— O QUE ESTÁ SEGURANDO o trânsito? — perguntou Colin para o motorista da carruagem que o capitão do Falcão colocara ao seu dispor e que o levava com uma lerdeza irritante para sua casa
— Não sei, senhor. Parece ter algo acontecendo naquela igreja lá atrás.
Colin olhou para o sol de novo, tentando adivinhar as horas. Fazia mais de um ano que não tinha o luxo de carregar um relógio, apesar de ser dono de pelo menos seis peças de ouro maciço a que nunca dera valor. Ele nunca dera valor a nada. Porém, depois de quase 11 meses de privações, duvidava de que seria capaz de desmerecer qualquer coisa.
A paisagem e os sons de Londres, que tanto lhe agradavam desde que entrara na cidade uma hora atrás, começaram a perder o foco enquanto ele pensava no susto que estava prestes a causar naqueles que o amavam.
Sua mãe ainda estava viva — Colin arrancara essa informação do capitão do Falcão, que dissera ter lido no jornal que a velha senhora passaria a temporada em Londres. Com sorte, ela estaria na própria casa, não na dele, pensou Colin, de forma que pudesse lhe mandar uma mensagem primeiro em vez de aparecer de repente.
De todas as coisas que estavam por vir, a conversa com sua jovem “viúva” era a única coisa com que Colin realmente se preocupava. Sem dúvida, a devoção infantil que ela sentia por ele lhe causara um sofrimento extremo e prolongado após sua morte.
Colin sabia que a esposa teria mudado durante sua ausência, mas esperava que as transformações não fossem muitas nem drásticas demais. Ela já teria amadurecido e se tornado uma mulher agora, com idade suficiente para ter as responsabilidades de um marido e filhos.
Ele mesmo a traria para Londres e a apresentaria à sociedade.
Mas os dois não passariam muito tempo na cidade.Agora, Colin sabia o que era importante e o que não era, sabia o que queria — provavelmente, o que sempre quisera. Ele queria uma vida que significasse algo e um casamento de verdade, não o relacionamento raso e vazio que a maioria das pessoas de seu convívio tinha. E queria mais do amor que Penelope tentara lhe oferecer — o amor que lhe dera um motivo para lutar pela sobrevivência.
Por sua vez, ele pretendia mimá-la, lhe dar prazer e mantê-la sempre consigo, a salvo dos efeitos corrosivos do mundo exterior. Ou era nesse ponto que a confiança entrava?
Será que um homem deveria confiar que sua esposa não mudaria e permaneceria leal independentemente de onde e com quem estivesse?
Era óbvio que sim, decidiu Colin. Ele não tinha muita experiência em confiar nas pessoas, que dirá em amá-las, mas Penelope fazia tudo isso com destreza e se oferecera para ensiná-lo. Agora, Colin estava disposto a aprender.
Ele tentou imaginar a aparência da esposa agora, mas só conseguia ver seu rosto risonho, dominado por um par de olhos magníficos, da cor de água-marinha. Um rosto que era quase bonito, mas nem tanto. Seu “rosto engraçadinho”. Ela teria passado um tempo de luto, ele sabia, e mais seis meses aprendendo como se comportar na sociedade com a mãe. Só agora estaria se preparando para o début na sociedade, durante a temporada menor no outono, presumindo que a Lady Bridgerton honrara o desejo do neto de vê-la mais “refinada”.
Era bem mais provável, e mais alarmante, pensou colin, melancólico, que Penelope estivesse tão arrasada que tivesse voltado para a velha casa em Bloomsburry — ou se excluído completamente da companhia das pessoas — ou, meu Deus, enlouquecido depois de tudo pelo que passara!
A carruagem parou diante da Mansão Bridgerton , e Colin saiu, fazendo uma pausa diante dos degraus da frente para observar a elegante mansão de pedra de três andares, com a decoração graciosa de ferro ornamental e janelas salientes. Tudo ali lhe parecia familiar e, ao mesmo tempo, tão estranho.
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Say You'II remember me
RomansaColin Bridgerton deixou Londres há dois anos, fugindo da vergonha de uma traição que sofreu. Desiludido e com o coração partido, ele decide renunciar ao amor e tudo que ele possa proporcionar. Após uma longa conversa com sua família ele precisa reto...