No dia que se seguiu, enquanto os alegres homens do bando conferiam os despojos de seu saque ao castelo, Robin Hood não conseguiu deixar de pensar na Princesa. O que levaria a herdeira daquela imensa fortuna a ajudar bandidos a despojá-la? Ele já tinha ouvido diversos rumores a respeito da generosidade de Branca de Neve, mas jamais teria pensado que ela se importasse tanto com os pobres do reino, a ponto de revelar aos ladrões um caminho secreto para entrar e sair do castelo, caso decidissem saqueá-lo de novo.
Robin estava francamente tentado a percorrer novamente aquele túnel escuro, mas a ideia de entrar novamente na câmara do tesouro sequer lhe passava pela cabeça. O que ele não daria para ver outra vez o belo rosto da doce Princesa Branca de Neve...
No dia seguinte, ainda de madrugada, os homens de Robin Hood partiram para Blackwood, um dos ducados vizinhos, levando numa carroça os objetos de ouro, prata e as joias que subtraíram do castelo do Rei, sabendo que não seria fácil encontrar um comerciante nas redondezas disposto a comprar tais artigos roubados, exceto, muito provavelmente, o Príncipe Negro, um homem cuja fortuna e o título foram conquistados com produtos de saque, e que se orgulhava por continuar a enriquecer seus cofres com objetos e joias saqueadas de seus inimigos.
Era uma viagem de dois dias até o castelo do Príncipe Negro, de onde o bando esperava retornar com diversos sacos de moedas de ouro e prata, que seriam imediatamente distribuídas entre os pobres do Reino.
Graças a isso, durante algum tempo, Branca de Neve não precisou se preocupar em desviar comida da cozinha do castelo para auxiliar os mais necessitados do reino. O que dificultou o plano de Robin Hood de vê-la fora do castelo, mesmo que só por um instante.
– Vai se meter numa tremenda encrenca, meu amigo, estou avisando – disse Pequeno John, quando Robin observava o portão de serviço do castelo uma manhã, da margem da floresta.
– Não sei do que está falando – desconversou Robin.
– Você está procurando ocasião para paquerar a Princesa – observou o amigo.
– Só estou tentando agradecer... por nos ajudar... no outro dia.
– Sei... Até já imagino o que vai dizer: "obrigada, Alteza, por nos ajudar a tornar os pobres do reino mais ricos, e Vossa Alteza mais pobre".
– Pode rir! – disse Robin, sem se abalar. – Mas eu gosto de demonstrar minha gratidão.
– Deixe-me te dar um conselho: escolha qualquer donzela do reino, e eu garanto que será tua. Mexa com a Princesa, e eu não dou dois dias para tê-lo pendurado no cadafalso.
– Isso se conseguirem me pegar.
– Está colocando seu pescoço na corda!
– Por algumas mulheres vale a pena.
– Já viu os cartazes?
Algumas semanas antes, os homens do rei cumpriram sua ordem, espalhando cartazes por todo o reino, com um desenho bastante mal feito do rosto de Robin Hood – em defesa do artista, é preciso dizer que as pessoas na corte não faziam nem a mais remota ideia de quais eram as feições do nobre ladrão; os boatos davam conta de um homem na casa dos quarenta anos, de barba cheia, cabelos rareando nas têmporas, ligeiramente grisalhos, e grosso bigode; muito diferente do rapaz de pouco mais de vinte anos, bastos cabelos castanhos, e um modesto cavanhaque à moda francesa – oferecendo uma recompensa de cem moedas de ouro a quem lhe trouxesse o bandido vivo ou morto. Qualquer mercenário do reino daria a própria mão direita para apanhar essa recompensa.
– A única forma de você chegar perto da Princesa Branca de Neve, com cada guarda e mercenário do reino buscando a sua cabeça, é se você raptá-la do castelo. E, como seu amigo, sugiro que nem pense em fazer isso.
Pequeno John não sabia, naquela altura, mas esteve bem próximo de prever o futuro de Robin Hood.
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Branca de Neve e a Rainha das Trevas
Short StoryEra uma vez uma história que você já conhece: sobre uma Rainha que costumava consultar seu Espelho Mágico; uma Princesa que comeu uma maçã vermelha como sangue; e a inveja daquela que viu ameaçado o posto da mais bela de todas... Tem certeza que voc...