Agindo por impulso, e pela incontrolável necessidade de rever a Princesa, Robin Hood seguiu pelo caminho inverso através do túnel que utilizara para sair do castelo na noite do saque. Tinha visto diversas bifurcações, que certamente conduziam a partes diferentes do castelo. Descobriu um caminho que levava a uma passagem secreta no corredor norte, não muito longe da escada utilizada pelos criados para alcançar o terceiro andar, onde ficavam os aposentos reais. Uma vez lá em cima só tinha que ter sorte, para abrir a porta certa.
A porta da alcova de Branca de Neve.
E a razão porque Robin não gostava de contar com a sorte é que... Ela raramente o abençoava. Pelo menos, não diretamente.
A primeira porta que abriu era do quarto da Rainha. Da Rainha Má, de acordo com as más línguas do reino. Felizmente, ela não estava no quarto.
Em vez disso, ele se deparou com uma criada; uma daquelas gentis moças que faziam a limpeza, e, eventualmente compartilhavam preciosas informações sobre as artimanhas do Rei para proteger seus tesouros.
– Que está fazendo aqui, seu doido? – sussurrou ela.
– Estou procurando a alcova da Branca de Neve – disse ele, espiando ao redor, e constatando que estavam sozinhos.
– Por quê?
– Quero retribuir uma gentileza.
– Você só pode ter enlouquecido.
– Bem, eu vou encontrá-la com ou sem ajuda; mas preferia fazer isso sem ser pego.
A criada hesitou um instante.
– Espero que não esteja planejando nenhuma bobagem – disse ela, conduzindo-o para fora.
Depois de espiar o corredor e se certificar de que não havia ninguém à vista, ela indicou o caminho.
– Vire à esquerda no corredor, é a última porta.
Bem longe do quarto da Rainha, que, segundo diziam, tentava matá-la desde o berço.
– Mas é bom saber que é o aposento mais bem vigiado do castelo. Mais do que a câmara do tesouro.
Isso dificultaria as coisas. Mas ele poderia dar um jeito.
– Obrigado, Maude. Então, talvez você possa me ajudar com outra coisa...
Robin Hood precisou fazer um pequeno desvio, penetrando as entranhas do castelo para pôr em prática o seu plano. E minutos mais tarde, uma criada ligeiramente gorda, e um pouco mais alta que a maioria teve sua entrada autorizada no quarto de Branca de Neve pelo soldado que guardava a porta.
– Já estou preparada para dormir, Clarisse, não precisa mais se preocupar – disse a princesa, escovando os belos cabelos negros diante do espelho.
– Lamento, Princesa, mas não sou quem está pensando – disse Robin, despindo o xale com que cobrira a cabeça, e em cuja sombra mantivera o rosto escondido. – Por favor, não grite!
– Não pretendia – disse Branca de Neve, calmamente, repousando a escova sobre o toucador. A loba, que jamais saía do lado da Princesa, aproximou-se do ladrão, farejando-o com os dentes à mostra. – Está tudo bem, Freya.
– Você tem um lobo de estimação? – surpreendeu-se Robin.
– Está mais para uma guardiã. Para o caso de os guardas não serem suficientes.
– Sério? Seu pai é desconfiado assim?
– Não. Na verdade, a loba apareceu no castelo quando eu era pequena. E desde então, tem me protegido. Os criados dizem que ela foi enviada por algum anjo divino para me proteger da Rainha Má. De fato, Freya não gosta dela.
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Branca de Neve e a Rainha das Trevas
Short StoryEra uma vez uma história que você já conhece: sobre uma Rainha que costumava consultar seu Espelho Mágico; uma Princesa que comeu uma maçã vermelha como sangue; e a inveja daquela que viu ameaçado o posto da mais bela de todas... Tem certeza que voc...