Capítulo 8

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FLASHBACK OFF

Eu vivi todos os dias da minha vida esperando uma ligação do hospital dizendo que Mari havia acordado, mas ela não veio.

Eu me sentia culpada demais, mesmo com todos dizendo que a culpa não foi minha, e sim de um motorista bêbado que invadiu a pista na contramão e nos acertou em cheio. Não era justo que eu estivesse bem enquanto Mari estava numa cama de hospital.

Tudo piorou quando recebi uma ligação dos pais da Mari dizendo que a decisão de mantê-la em coma induzido, depois dos médicos, era minha. Os pesadelos que antes se resumiam a flashs do acidente, agora deram lugar a pesadelos com a Mari ora pedindo que eu a deixasse ir e ora pedindo para que eu não desistisse dela.

Foi difícil seguir a vida sem lembrar dela a todo instante, sair para qualquer lugar sem me questionar o motivo de estar ali era comum. Eu não conseguia fazer nada sem que uma enorme onda de culpa me inundasse e eu imagino o quão difícil tenha sido para minhas amigas lidarem comigo durante todo esse tempo, mas era mais forte que eu.

Elas sempre respeitaram meu tempo, embora vez ou outra me obrigassem a sair de casa para atividades que não envolvessem o escritório. Carol sempre fazia questão de me levar para as sessões de terapia, que segundo ela era pela companhia, mas eu sempre soube que era uma forma dela se certificar que eu não abandonaria o acompanhamento.

Eu estava irreconhecível e isso me afetava em todas as áreas da minha vida, mas eu não podia simplesmente fingir que nada tinha acontecido. Embora eu quisesse muito voltar a, pelo menos, estar com minhas amigas sem ressentimento.

O cenário mudou drasticamente quando eu vi Gabriela pela primeira vez. Os possíveis motivos rondavam pela minha cabeça, como uma pessoa que eu não conheço pode aliviar tanta coisa sem sequer ter consciência disso? O jeito leve e brincalhão arrancaram suavemente a culpa e provocaram incômodo. Gabriela definitivamente me incomoda. Eu quero estar perto e descobrir o que ela esconde por trás daqueles olhos que sorriem.

Entre um sermão e outro de Thaisa naquela tarde, Daroit veio checar como eu estava depois de ter me mandado algumas mensagens que eu acabei não vendo.

- Ela pegou muito pesado? - Daroit perguntou se sentando ao meu lado, inclinando o corpo em minha direção.

Ofereci um sorriso forçado. - Do jeitinho dela, né?!

- Ela só se preocupa com você, Sheillinha... Não foi fácil pra nenhuma de nós te ver do jeito que vimos, mas acredito que tenha sido ainda mais difícil para ela que passou noites em claro velando seu sono.

Sem me deixar falar, Daroit continuou. - Você pode não querer ouvir, mas eu preciso te dizer. Eu fico muito triste por tudo que aconteceu com a Mari, todas nós ficamos. Mas aconteceu com a Mari, não com você! E tudo acontece por uma razão, se você teve a sorte de sair ilesa, porque desperdiçar isso? Você pode estar sendo ingrata com a chance que teve... As vezes a gente precisa ver o lado bom das coisas e quando eu digo isso, não é pra que você veja a Mari como o lado ruim, apesar de ter sido, mas que preste atenção em você como o lado bom!

As lágrimas rolavam lentamente pela minha bochecha, o que fez com que minha amiga se aproximasse e me abrasasse. Depois de alguns minutos em silêncio, ela continuou num tom tão suave quanto só ela era capaz de falar. - Sabe, Sheillinha... Quando a Gabi chegou você se iluminou, por pequenos momentos era possível ver uma nova Sheilla. Nem a antiga que conhecíamos, nem a nova versão que só sabia se sentir culpada, mas uma nova, mais nitidamente incomodada, mas também mais alegre. Não estou dizendo para casar com a Gabizinha, mas porque não se dar uma chance de recomeçar? Mesmo que sozinha, você precisa recomeçar.

Come Bother Me - Sheibi Onde histórias criam vida. Descubra agora