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Faz alguns dias desde a última vez que abri o diário de Taehyung e o li. O guardei na gaveta da cômoda e iria deixá-lo ali até que as aulas voltassem e eu pudesse entregá-lo, já li o bastante para saber de quem era e não podia passar disso. No primeiro dia, encarava minha cômoda diversas vezes no mesmo minuto, contentando em abri-la e ler mais uma vez o diário dele. A partir do segundo, consegui esquecer e fazer as coisas que sempre fiz desde alguns meses atrás: arrumar a casa, lavar as roupas e fazer o almoço e a janta, além de ajudar a mamãe e Jihyun quando precisasse.

Jihyun não estava em casa naquele momento, tinha de terminar as coisas que papai deu para ele fazer: duas vezes na semana, aula de alguma arte de luta até chegar no "nível máximo". No meu caso e de Jihyun, foi o Taekwondo. Fiz até chegar na faixa preta e vou ocasionalmente só para não esquecer. Além disso, ele faz inglês e mandarim, duas aulas por semana, porque ele sempre diz que seria empresário quando crescer e seria um ótimo diferencial para negócios se ele falar outras línguas além do coreano, segundo nosso pai. Eu não me aprofundei muito nas línguas, mas sei um pouco de inglês e japonês, consigo conversar com alguém de fora tranquilamente, apesar de não ser fluente, e apenas ler e escrever (bem mal) em japonês. Foi um tanto difícil, mas eu e mamãe conseguimos convencê-lo a me deixar fazer balé, então fazia pelo menos quatro aulas por mês desde os meus oito anos. O que nosso pai dizia é que se quisermos uma boa carreira, devemos sempre exercitar nosso cérebro e desenvolver nossas capacidades cognitivas, não podíamos ficar "relaxados em casa" sem estudar nada.

Isso não se aplicava a mim naquele momento. Ele me deixou ficar em casa enquanto nossa mãe seguia sem conseguir andar sozinha, sem aulas extras nos períodos de férias (que até hoje me pergunto como ele encontra essas escolas de artes marciais e linguagens que não dão férias aos alunos). Jihyun podia ficar em casa e jogar videogame ou fazer absolutamente nada, mesmo não escapando das aulas nas férias, porque ele ainda era uma criança, e também, segundo meu pai, sou um "adolescente a um passo da vida adulta" e que preciso tomar conta de tudo que meu irmão e minha mãe não podiam.

Terminava de tirar a poeira da escrivaninha de Jihyun quando escutei um som extremamente alto perto da porta da frente, de algo batendo, e um gemido de dor. Deixei o pano sobre a mesa e dei passos apressados até chegar na porta e abri-la, tirei a tensão dos meus ombros e suspirei profundamente, saindo de casa e me abaixando perto de Jihyun.

— Se machucou?

— Dooly... — Sua voz chorosa soou entre alguns poucos soluços acompanhados de lágrimas.

Levantei-me e caminhei até sua bicicleta jogada no chão, com uma roda em cima de uma roseira perto da escada, a levantando e levando até o quintal, que não era tão longe dali. Fui novamente ao encontro de Jihyun, olhando rapidamente a roseira e me certificando que não fora esmagada. Cuidadosamente, me abaixei e passei o braço debaixo de suas pernas e trouxe Jihyun em meu colo, voltando para casa e empurrando a porta com o pé para fechá-la.

Deixei-o sentado no sofá, caminhando para o banheiro e pegando o kit de primeiros-socorros — um novo, já que papai disse que seria mais rápido do que só tivesse o que ficava no quarto dele — e me sentando ao seu lado. Continuei quieto, desabotoando suas calças e puxando delicadamente para tirá-las, tomando o devido cuidado para não passar bruscamente sobre seu joelho ralado.

— Essa é a minha calça favorita... agora tá rasgada!

— Arrumarei isso, não se preocupe.

— Ai! — gritou.

Estava com um algodão com antisséptico pressionado contra seu joelho, esperando alguns segundos antes de tirá-lo e passar sutilmente pelo machucado, terminando de limpá-lo. Procurei algum curativo que encaixasse bem e não fosse muito desconfortável para dobrar, tirando a parte protetora do adesivo.

O Diário de Taehyung (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora