Desta vez, a Rainha Má estava pronta para enfrentar seu destino. Os guardas relataram ao rei que a surpreenderam na cripta, junto ao corpo da Princesa, e acusaram-na de ter usado algum tipo de bruxaria para fazer o cadáver de Branca de Neve se desfazer em pó. Todos no castelo comentavam que a Princesa fora vítima do Mal da Bruxa, e agora já sabiam quem a tinha amaldiçoado.
Katherina não pronunciou uma palavra. Não fez questão de se defender. O Rei a condenaria à morte, e ela seria muito bem-vinda depois de vinte anos encerrada detrás dos muros daquele castelo.
Assim, Katherina Mondragón, a Rainha Má, foi levada ao cadafalso, ao pôr do sol do dia seguinte, condenada à morte por ter assassinado Branca de Neve.
Uma sentença que não chegou a se cumprir, pois a própria Princesa, auxiliada pelo bando de Robin Hood, invadira a praça para resgatá-la.
Quando despertou no complexo de cabanas suspensas entre as copas das grandes árvores ao redor da clareira que servia de refúgio aos ladrões, pela primeira vez em anos, a Rainha se sentiu livre.
– Espero que tenha dormido bem – disse Branca de Neve, na entrada da cabana.
Usava roupas que seguramente lhe foram dadas por alguma das mulheres do bando. Seu rosto não exibia qualquer sinal de que estivera "morta" recentemente. Todas as manchas negras, a coloração acinzentada, os lábios escuros e rachados, tudo desaparecera. Branca de Neve voltara a exibir a pele alva como a neve, os lábios vermelhos como sangue e a energia viva que sempre tivera.
– Não tão bem quanto você, suponho – respondeu a Rainha, sorrindo.
– Realmente, aquele foi um sono de beleza e tanto – concordou Branca de Neve. – Obrigada. E obrigada por não denunciar minha fuga.
Apesar de saber que não poderia mais voltar para ver o filho, Katherina estava aliviada por ter finalmente deixado sua prisão.
– Seja bem-vinda ao nosso humilde lar, Majestade – disse Robin Hood, aproximando-se e passando um braço ao redor dos ombros da Princesa, depositando-lhe um beijo carinhoso na testa.
– Obrigada – disse a Rainha. – Mas não pretendo ficar.
– Você não pode voltar ao castelo – disse Branca de Neve, confusa.
– Eu quero distância daquele lugar – concordou a Rainha. – Não. Mas tenho duas irmãs que vivem na floresta, fora do reino. Pretendo me juntar a elas.
– Nunca soube que você tinha família – estranhou Branca de Neve.
– Se eu tivesse dito, provavelmente elas estariam mortas agora.
– Fique pelo menos por esta noite – pediu Branca de Neve. – Os rapazes estão preparando um banquete para comemorar nossa fuga. Você esperou vinte anos para rever suas irmãs. Que diferença fará uma noite a mais?
– Bem... Você tem razão – concordou a Rainha.
Naquela tarde, enquanto as mulheres preparavam os acompanhamentos da ceia, um corvo pousou no galho de uma da árvores, grasnando animadamente.
– Que ave agourenta – murmurou Pequeno John, tensionando o arco para flechá-lo.
– Não, por favor, não o machuque – deteve-o a Katherina. – É um mensageiro de minhas irmãs. – E voltando-se para o pássaro, acrescentou: – Amanhã irei encontrá-las.
O corvo abriu as asas e grasnou em resposta, partindo em seguida.
– Estou com um mau pressentimento – disse Pequeno John ao ouvido de Will Scarlett.
– Então somos dois – concordou o rapaz. – É uma péssima ideia abrigar essa bruxa conosco.
– Ei, maricotas! – surpreendeu-os Frei Tuck. – Não fiquem cochichando sobre a convidada. Alguém pode ouvir.
– Vai me dizer que você também não fica desconfiado? – desafiou Will.
– Por que eu deveria? Ela não envenenou a Princesa, no fim das contas. Branca de Neve está viva, e muito bem de saúde, pelo visto. Ela sobreviveu ao "mal da bruxa".
– Não sei... – insistiu Will, pensando com seus botões. – Isso está parecendo muito estranho. As mulheres que foram acometidas por esse mal anos atrás morreram, de fato. Como a Princesa sobreviveu?
– Ela tem um bom anjo da guarda – sugeriu Frei Tuck.
– Só se for aquele lobo que a segue como uma sombra. Mas Will tem razão. Está tudo bem demais para ser verdade...
Pequeno John não fazia ideia de como sua intuição estava certa...
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Branca de Neve e a Rainha das Trevas
Short StoryEra uma vez uma história que você já conhece: sobre uma Rainha que costumava consultar seu Espelho Mágico; uma Princesa que comeu uma maçã vermelha como sangue; e a inveja daquela que viu ameaçado o posto da mais bela de todas... Tem certeza que voc...