"Não tenho nada a declarar, exceto meu gênio."
- Oscar Wilde
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PORTO REAL, REINO DE LEONTIUS
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NO MOMENTO EM QUE CHEGUEI à cidade de Porto Real, olhei ao redor um pouco perdido. Estava sem dinheiro, sem comida, e precisava ter certeza de que teria um abrigo para esta noite. Fui informado de que o hospital acolhia tanto os viajantes quanto os doentes. Talvez fosse minha única maneira de garantir que dormiria em uma cama. Caminhando pelas ruas movimentadas, tentei vislumbrar como era vida em Leontius e como se comparava à Makedóvia. Foi bom e ruim ao mesmo tempo; sentia falta da vegetação e do povo da Makedóvia, e mesmo que não ousasse admitir, sentia uma leve solidão tentar me rodear. Entrando em um bazar, vi as pessoas animadas e cheias de vida; ao olhar para os produtos vendidos no mercado, tentei adivinhar quais eram as frutas e especiarias exóticas, enquanto todos ao redor conversavam em voz alta.
Rapidamente pude perceber que a maioria das pessoas falava greekiano, talvez pela ligação de Leontius com Greekia, e outras línguas faladas ali eram leontim, um dialeto próprio, que fazia lembrar o greekiano, vrachim e prásim - com certeza por conta dos outros dois reinos. Evitei atrair atenção indesejada.
Ao me deparar com um estande que vendia jóias, aproximei-me do homem que estava ocupado com os clientes e falei com ele em leontim.
- Você compra joias? - fui direto.
- Eu? Comprar joias? - repetiu o homem.
Respirei fundo para conter a súbita vontade de responder de forma grosseira; já havia sido claro na pergunta.
- Sim. Eu tenho joias - ergui a bolsa para lhe mostrar as que tinha comigo; eram colares e anéis que havia roubado de alguns de meus ex-colegas antes de fugir. Diferente deles, nunca senti vontade de usar jóias, porém, em minhas memórias mais remotas, sabia que minha mãe adorava - Eu viajei até aqui e preciso... jogar? Não. Livrar-me. Sim! Livrar-me de... Tudo isso. Eu não preciso de jóias - tropecei nas palavras. Talvez as aulas de idiomas que o desgraçado de meu pai obrigava-me a ter fossem me fazer falta no fim das contas, não deveria ter fugido tanto delas. Ao menos o mercador conseguiu entender o que estava tentando dizer.
Começamos a negociar e o homem acabou comprando todas as jóias, fazendo com que eu tivesse moedas suficientes para sobreviver mais ou menos três semanas. Fui embora, procurando um hospital onde passaria a noite.
Ao finalmente encontrá-lo, já passava do meio-dia, e as curandeiras que o administravam pediram que eu pagasse diretamente por minha estadia. Lá, recebi uma cama e fui instruído a tomar cuidado com aqueles que estavam doentes se não desejasse me contaminar. Banhei-me e vesti roupas limpas, antes de deixar minhas coisas lá enquanto ia procurar um fórum onde haviam ofertas de emprego. Ao sair da área do hospital, uma coisa me veio em mente; eu ainda tinha no bolso da calça a joia vermelha que peguei de Akaios. Se não tivesse esquecido, a teria vendido junto com todas as outras.
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RENEGADO
Phiêu lưuBasilides deixou seu lar ao descobrir que a liga de assassinos da qual fazia parte contribuiu para a morte de sua mãe. Fazendo uma saída grandiosa, parte rumo ao Reino de Leontius, onde dizem que oportunidades e rios de dinheiro aguardam aqueles que...