Capítulo 7

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FLASHBACK ON (Aproximadamente um ano e meio atrás)

- Já estou pronta! - Falei fechando minha mala quando notei a presença da mulher em nosso quarto.

- Só vou vestir uma roupa e podemos ir. - Ela avisou deixando a toalha branca que cobria o seu corpo escorregar até o chão.

Marianne com certeza era uma mulher muito atraente e só um louco diria o contrário, mas há muito tempo eu não me sentia atraída por ela mais. Nós nos perdemos em algum ponto da nossa história e não conseguíamos nos achar de volta, então resolvemos, individual e inconscientemente, apenas insistir em algo que sabíamos não ter futuro para ver onde iria dar.

Desci a pequena mala de mão para o chão e caminhei em direção a porta. - Te espero no carro!

A rádio local tocava alguma música melancólica e chovia em Belo Horizonte. Fechei o porta-malas, corri em direção ao banco do motorista e fiquei ali por alguns minutos ouvindo a música e prestando atenção nos pingos insistentes que caiam na minha janela.

- Eu odeio chuva! - Marianne disse enquanto entrava no carro. A ofereci um sorriso de compreensão e dei partida no motor.

Enquanto eu dirigia em direção ao sítio de Carol minha mente viajava para o início da faculdade, quando conheci Marianne. Uma mulher alta e loira passeando pelos corredores me chamava atenção e me instigava ainda mais quando eu ouvia todos dizerem que ela não se envolvia com ninguém da faculdade. "Eu não sou "ninguém da faculdade", eu sou Sheilla Castro!" pensava comigo mesma...

Entre trancos e barrancos, no geral, nos entendíamos do nosso jeito. Foram algumas idas e vindas durante a faculdade até que ela me pediu em casamento um ano atrás para tentar consertar uma burrada que havia feito... Eu não esqueci a burrada, mas achei que se fôssemos morar juntas as coisas mudariam drasticamente e, bem... mudaram, só não dá forma como imaginei. Parece que estamos constantemente buscando por coisas distintas, tentando correr - sem sair do lugar, - para caminhos opostos.

- No que você está pensando? - A loira levou a mão até minha coxa e me ofereceu um afago.

- Em nada. - Menti.

- Acho que precisamos conversar... - Ela deixou escapar baixo, recolhendo a mão da minha coxa.

Respirei fundo sabendo que em algum momento essa conversa teria que acontecer. - Precisamos...

- Eu te amo. - Ela começou. - Eu te amo desde quando você tentava chamar minha atenção na faculdade. - Eu queria interrompê-la e dizer que eu não fazia isso, mas senti que pela primeira vez não tinha espaço para assuntos paralelos, se eu não a deixasse ir até o fim agora, não sei quando conversaríamos de novo.

As lágrimas começaram a cair no meu rosto enquanto eu segurava firme o volante e a ouvia atentamente.

- Mas eu sinto que perdi você. Sinto que de alguma forma nós nos apegamos as memórias boas que construímos e esquecemos de construir novas memórias, como se as antigas bastassem para nos manter vivas, mas elas não bastam...

- Eu sei... - Disse em meio às lágrimas silenciosas que insistiam em borrar minha visão. - Eu também te amo, Mari. Você foi o meu primeiro amor, foi com você que eu vivi coisas incríveis e, pela primeira vez, pensei em construir um futuro. Mas realmente, eu não sei se temos conserto mais...

Péssimo timing da música que começou a tocar na rádio, fazendo com que as lágrimas descessem com mais intensidade, ainda que num choro silencioso.

"Tá tão perto de chegar o fim
Então vem cá,
Deixa eu mostrar que não foi ruim assim..."

Mari soltou uma risada, mas mesmo sem desviar os olhos da estrada, pude perceber que ela também estava chorando. - Não foi mesmo tão ruim!

Come Bother Me - Sheibi Onde histórias criam vida. Descubra agora