PENELOPE GIROU NUM redemoinho de seda verde quando Colin entrou na sala de estar, e seu sorriso radiante diminuiu um pouco ao notar a rigidez do maxilar trincado do marido e o brilho frio de seus olhos.
— Aconteceu... aconteceu algum problema, Colin?
Ao ouvi-la pronunciar seu nome com suavidade, os músculos do rosto dele ficaram tão tensos que sua bochecha começou a vibrar.
— Problema? — repetiu o duque com cinismo enquanto seu olhar percorria o corpo da esposa numa análise ofensiva, inspecionando seus seios, sua cintura e seu quadril antes de voltar para seu rosto.
— Problema algum — respondeu ele com uma indiferença desdenhosa.
A boca de Penelope ficou seca, e seu coração disparou de nervosismo enquanto sentia que Colin tinha se distanciado, como se a proximidade, o carinho e as risadas que os dois compartilharam nunca tivessem existido.
Em pânico, ela tentou recuperar aqueles sentimentos e pegou a garrafa de vinho sobre a mesa.
O marido dissera que gostava quando ela cuidava dele, então Penelope fez a única coisa em que conseguiu pensar. Servindo a bebida, ela se virou e lhe ofereceu a pequena taça, abrindo um sorriso vacilante.
— Quer um pouco de vinho?
Os olhos de Colin soltaram faíscas enquanto fitavam a taça, e o nervo em sua bochecha começou a pulsar.
Quando ele voltou a encarar seu rosto, Penelope deu um passo para trás ao ver a agressividade inexplicável estampada naquele olhar. Focado nela, o marido pegou a bebida.
— Obrigado — disse ele um segundo antes de a haste frágil da taça quebrar em sua mão.
Penelope soltou um gritinho de susto e virou, procurando algo para secar o xerez que caíra no belo tapete, antes que o manchasse.
— Esqueça — ralhou Colin, segurando seu cotovelo e girando-a para encará-lo. — Não importa.
— Não importa? — repetiu Penelope, confusa. — Mas...
Num tom baixo e sem qualquer emoção, ele disse:
— Nada importa.
— Mas...
— Vamos jantar, meu bem?
Ignorando seu pânico cada vez maior, Penelope concordou com a cabeça. Ele fizera “meu bem” soar ironicamente.
— Não, espere! — exclamou ela, nervosa. E acrescentou com timidez: — Quero lhe dar uma coisa.
Veneno?, pensou Colin com sarcasmo, observando-a.
— Isto — disse Penelope, esticando a mão na direção dele.
Em sua palma estava o valioso relógio de ouro do avô. Erguendo os olhos brilhantes para encontrar os do marido, ela continuou, hesitante:
— Quero... quero que fique com ele.
Por um instante horrível e assustador, ela achou que Colin fosse recusar o presente.
Em vez disso, o rapaz tirou o relógio de sua mão e o jogou dentro do bolso do paletó sem qualquer cuidado.
— Obrigado — disse ele, cheio de indiferença. — Presumindo que ele marque as horas com precisão, já estamos trinta minutos atrasados para o jantar.
O choque e a mágoa de Penelope diante daquela reação foram tamanhos que ela não teria se sentido pior caso o marido tivesse lhe dado um tabefe. Submissa, apoiou a mão no braço que ele oferecia e se deixou ser guiada até a sala de jantar.
Durante a refeição, a jovem tentou se convencer de que estava apenas imaginando aquela mudança de humor. Quando Colin não a levou para a cama para fazerem amor, ela não conseguiu dormir, tentando entender o que acontecera para o marido encará-la com tanta aversão.
No dia seguinte, quando ele parou completamente de lhe dirigir a palavra, exceto quando absolutamente necessário durante as refeições, Penelope resolveu deixar o orgulho de lado e perguntar o que fizera de errado.
O Rapaz ergueu o olhar dos papéis em sua mesa, furioso com a interrupção, analisando-a enquanto ela permanecia diante dele como uma pedinte suplicante, escondendo as mãos trêmulas atrás das costas.
— Errado? — repetiu ele na voz fria de um completo desconhecido. — Não há nada de errado, Penelope, além do momento da sua pergunta. Eu estou trabalhando, como você pode ver.
— Eu... Desculpe
— Sendo assim — ele indicou a porta com a cabeça —, se não se importar...
Penelope aceitou aquela deixa grosseira para ir embora e não tentou conversar com o marido até a noite, quando o ouviu entrar no quarto.
Reunindo toda a coragem, ela vestiu um roupão, abriu a porta que ligava seus aposentos e foi até ele.
Colin estava tirando a camisa quando viu o reflexo da esposa no espelho, e virou-se para ela.
— Sim, o que foi?
— Colin, por favor — implorou Penelope, aproximando-se dele, uma sedutora inocente com o cabelo caindo nos ombros, balançando de um lado para o outro contra o cetim cor-de-rosa do robe enquanto ela chegava mais perto. — Diga o que fiz para irritá-lo.
Colin fitou aqueles olhos azuis e apertou os punhos enquanto lutava contra o impulso de esganá-la por sua traição e outro mais forte, de levá-la para cama e passar uma hora fingindo que ela ainda era sua esposa descalça, encantadora e fascinante.
Ele queria abraçá-la e beijá-la, cercar-se dela e se perder em seu corpo, esquecendo os últimos dias que passara no inferno. Só por uma hora.
Mas não podia, porque era incapaz de ignorar a imagem torturante de Penelope e Ethan entrelaçados, planejando seu assassinato. Nem mesmo por uma hora.
Nem por um minuto.
— Não estou irritado, Penelope — disse ele, gélido. — Agora, vá embora. Quando eu quiser sua companhia, aviso.
— Está bem — sussurrou ela, dando as costas para o marido.
E seguiu de volta para sua cama, tentando manter uma dignidade sofrida enquanto as lágrimas a cegavam.
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Say You'II remember me
RomansaColin Bridgerton deixou Londres há dois anos, fugindo da vergonha de uma traição que sofreu. Desiludido e com o coração partido, ele decide renunciar ao amor e tudo que ele possa proporcionar. Após uma longa conversa com sua família ele precisa reto...