguir ficar em casa.

Bárbara: Meu pai ficou de boa?

Canalha: Não, né? - ele soltou uma risadinha - Teu pai vai me amar ainda. Ele tá amolecendo já. Me bateu só uma vez hoje.

Bárbara: Ele te bateu? - perguntei, encarando ele.

Canalha: Me chutou, pô. Mó cuzão! - eu soltei uma risada alta, jogando a cabeça pra trás e ouvi a risada do Renan, antes de ele deixar um cheiro no meu cabelo - Mas tô na fé de conquistar o coração do sogrão, eu consegui conquistar o teu, então consigo qualquer parada nessa vida.

Bárbara: Demorou dezoito anos - fiz graça, e ele me encarou com deboche.

Canalha: Tu finge bem pra caralho - eu fiquei quietinha - Ret me ameaçou, disse que se me visse no andar de cima ele me matava. Boto fé que nem é brincadeira.

Bárbara: Não vou duvidar do ciúme do meu pai.

Canalha: E aí, vida. Vamo lá acordar o velho pra assumir o nosso relacionamento? - fiz careta - Tu falou que ia fazer do meu jeito.

Bárbara: Vou fazer do teu jeito, mas te quero vivo. Quero o meu pai vivo também. Não é a melhor hora.

A luz da sala foi ligada, e eu praticamente pulei do sofá, olhando pro meu pai. Minha mãe estava logo atrás dele, com a maior cara de sono.

Ret: Não é a melhor hora pra que? - o Renan soltou uma risadinha nervosa e o meu pai cruzou os braços - Tá com frio, filha? Tá no colo do Canalha por que?

O Renan me empurrou pra longe, me fazendo cair pra fora do sofá.

Canalha: Não tem ninguém no meu colo, parceiro, tu tá sonhando aí. É só um sonho. Volta pra cama!

Eu resmunguei com a dor do tombo e o Canalha me olhou todo preocupado, pedindo desculpa. Ele tentou me ajudar a levantar, mas eu empurrei sua mão pra longe de mim.

Bárbara: Medroso - murmurei baixinho, de cara fechada.

Ouvi o barulho de um porta retrato se quebrando e na hora já olhei pra minha mãe, que tinha derrubado sem nem perceber.

Ela bufou.

Alana: Não se matem. Eu preciso dormir! - ela encarou o meu pai, e apontou pro chão - Limpa isso pra mim?

Ret: Vai dormir, criança.

Alana: Não precisa pedir duas vezes.

Ela deu as costas, voltando a subir as escadas e tropeçando nos próprios pés.

Meu pai caminhou até perto de mim, e abraçou o meu corpo, dando um beijo na minha cabeça. Isso nem era comum. Ele geralmente era mais carinhoso com a Bibi, porque ela retribuía, mas eu não tinha o costume desses bagulhos.

Canalha: Ai, meu sogro, com todo respeito... - meu pai olhou pra ele, com cara fechada e a voz dele sumiu - Como eu tava falando, com todo respeito do mundo, eu sou doido na tua filha. Num bom sentindo. Não totalmente doido, tá ligado? Eu sei que já fiz merda, que tu me viu crescer e sabe como eu sou. Mas não to gastando com ela não. Eu só não caso porque ela não vai querer.

Eu não vou querer mesmo. Casamento me deixava nervosa, só de tocar no assunto. Uma vida inteira com a mesma pessoa, me assustava.

Ret: Pensei muito sobre isso tudo - ele respirou fundo e me soltou - Se tu quiser, filha, eu vou deixar vocês namorarem.

Canalha: Tu é o melhor sogro do mundo.

Ret: Cala a boca, Canalha - mandou, irritado.

Eu soltei uma risada.

Bárbara: Eu quero, pai.

Canalha me lançou um sorrisinho, todo rendido e eu retribui, mandando um beijo pro gato.

Ret: Tá. Namoro embaixo do meu nariz, embaixo do meu teto, sem poder se tocar, sem poder se beijar. E se me incomodarem, eu já mudo de ideia de ser tão liberal assim!

Bárbara: Ele tá zoando - falei pro Canalha, tranquilizando ele.

Canalha: Ah tá. Não nadei dezoito anos pra morrer na praia.

Ret: Não tô zoando não. Sobre pro meu quarto, Babi. Dorme lá com a tua mãe e eu vou dormir no teu quarto.

Bárbara: Você tá zoando.

Ret: Não. Eu tô sendo muito bonzinho.

Eu rolei os olhos e sai de perto dele, me sentando do lado do Canalha, no sofá.

Bárbara: Desculpa, cara, mas você tá fazendo um papel ridículo. Não tem porque isso tudo, é exagero.

Ret: Babi, tô cuidando de ti. Quero ver até onde o amor desse moleque vai. Tem vários aí que falam várias paradas maneiras só pra colocar barriga, e depois somem no mundo.

Canalha: Pô, eu sou mó canalha, mas não vou vacilar com a Bárbara, tio.

Meu pai soltou uma risadinha e se sentou na poltrona, de frente pra gente.

Ret: Eu sei que tu não vai. Eu te mato se tu fizer algum bagulho - ameaçou - Vai brincar com as outras, doido. Com a minha filha não.

Canalha: Quer casar comigo? - ele perguntou, me olhando.

Ret: Não. Tá querendo morrer, Canalha?!

Bárbara: Não quero. Desculpa. Quero ficar contigo, mas casamento me assusta ainda.

O Renan suspirou, frustrado.

Ret: Se fodeu, só vou deixar vocês ficarem se encostando ai quando a Bárbara resolver casar contigo - gastou, todo debochadinho.

Bárbara: Então eu quero - o sorriso do meu pai saiu do rosto em um segundo. E o Renan me puxou pra mais perto dele - Se for assim, então eu quero casar.

Meu pai xingou várias paradas, disse que tava tarde e me mandou ir dormir. Eu roubei um selinho do meu namorado, e corri pro meu quarto, antes de ouvir meu pai ameaçando a vida dele, mais uma vez.

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