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Mal tive tempo de olhar o livro que comprara ontem ou para ler o diário, gastei a maioria da manhã para dormir mais do que o usual. Repentinamente ficara mais cansado e cochilei até às dez da manhã, não sabia ao certo o motivo para isso, mas estava acontecendo numa frequência muito maior. Pulei muitas coisas da minha rotina, como arrumar a cama (era a primeira vez em anos que não a arrumava assim que acordasse), afinal, iria me enfiar debaixo das cobertas e ficar lá o dia todo mais uma vez — coisa que não me orgulhava. Também pulei a parte de escovar os dentes, de tomar café matinal e até a rotina de cuidados com a pele que eu queria fazer nas férias.

Não conseguia negar que estivesse meio tonto, cansado e com insônia recentemente, mas não queria fazer um alvoroço para ser nada de mais. Achava estar doente? Não, muito pelo contrário, não tinha nenhum sintoma além da falta de apetite e da fadiga, só não eram coisas que devia contar e atrapalhar o dia do meu pai para realizar um exame — e no fim ser nada de mais.

Fiquei encarando o relógio, incrivelmente com a mente vazia, apenas observava o tempo passando com uma lentidão imensa ao ponto de me dar sono. Nesse momento, pensei que Einstein estava certo e o tempo é relativo, se passaram nada mais que um minuto e a sensação era de que foi uma hora. Olhei o calendário, três de janeiro de 2011, e, num ato tanto involuntário quanto sem vontade da minha parte, abri o guarda-roupa e procurei meu livro de matemática. Sempre realizava uma pequena revisão da matéria que eu ia melhor — e, por coincidência, era a que eu mais gostava — na primeira semana do ano, já que volto às aulas em menos de um mês. Sentei-me na mesa, folheando o livro e olhando as páginas, mas sem, de fato, lê-lo.

Após longos minutos, estudei um pouco, revendo os conteúdos passados no ano anterior, e, enquanto revisava, larguei o livro e botei as mãos na cabeça, puxando os cabelos e respirando ofegantemente. Não era por não entender o conteúdo, na verdade, decorara — não no mau sentido, só estudei tanto que acabei gravando tudo na cabeça — cada linha dele, mas por um motivo que esteve sempre ao meu lado, porém, o peso apenas chegou tardiamente.

Tinha a menor ideia do que estava fazendo, do porquê estava fazendo. Afinal, comecei a estudar para tirar notas boas, estou a anos tirando notas boas, então qual o sentido de continuar estudando? Atingi meu objetivo, já não há motivos para estudar. Do que adianta estudar agora? E se, depois do ensino médio, eu desistir de fazer psicologia? Terei jogado o dinheiro do meu pai no lixo com livros, pequenos cursos e visitas a consultórios? Mesmo se eu quiser, quem garante que gostarei do curso? Eu poderia largar tudo no meio. Mesmo me formando, e se não conseguir arranjar um emprego na área que escolhi? Ou pior, passar por todas essas dificuldades para, no fim, não gostar do emprego e ter que procurar outra coisa?

Tirei as mãos da cabeça, vendo alguns fios de cabelo em meio aos meus dedos. Suspirei fundo, jogando os fios em cima da mesa, tapando meu rosto com as mãos, tentando não ter uma crise pior do que já estava tendo.

Apoiei as mãos na mesa, fazendo uma força para me botar de pé. Passei os dedos entre os cabelos, tirando o resto dos fios que caíram (algo que sempre aconteceu naturalmente, mas o meu caso era além do natural, não era o estresse, apesar de ele influenciar nisso) e jogando-os no lixo. Levei os olhos até o relógio, e marcavam cerca de três da tarde. Era como se toda a exaustão que acumulei na minha vida caísse sobre mim especificamente hoje.

Retirei-me do quarto, caminhando até o quarto dos meus pais, era um dos poucos dias que ficava sozinho em casa: meu pai no trabalho, minha mãe e meu irmão saindo para fazer algo. Desde o acidente, nunca tivemos tempo direito para fazer algo com a mamãe além de ajudá-la a andar, Jihyun pedia — basicamente implorava — todo dia para eles fazerem algo, desde que ela começou a se virar sozinha.

O Diário de Taehyung (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora