Capítulo 20

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POV SHEILLA CASTRO

- Eu não tenho mais idade para chorar por amor, ainda mais por uma menina! - Dizia em meio a soluços, debruçada no colo de Daroit.

- E lá tem idade para sofrer? - Thaisa dizia sentada do outro lado do sofá, massageando meus pés.

- O amor não escolhe nada dessas coisas, Sheillinha! - Foi a vez de Gattaz, que estava sentada no chão de frente para mim, com a mão entrelaçada à minha.

- Como eu fui tão burra? Como eu me deixei tão vulnerável? Como eu fui capaz de deixar uma criança brincar comigo?! - Dizia alterando meu tom de voz, me irritando comigo mesma.

- Não, Sheillinha.. Não fala assim, a Gabi é incrível e não é um erro que vai mudar isso, nem tudo que ela fez por você.

- Daroit, a defensora dos pobres e oprimidos. - Thaisa balbuciou.

- Thaisa, a sem coração! - Daroit fez questão de falar alto.

- Ei, vocês duas? - Gattaz chamou atenção, as fazendo lembrar do verdadeiro problema.

- Eu estava tão preocupada em me manter fechada que nem a percebi se aproximando... - Falei em voz alta para mim mesma.

- Já que ninguém fala, eu vou falar! - Thaisa se endireitou no sofá. - Bora viver, meu anjo! Você é nova, bonita, goxxtosa, as mulheres de BH fariam fila por você, até as héteros, se bobear! Só depende de você, você é a dona do seu destino, só você pode fazer por você.

- Nossa, saiu diretamente de um livro de coach, né?! - Gattaz fez uma careta. - Mas eu concordo em partes, Sheillinha. Você é nova, bonita, vamos sair e conhecer gente nova ou vamos recuperar a Gabi, o que não dá é pra ficar aí chorando feito adolescente.

- Como vocês são insensíveis! - Foi a vez de Daroit. - Deixa ela chorar e depois, se ela quiser, ela decide o que vai fazer! Mas eu ainda acho que vocês precisam conversar melhor, é nítido que vocês se amam!

Minha cabeça estava prestes a explodir, meu rosto completamente inchado depois de ter passado o dia chorando e minha barriga doendo devido ao pote inteiro de sorvete que eu tomei sozinha. Uma típica cena de comédia romântica, tirando a parte de que não tinha comédia e nem romance!

Diferente dos filmes, a vida real não vem com script e nem sempre o outro segue o roteiro, a gente se machuca e dói. Como dói!

- Vocês tem razão, eu não posso e nem vou ficar aqui chorando. A Gabriela foi o meu recomeço, eu não não sabia que ela me entregaria ele de bandeja e iria embora, mas agora eu preciso continuar recomeçando. - Me sentei no sofá e prendi o cabelo num coque, respirando fundo.

- Finalmente! - Thaisa revirou os olhos, mas Gattaz e Daroit me olhavam com um olhar de piedade.

- Vamos sair para comer alguma coisa? - Daroit sugeriu e eu apenas assenti com a cabeça.

Caminhei em direção ao quarto, separei meu vestido amarelo preferido e tomei um bom banho, na esperança de que a água levasse toda a minha conversa de mais cedo com a Gabriela embora. Ver aquela mulher no apartamento dela me destruiu em tantos pedaços que eu não imaginei serem possíveis.

Chorei um pouco mais no banho, prometendo para mim mesma que aquela seria a última vez. Me arrumei e apareci na sala com um sorriso no rosto.

- Nossa, que gatinha! - Gattaz disse assobiando um fiu-fiu.

- Uma princesa! - Daroit disse vindo em minha direção me oferecer um abraço.

Saímos para um restaurante do outro lado da cidade,
para não correr o risco de encontrarmos conhecidos e aproveitamos uma espécie de luau que estava acontecendo lá.

No geral, consegui me divertir, camuflar a dor que eu estava sentindo e não pensar tanto em Gabriela.

Passei todo o fim de semana na companhia de minhas amigas e me permiti sofrer tudo que tinha pra sofrer, pretendendo começar uma nova etapa da minha vida na segunda-feira, mesmo sabendo que precisaria encarar Gabriela no escritório.

Aproveitei quando as meninas foram embora para colocar algumas coisas em ordem e guardei uns pertences de Gabriela que estavam na minha casa em uma caixa para devolvê-la. Algumas blusas, um moletom que ainda tinha seu cheiro, sua caneca do cruzeiro que sempre me incomodou, seu chinelo com a bandeira LGBTQIA+ estampada e a chave se seu apartamento.

Fechei a caixa e me permiti chorar mais um pouco, até que acabei pegando no sono e acordei somente com a luz do dia entrando pela janela do quarto, que dormiu aberta.

Mais um banho foi tomado na intenção de que minha alma fosse lavada, mas tudo ainda parecia tão igual. Me troquei, tomei café, peguei a caixa e sai em direção ao escritório.

Busquei Daroit no caminho e fomos conversando sobre alguns assuntos aleatórios, tentando não pensar em como seria o dia de hoje, como seria ver Gabriela e ter que lidar com o incômodo que ela me causava.

Coincidentemente, Rosa foi a primeira pessoa que eu vi ao chegar no escritório. - Bom dia, Rosa! - A cumprimentei naturalmente e recebi um olhar aconchegante. - Bom dia, Sheillinha!

Caminhei pisando em ovos até a minha sala e quando entrei, fechei a porta atrás de mim. Me sentei, respirei fundo e agradeci por não ter encontrado Gabriela.

Antes que eu pudesse ligar o meu computador e me afundar em trabalho, um papel dobrado sobre a mesa chamou a atenção. O desdobrei com cuidado e comecei a ler...

Preciso começar justificando o motivo pelo qual optei por escrever uma carta: acredito que as palavras escritas tem o poder de eternizar um momento ou uma sensação; e é isso que eu espero, que tudo que eu te conte aqui fique eternizado.

Sheilla, me apaixonar por você foi o momento mais feliz da minha vida. Me apaixonar por você me salvou! Assim como todo mundo, eu também tenho uma bagagem emocional da qual eu não me orgulho, mas faz parte de mim. Já amei e achei que fui amada, já trai e fui traída, já enganei e fui enganada depois que alguém passou por aqui e bagunçou o que eu achava ser um amor puro. Mas quer saber um segredo? Amores puros não existem, não quando são vivenciados por duas pessoas com marcas e mágoas, mas tudo bem, faz parte do ser humano querer alcançar o inalcançável.

Eu não fui feliz nas minhas decisões e elas me resultaram na sua perda e isso eu nunca vou esquecer. Eu falhei com você e falhei comigo, com a Gabriela que eu jurei nunca mais ser e eu vou precisar de um tempo para esquecê-la e construir, mais uma vez, uma nova Gabriela. É por isso que eu passei no RH hoje bem cedo e me desliguei do escritório, estou indo para o Rio passar um tempo com a família e recomeçar, mas não poderia ir sem antes te pedir desculpa!

Desejo que você recomece também, sempre que for preciso, sempre que quiser! Você tem dentro de si todos os recomeços e esse é um dos motivos pelos quais eu te amo.

Obrigada, Sheilla Castro.

- Sempre com amor, Gabriela Guimarães.

Eu passei todo o fim de semana idealizando nosso encontro, talvez no elevador, na sala de reuniões ou na cafeteria. Ensaiei as falas e me preparei para como fosse acontecer, só não me preparei para não vê-la mais. Eu não queria não vê-la mais.

Sai apressada da minha sala e desci até a garagem na esperança de ainda encontrar o carro dela lá, mas aparentemente era tarde demais.

Tentei, em vão, recuperar meu fôlego e conter as lágrimas. Em todos os cenários pelos quais já me imaginei com Gabriela, esse nunca sequer passou pela minha cabeça!

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Ninguém disse que seria fácil, né?! hahah

Vocês pediram e eu voltei bem rápido, então não se esqueçam de votar e comentar bastante!

Até o próximo capítulo! 😉

Come Bother Me - Sheibi Onde histórias criam vida. Descubra agora