Capítulo 39

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Filipe

Eu tava fumando o meu bom baseado, com a minha criança no colo, roubando o meu cigarro como se fosse dela, e encarando a cena mais linda que eu já tinha visto na minha vida.

O Deco todo sujo de sangue, amarrado, e apagado a cada soco que levava.

Tava uma luta manter ele vivo, mas todo mundo queria se aproveitar um pouquinho da situação, e batia um pouco, ou enfiava uma faca. Começou com a Alana, depois com o Salvador, Rato, D2... e agora quem se divertia um pouco era o Canalha.

A Bárbara olhava a cena com um sorrisão no rosto, que me fez sorrir inconscientemente só de olhar.

Era engraçado a forma como as minhas duas pirralhas eram diferentes uma da outra. Enquanto a Bianca tinha o melhor de toda a nossa família, a bondade, a inocência de um anjo, que não havia restado em nenhum de nós três, a Bárbara tinha herdado a minha loucura, e somado com a loucura da mãe dela, resultando em um pequeno monstro.

Mas eu amava aquelas duas, pô. As três, na verdade. Porque junto com a mãe elas eram o meu sonho, e a minha tormenta. Matava e morria sem nem pensar duas vezes, só pra ver elas serem felizes.

Alana: Tá sorrindo assim por que? - ela perguntou, baixinho no meu ouvido, e eu voltei a fechar a cara. A minha criança riu, negando com a cabeça - Você é impossível.

Ret: Tô realizado - respirei fundo. O Renan meteu mais um socão na cara do vagabundo lá, e a Babi gargalhou - Deu, porra. Todo mundo já se divergiu um pouco!

Bárbara: Eu ainda não! - ela se meteu, fazendo cara feia pra mim.

Ret: Tu acertou três tiros no cara, Bárbara. Aquieta o teu cu.

Ela rolou os olhos e o Canalha foi pra perto, abraçar a minha princesa. Encarei ele, e o cara se sentou ao lado dela, mas manteve uma distância razoável, e eu concordei com a cabeça. Era bom mermo. Se não eu deixava ele pior que o Deco. Mas precisava admitir que o parceiro tava fazendo benzão pra Babi, e que cuidava dela como se fosse a parada mais preciosa que ele tinha na vida. E porra, minha cria era a parada mais preciosa que ele podia encontrar em toda a vida dele!

Me levantei, tirando a Alana do meu colo, e o Salvador já veio me ajudar a soltar o Deco, que abriu os olhos, me encarando.

Ret: Oi, Deco. Tá pronto pro teu fim? - ele abriu a boca lentamente, tentando responder, mas não tinha força pra isso - Tenho que te falar uma parada. Quando tu foi preso, junto comigo, eu fiquei aliviado pensando que tu fosse morrer. Mas fiquei mal, porque não ia ser eu que ia te fazer sofrer. Tô me sentindo bem realizado agora!

Alana: Isso é forte demais até pra mim - ela resmungou, ficando de pé - Babi, vem comigo?

Minha filha negou, cruzando os braços.

Bárbara: Eu gosto.

A minha mulher concordou, e saiu da salinha junto com o Galego, que também não tinha muito estômago pra essas paradas.

Ret: Andei pesquisando porque queria inovar contigo, queria que tu sentisse a pior dor de todas. Pô, sou bandido mas eu gosto do trabalho bem feito - ouvi a risadinha da minha filha, e dei uma piscadinha pra ela, antes de voltar a olhar pro Deco - Já ouviu falar em Empalação? Eu li que é a pior forma de morrer, e eu tô afim de testar contigo.

Canalha: Como funciona essa parada aí?

Me afastei um pouco dele, pegando o ferro fino, no canto da sala, e coloquei na brasa, observando a peça ser queimada.

Bárbara: Ta doendo em mim, só de imaginar - ela sorriu, olhando pro Deco - Era melhor você ter ficado longe da nossa tropinha.

Ignorei o fato de ela se referir como parte da nossa tropa, porque acho que nem tinha mais como correr. Ela era uma das nossas.

Ret: Isso aqui... - levantei o ferro, que estava nas minhas mãos - Vai entrar pela boca dele, e queimar tudo o que tocar. É maneiro, porque a pessoa não morre tão rápido assim, só depois de algumas horas. Eu vou ficar ali sentado, assistindo cada segundo que tu chora implorando pra parar, seu arrombado de merda.

O D2 se aproximou, e ele e o Rato abriram a boca do Deco, enquanto o Salvador e o Canalha seguravam os braços, e a cabeça do filho da puta, pra ele não se debater muito.

A Bárbara tinha se aproximado, e ficou parada na frente do corpo do Deco, com os braços cruzados e um sorrisinho na boca.

Eu respirei fundo, olhando pra monstrinha, e me posicionei na frente do homem. Com todo cuidado do mundo, eu inseri aquela porra daquele ferro, pra não perfurar a cabeça dele, e pra que suas horas de sofrimento durassem um pouco mais. Só que na cara dele, os olhos lacrimejando, o líquido que escorria pela boca dele, dava pra ver que não duraria tanto quanto eu gostaria.

O Deco chorava muito, mas tentava gritar e o ferro em brasa em sua garganta impedia que ele conseguisse falar.

Eu me afastei, e voltei a sentar na minha cadeira. Os manos fizeram a mesma coisa, e a Bárbara veio logo atrás, sentando do meu lado e descansando a cabeça no meu ombro, enquanto a gente assistia o glorioso fim do Deco.

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