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O trem passava pelas margens do Rio Pinheiros. Na mesa todos estavam rindo. Bebendo. Alguém jogou uma fumaça para o lado e ela veio no meu rosto, e então ele surgiu. Eu me levantei  para falar com ele. Ele estava tão lindo, vindo na minha direção. Eu não gostava muito de óculos escuros, mas aquele, no Bruno, ele ficava tão mais...

Eu o abracei mas só um dos seus braços me segurou, quando eu olhei para ele, ele sorriu e puxou o outro braço, e na mão dele havia outra mão.

Ela era um pouco mais baixa que eu, loira, olhos azuis, bochechas rosadas.

— Oi. Você deve ser amiga do Bruninho, né? Eu sou a Duda.

Eu não conseguia olhar para o Bruno. Me faltou ar. Parecia que eu ia desmaiar. Eu ouvia ela falando "Duda, sou a Duda"...

Eu acordei sem ar, sentada na cama. Um pesadelo desses só tinha me acontecido uma vez na vida. E esse foi horrível.

Eu enrolei para levantar e fui trabalhar sem a mínima disposição. Eu teria ficado na cama o dia todo.

— Vossa Excelência está com uma cara péssima. – Rose me fez uma careta.

— Eu não dormi muito bem hoje. – organizava a área de trabalho do computador para as próximas audiências.

— Então quer dizer que um certo loirinho está te dando trabalho? – Rose riu.

— Você sabe o quanto é estranho você chamar de "loirinho" um cara de 1,90  não é?

Ela riu e isso me descontraiu um pouco. Não o suficiente. Mas um pouco.

— Eu sei que ele está saindo com outra. – Eu disse sem olhar para minha amiga – Claro que não foi uma boa ideia olhar o Instagram dela antes de dormir.

— E porque você foi fazer isso?

— Eu não sei. Eu achei que fosse me sentir melhor mas... Agora, estou pior que nunca e eu não estou entendo o porquê dele estar comigo.

— Se essa pergunta fosse para mim, a resposta seria porque você é inteligente. – Luciano entrou na sala.

— Eu tenho certeza que sim. Porque se fosse por eu ser uma grandíssima gostosa, você não falaria.

Aquele não era o jeito do Luciano. E eu sabia disso. Luciano não era engraçadinho demais, ou atirado demais. Luciano não era que nem ele. Luciano era homem de uma mulher só, ou pelo menos uma por vez.

Me lembrei de quando ele namorou uma fiscal do trabalho, que estava de passagem pelo estado para investigar denúncias de trabalho escravo e afins. Luciano apenas me dava bom dia, e acho que foi assim por semanas até ela ir embora. Talvez se eles tivessem dado certo, ele nunca mais teria falado comigo.

— Mas, e aí? Você vai almoçar comigo?

Eu não ouvi se ele tinha ou não respondido minha pergunta.

— Claro. – Mas eu respondi a dele.

Rose chamou a próxima audiência.

— Nós vemos em duas audiências então. – Luciano piscou.

Talvez ouvir que eu não estava tão bem com o Bruno tivesse feito bem a ele. Luciano estava como o Luciano que eu conhecia, divertido mas sem perder o ar sério. Ele tinha uma pintinha na bochecha que sempre me fez perder o ar. Para o meu azar, tudo que eu achava de bom em um homem, Bruno tinha em dobro, mas dessa vez, as pintinhas na bochechas, ele tinha logo três.

Players - Com Bruno RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora