10. Águas Escuras

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"Sim, tem algo misterioso, demoníaco e fascinante nela."

- Liev Tolstói, Anna Karenina

- Liev Tolstói, Anna Karenina

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PALÁCIO DE LEONTIUS, PORTO REAL
REINO DE LEONTIUS

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FOGOS ESTAVAM ACESOS ALI NA grande e longa sacada, mas o vento noturno soprava, fazendo as chamas alaranjadas oscilarem levemente; permanecia segurando a mão da rainha, alisando seus dedos, sentindo como era quente. Quase... quase desejei poder sentir todo seu corpo para saber se ele era macio e quente como sua mão.

Respirei fundo, encarando o tabuleiro e movendo uma das torres, precisava parar de pensar dessa forma. Voltei a olhar o rosto gentil de Andromeda e me surpreendi ao constatar que já me encarava, com as bochechas vermelhas e os cabelos escuros bagunçados pelo vento.

- Para confiarmos um no outro, precisamos conhecer um ao outro honestamente - a voz era calma. Na verdade, era difícil sequer imaginá-la em um estado que não fosse calma constante.

Separamos nossas mãos, devagar. Sabia o que ela estava querendo dizer, desejava saber minhas origens e o que me levou até Leontius; por um lado eu não queria contar, não queria contar para ninguém, mas por outro... Andromeda tinha um jeito peculiar que fazia-me sentir tentado a contar toda minha história para ela.

- Não sei se me sinto confortável fazendo isso agora - decidi ser honesto, mostrando que havia entendido suas palavras.

- Eu compreendo - ela me lançou um sorriso.

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos, nos quais consegui capturar um de seus peões e ela capturou uma de minhas torres; tinha quase certeza de que Andromeda estava apenas sendo gentil comigo, evitando tomar minhas peças restantes e meu rei, acabando assim com a partida.

- Cresci aqui, nesse palácio - ela voltou a falar, surpreendendo-me - Meu pai era... Era como os deuses: sempre ocupado demais com outras coisas. Minha mãe era glamorosa, mas não gostava muito de mim, preferia meu irmão que era homem, pois era a prova de que ela gerara um herdeiro para o trono. Já o meu irmão, ele era dez anos mais velho e era a melhor pessoa do mundo. Costumava ler para mim sempre que eu ficava de cama por causa das crises de febre, e foi ele que me ensinou a usar o arco.

Observei-a; seus olhos de corça estavam distantes e saudosos, e seus lábios carnudos se curvavam em um leve sorriso, ela realmente devia ter amado muito o falecido irmão. Desci vagarosamente o olhar pelo seu pescoço, o vestido que Andromeda usava essa noite era simples, azul claro, e aberto em seu colo - o que permitia-me ter uma ótima visão quando ela inconscientemente se inclinava sobre o tabuleiro de xadrez.

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