Capítulo 25

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Outubro de 1835

Belinda olha para o buquê de rosas e pega o cartão, reconhecendo a letra de Kellan de imediato e pede para o mordomo enviar de volta para a casa Wexford.

Já havia perdido as contas de quantos buquês, livros, chocolates ele havia enviado para ela numa tentativa de se desculpar.

Ela devolvia todos, mesmo sabendo que no dia seguinte uma nova remessa apareceria ali. Belinda sentia o coração apertar toda vez que o mordomo aparecia com mais um presente de Kellan, mas nada daquilo seria suficiente para resolver o problema entre eles. Não contou para ninguém em sua casa o que havia acontecido, e tinha pedido para seus pais a liberarem por um tempo de participar dos bailes. Não sabia se seria capaz de ver Kellan sem começar a chorar.

E desde então ficava em casa lendo, recebendo os presentes dele e os devolvendo em seguida.

O mordomo bate à porta do escritório de Kellan, que na verdade já estava entreaberta. Ultimamente ele a deixava daquela forma para facilitar.

Havia virado uma espécie de rotina. Spencer chegava, batia à porta e meneava com a cabeça, e Kellan sabia que mais uma vez Belinda havia mandado devolver um de seus presentes. E aquele dia não foi diferente. O mordomo nega, e o conde suspira.

Podia até jurar que dessa ver o mordomo lhe dirigia um olhar cheio de pena, e ele não suportava aquilo. Quase dois meses que não a via ou falava com ela. Nenhuma notícia, nenhuma palavra. Nenhum: "Vá se catar, Kellan".

Até isso faria o coração dele se aquecer, qualquer coisa menos o silêncio colossal que ela lhe dava. Ia a todos os bailes, todos os saraus, recitais, jantares... Tudo. Às vezes emendava um evento no outro só na esperança de vê-la. Mas Belinda parecia ter sumido da face da terra.

Tinha outra coisa que ele poderia fazer, mas temia deixar tudo ainda pior, por isso nunca mais voltou a invadir a casa Hastings. Por mais que às vezes passasse com a carruagem na frente da mansão, encarando os portões e pensando na possibilidade de escalar uma árvore ou subornar um dos criados para ir até ela. Mas ele tinha certeza que isso só iria piorar a situação. A última vez foi a prova viva. Então pediu a Spencer para lhe aprontar a carruagem. Ia fazer um apelo a outra pessoa.

— Arhg, Kellan — geme Robert, esfregando as têmporas com força — Não sei se é uma boa ideia.

— Eu só posso contar com você, Robert...

Kellan não poupava o amigo de seus olhares infelizes. Se havia alguém que poderia interceder por ele, esse alguém era Robert Joliffe. O visconde era marido da irmã mais velha de Belinda, e de certa forma, próximo à ela.

— Eu sei, eu sei — Rob dá um gole em seu xerez —, vou ver o que posso fazer. Você sabe, não sou exatamente o confidente de Belinda e vai ser no mínimo estranho aparecer sozinho na casa Hastings pedindo uma palavrinha com a minha cunhada. Ah, sim, porque jamais vou envolver Amélia nisso. Ela seria capaz de me capar só por tocar no assunto.

Rob termina a frase com um sorriso malicioso.

— Bom, se ela não o fizer, quem vai capá-lo sou eu por se negar a me ajudar.

Kellan pisca várias vezes, tentando fazer uma expressão insolente, o que só faz Robert rir.

— Você está péssimo, lindão. Perdeu até o charme de fazer piadas. Quando for reencontrar Belinda, espero que recupere seu encanto, senão, ela vai realmente correr de você.

Kellan mostra o dedo do meio. Entre os seus amigos próximos, nenhum deles tinha exatamente boas maneiras.

— Vou ficar lhe devendo, Robbie — Kellan finalmente sorri.

Robert suspira mais uma vez e vira o copo.

Mais tarde, na casa Hastings, um Lowestoft muito desconfortável é recebido pelo mordomo.

— Vou chamá-la — disse Jeffries.

Belinda desce as escadas até a sala. Tinha estranhado Robert querer conversar com ela em privado. Pensou que talvez ele quisesse ajuda dela para algo relacionado a Amélia. Não estava com ânimo para esse tipo de coisa, mas estava sempre pronta para fazer alguma de suas irmãs mais felizes.

— Robert, boa tarde. Fiquei surpresa por ter me chamado. A que devo a sua visita?

— Belinda — Robert se levanta e faz uma mesura — Como se encontra? — pergunta ele sem jeito.

Ele aperta o chapéu entre as mãos.

— Ahn, por que não se senta? — a casa era dela, mas quem oferecia a cadeira era ele. Que ótimo!

Belinda olha para ele e começa a ficar desconfiada, quando ele oferece um lugar para ela se sentar.

— Estou bem. Você parece nervoso. Aconteceu alguma coisa?

— Não, nada de novo — ele sorri para Belinda e então fica sério — Acho que pode imaginar por que estou aqui, não?

Belinda fica pálida.

— Antes que você me mande tratar dos meus próprios assuntos, preciso dizer — ele suspira — Kellan sente muito, Belinda. De verdade. Olhe, o homem está sofrendo, ele quer ao menos vê-la. Nunca vi Kellan assim... E não, ele não sente coisa alguma por aquela... — Rob engole seu ódio — Ela é apenas uma ex-amante, e uma baita de uma mentirosa. Ele é meu amigo há anos, eu o conheço melhor que ninguém. Sei que ele a ama e se sente mal por ter mentido... Quer dizer, omitido.

Ele era um péssimo intermediário.

Belinda sente os olhos arderem e tenta segurar as lágrimas. Não gostou de ouvir que Kellan também estava sofrendo, apesar de tudo, ela o amava e não queria vê-lo sofrendo e nem ficar sabendo disso. Preferia não saber dele, assim poderia tentar se recuperar sem se sentir culpada.

Estava confusa com tudo que tinha acontecido e não queria incluir culpa no meio dos seus sentimentos.

E além disso, ficou indignada. Com Kellan, por envolver seu cunhado na história e com Robert, que provavelmente estava falando com ela desse assunto sem ter contado para Amélia que iria fazer isso.

— Bom, tenho certeza que está certo em algumas das coisas que afirmou, Robert. E uma delas é que este assunto não é da sua conta e espero que não tente interceder por ele novamente. Peço desculpas por estar sendo grossa com você, mas não quero conversar sobre este assunto com ninguém.

Ela se levanta e começa a andar pela sala.

— E já falei tudo que eu precisava com Lorde Wexford. Não sei por qual motivo ele está insistindo nesse assunto.

Ela olha para ele e começa a andar para fora da sala.

— Diga ao seu amigo para não te usar mais como intermediário pois eu não tenho nada para falar com ele — ela começa a sentir as lágrimas escorrendo pelo rosto — me desculpe Robert, mas eu preciso ir agora. Mande minhas lembranças à Amélia.

Ela então sai correndo para o quarto.

Robert não sabia se sentia muito pelo amigo ou se queria matá-lo por fazer ele se envolver nessa confusão.

Claro que amava o amigo e queria vê-lo feliz. Nunca imaginou que Kellan iria se apaixonar por alguém, muito menos que esse alguém fosse sua cunhada. Mas não podia evitar o desconforto de ter se metido no meio disso. Até porque, quando Amélia ficasse sabendo, as coisas não ficariam boas para o lado dele, e aí teriam mais um casal amargurado. Ele saiu frustrado da casa Hastings. A pior parte seria repassar a resposta de Belinda para seu amigo.


Autoria: Íris L. e Isadora F.

RPB: o RPG dos Bridgertons

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