Uma Armadilha Na Floresta

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Naquela noite houve uma grande celebração na floresta. Um grande banquete foi preparado, e os homens pegaram seus instrumentos musicais, oferecendo as melhores canções às duas mais recentes hóspedes de seu bando. As mulheres e as crianças cantavam e dançavam, à luz das muitas tochas espalhadas em volta da clareira. O clima era de festa.

– Amigos, amigos... – Frei Tuck ergueu a voz, já um tanto alto por causa do vinho. – Um brinde... à Princesa que não morreu... e à Rainha, que na verdade, não era Má!

Todos ergueram seus cálices, empolgados.

– Há um lago lindo perto daqui – sibilou Branca de Neve ao ouvido da madrasta. – Minha ama costumava me levar até lá quando eu era criança. Ele reflete as estrelas à noite, fazendo parecer que o céu está no chão. Gostaria de ver?

A Rainha hesitou.

– Não há perigo – acrescentou Robin Hood. – Comigo e com a loba, não haverá fera ou homem que se atreva a perturbá-las.

– Vamos lá? – incentivou Branca de Neve, parecendo animada para aproveitar sua liberdade tão desejada.

– Está bem – concordou a Rainha.

As trilhas da floresta eram sinuosas, e uma pessoa podia facilmente se perder se não conhecesse as árvores ao seu redor, ou não estivesse acompanhado de alguém que as conhecesse, ainda mais na noite escura, sem lua, mas o lago não ficava muito longe da clareira.

Ao fim de uma trilha, descortinou-se uma paisagem maravilhosa: um belíssimo lago, cercado por flores silvestres. As estrelas refletiam na superfície do lago, dando a ilusão de que se podia mergulhar na imensidão do céu.

– Eu não disse que era lindo? – disse Branca de Neve, ao ver o olhar maravilhado da Rainha.

– Parece mesmo um espelho – assentiu a Rainha. Normalmente, essa semelhança a teria deixado assustada, mas não num lugar tão bonito.

– E parece que não é o único espelho nesse lugar – disse Robin Hood, afastando-se alguns passos, e olhando na direção de uma trilha paralela à que usaram para chegar ao lago. Entre as árvores no início da trilha, alguém posicionara um grande espelho sobre um cavalete. – Devem tê-lo posto aí nos últimos dias, porque eu nunca o vi aqui antes.

O coração da Rainha Má errou uma batida ao reconhecer aquele espelho. Ela deu alguns passos adiante dos outros, rezando intimamente para estar errada.

– Engraçado... – prosseguiu Robin Hood, ainda encarando o objeto brilhante à distância. – Ele se parece com o espelho que eu vi guardado na câmara do tesouro do Rei...

Um ganido escapou da garganta de Robin Hood. A Rainha se voltou num átimo, a tempo de vê-lo cair, engasgado com o próprio sangue. O nobre ladrão tombou sobre a relva, com uma profunda ferida na jugular.

A adaga usada para feri-lo, estava erguida, banhada em sangue, nas mãos de Branca de Neve.

– Eu avisei que era um erro se apaixonar por mim – disse a Princesa, encarando o cadáver à sua frente.

Os olhos da Rainha Má saltaram nas órbitas, ao se dar conta da armadilha na qual caíra.

– Quanto tempo, Katherina – disse uma voz às suas costas.

A Rainha se voltou lentamente, para encarar seu demônio, mas já havia reconhecido a voz, antes mesmo de ver o rosto que a encarava da superfície do Espelho: Morgana.

Branca de Neve e a Rainha das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora