A Hora das Bruxas

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Morgana não sabia, mas outras forças agiam no Reino, para impedi-la de concretizar sua sórdida ambição.

Não muito longe do Castelo do Rei, numa cabana no meio da floresta, duas irmãs feiticeiras, Theodora e Cassandra, preparavam-se para uma grande batalha, quando o corvo pousou na janela aberta, grasnando e abrindo as asas vigorosamente.

– Chegou a hora – disse a primeira irmã, Cassandra.

– A hora em que as forças do mal estão fragilizadas – concordou a segunda irmã, Theodora.

– Enquanto o corpo debilitado luta para se regenerar...

– Um coração perverso vamos para sempre amarrar.

Enquanto declamavam os versos do feitiço, as irmãs jogavam os ingredientes no imenso caldeirão negro.

– A papoula negra sua magia adormecerá.

– A maçã podre seu corpo enfraquecerá.

– Ossos de um cadáver sua ruína atrairá.

– E nas profundezas sua alma aprisionará!

– Esta noite, o mal cairá.

– Morte inocente não se concretizará.

– Uma alma perdida vamos libertar.

– E nas trevas da morte o coração perverso para sempre jazerá!

Um trovão ensurdecedor ecoou pelo reino, ao mesmo tempo em que um raio atingia o jardim do castelo. Da fenda que se abrira na terra, uma sombra emergiu, faminta e furiosa. Era a morte, sedenta pelo sangue de Morgana.

A feiticeira, que nada sabia desta trama, sentia que suas forças retornavam rapidamente. A expectativa de ver seu intento realizado, fez com que se levantasse da cama pouco antes da meia-noite. A criança recém-nascida dormia profundamente em seu berço, no quarto contíguo, assistida por uma criada que a Rainha ouvia ressonar baixinho pela festa da porta. Era a hora perfeita. Com a tempestade furiosa caindo e rugindo lá fora, nenhum guarda seria capaz de escutar nem o mais estridente grito do Rei.

De posse da adaga afiada, Morgana se esgueirou pelo corredor escuro até o aposento onde o Rei John dormia profundamente, ignorante de que a morte o espreitava.

Naquele momento, toda a paixão, toda a loucura que despertara com seu feitiço a enojou, e ela ergueu sobre ele a lâmina da adaga. Era chegada a hora.

A hora de assassinar o Rei.

Branca de Neve e a Rainha das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora