juntos e Misturados

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Penelope quase teve que correr para acompanhá-lo enquanto era puxada para o outro lado da sala de estar, passando pela porta e pelo corredor, até os dois chegarem a uma salinha decorada em tons de lavanda. Lá dentro, ele a soltou, atravessou o cômodo e parou diante das janelas, enfiando as mãos nos bolsos.

O silêncio a deixou ainda mais nervosa enquanto Colin encarava o gramado do jardim com uma expressão grave, exibindo um perfil hostil, ameaçador.

Ela sabia que ele estava tentando encontrar uma desculpa para evitar o casamento, e também sabia que, debaixo daquela tensa fachada controlada, havia uma raiva terrível, vulcânica — uma raiva que sem dúvida seria direcionada a ela a qualquer instante. Envergonhada até o fundo da alma, Penelope esperou, impotente, observando enquanto ele erguia uma das mãos e massageava os músculos tensos do pescoço, sua expressão se tornando mais sombria e assustadora a cada segundo.

O rapaz se virou tão de repente que ela deu um passo para trás.

— Pare de se comportar como um coelho assustado — ralhou ele. — Sou eu quem está preso numa armadilha, não você.

Uma calma extrema se apossou de Penelope, banindo tudo menos a sua vergonha. Seu pequeno queixo se ergueu, sua coluna se empertigou, e Colin viu que ela lutava para se controlar — uma luta que conseguiu vencer.

Agora, a garota diante dele tinha o ar incongruente de uma rainha orgulhosa e infantil em seus trapos reformados, os olhos brilhando como duas joias.

— Eu não pude falar nada na outra sala — começou ela com apenas um leve tremor na voz —, porque minha mãe jamais permitiria, mas se o senhor não tivesse pedido para conversar em particular comigo, eu pediria.

— Então diga logo o que quer dizer.

O queixo de Penelope se ergueu ainda mais diante do tom gélido da voz dele. Por algum motivo, ela se permitira a esperança de que o Rapaz não lhe trataria com o mesmo desdém brutal com que tratara sua família.

— A ideia de nos casarmos é ridícula — disse ela.

— Com certeza — rebateu ele, arrogante.

— Somos de dois mundos diferentes.

— Acertou de novo.

— O senhor não quer se casar comigo.

— Na mosca mais uma vez, Srta. Featherigton — anunciou

— Eu também não quero me casar com o senhor — rebateu ela, humilhada até o último fio de cabelo por cada palavra indelicada que ouvia.

— Isso é muito sábio da sua parte — concordou ele, cáustico. — Eu seria um péssimo marido.

— Na verdade, não quero ser esposa de ninguém. Quero ser professora e  me sustentar sozinha.

— Que extraordinário — zombou ele. — E eu passei esse tempo todo achando que o sonho de todas era arrumar um marido rico.

— Eu não sou como todas.

— Percebi isso no instante em que a conheci.

Penelope ouviu o insulto naquela resposta com palavras propositalmente lisonjeiras e quase engasgou de tanta decepção.

— Então estamos resolvidos. Não vamos nos casar.

— Pelo contrário — disse  Colin , e cada palavra ressoava com uma fúria amargurada. — Nós não temos escolha, Srta. Featherigton. Sua mãe vai fazer exatamente como ameaçou. Ela vai prestar queixa contra mim pra toda a sociedade. Para me punir, vai destruir você.

— Não, não! — disse penelope, afobada. — Nada disso vai acontecer. O senhor não conhece minha mãe. Ela é... doente, jamais se recuperou da morte de papai. — Sem perceber, a moça agarrou a manga do imaculado paletó cinza do duque, seus olhos implorando, a voz urgente. — O senhor não pode deixar que o forcem a casar comigo. Vai acabar me odiando para sempre, sei que vai. As pessoas vão esquecer o escândalo, percebe? Todos vão me perdoar e seguir em frente. A culpa foi minha por ter feito a estupidez de desmaiar e precisar ser levada para a estalagem. Nunca desmaio, mas tinha acabado de matar um homem, e...

Say You'II remember meOnde histórias criam vida. Descubra agora