Subitamente, o castelo inteiro começou a tremer, incontrolavelmente. Morgana desabou sobre o tapete, impulsionada pelo terremoto. A adaga, fugindo de suas mãos, foi cair embaixo da cama, fora de seu alcance.
– Morgana? – indagou o Rei, debilmente, lutando para abrir os olhos. Através das pálpebras semicerradas e da escuridão, ele via o vulto da esposa caída no chão do quarto. – O que está fazendo aqui?
Lá fora, o vento chacoalhava as árvores na floresta, quase arrancando-as pela raíz. Trovões rasgavam o céu. A chuva caía como lâminas de aço sobre a terra. As estruturas do castelo tremiam, como se toda a fortaleza estivesse a ponto de desabar.
Pela janela da alcova do Rei, Morgana viu o espectro da morte se erguer, e mergulhar, atravessando o vidro em sua direção.
– Maldição! – bradou a Rainha, virando-se rapidamente, tropeçando nas saias da camisola ao se levantar, e correndo para fora do quarto.
Todas as velas foram apagadas por um vento frio como a morte, mergulhando o castelo na mais completa escuridão. E apesar disso, Morgana sentia, mais do que via a sombra perseguindo-a enquanto corria o mais rápido que suas forças ainda débeis permitiam para fora do castelo.
Somente ao atravessar os portões do cemitério do povoado, Morgana se permitiu parar um instante para recuperar o fôlego. Estava em solo consagrado. Ali a Morte conjurada não poderia entrar.
A feiticeira se voltou para o portão, afastando-se passo a passo, de costas, mais para dentro do cemitério. Um forte trovão iluminou o terreno do lado de fora, e ela pôde ver nitidamente a Sombra pairando diante do portão, sem poder atravessá-lo.
Outra gargalhada, mais deliciosa que a primeira ecoou pela noite, enquanto a Rainha encarava a sombra inerte, impotente, do lado de fora.
– Você não pode me vencer! – gritou a feiticeira para a escuridão. – Eu ainda serei sua senhora!
Enquanto a Rainha gargalhava, ela não percebeu que seus pés se emaranhavam nas raízes do canteiro de abóboras que o coveiro plantara junto à estátua do anjo de pedra no meio do cemitério. O guardião dos mortos, de asas abertas, foi a única testemunha naquela noite tétrica.
Enquanto a tempestade rugia, e os relógios do castelo ecoavam as doze badaladas daquela meia-noite sombria, longe dali, na cabana no meio da floresta, as irmãs bruxas terminavam de recitar o cântico fatal.
Quando Morgana percebeu, já era tarde demais.
As abóboras subitamente ganharam vida; se levantaram sobre as raízes, e devoraram a Rainha viva!
O castelo finalmente parou de tremer. Então a Sombra se dissipou, e com ela, a tempestade.
Na alcova da Rainha, a alma que Morgana aprisionara no Espelho, finalmente, fora libertada.
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Branca de Neve e a Rainha das Trevas
Short StoryEra uma vez uma história que você já conhece: sobre uma Rainha que costumava consultar seu Espelho Mágico; uma Princesa que comeu uma maçã vermelha como sangue; e a inveja daquela que viu ameaçado o posto da mais bela de todas... Tem certeza que voc...